Governador Eduardo Riedel: ele continua flutuando,
mas está incomodando muita gente
"Num barrraco precário/ sem glória e sem salário/ O estilista acha abrigo/ Contra o mundo inimigo" - estava lendo este verso de Ezra Pound quando veio à minha cabeça um incômodo questionamento íntimo sobre as razões pelas quais, na atual fase política, tanto de se fala de ideologia.
Tem gente se esgoelando sobre o perigo da "extrema-direita", outros estão preocupados com a extrema-esquerda. A pancadaria contra o Centrão (essa miscelânea ideológica que já foi enquadrada como uma jabuticaba de nosso espectro partidário) tornou-se lugar-comum. É a nossa Geni do dia a dia.
Nessa mixórdia pergunta-se quem é de esquerda, direita, liberal, iliberal, neoliberal, capitalista, socialista, social-democrata etc.
Estou achando divertido as postagens do ex-deputado Fábio Trad (figura que aprendi a admirar) e seu esfoço para mostrar à militância do PT (seu novo partido) sua autenticidade e pureza ideológica, imprecando contra aqueles que estão fazendo atualmente oposição ao Governo Lula.
Outro dia até Zeca do PT entrou na onda sentando o porrete no ex-governador Reinaldo Azambuja pelo fato de se assenhorar do PL de Mato Grosso do Sul, partido de Bolsonaro e Waldemar da Costa Neto, gesto que ele vinha evitando fazer de maneira contundente até tempos recentes.
Zeca acha que Reinaldo entrou na hora errada no PL, como se o nosso eleitor enxergasse essa questão da mesma forma que ele. O mundo e a vida são repletas de enganos. O tempo dirá. Como vivo no exílio vejo as coisas de outra forma.
Está tudo uma maravilha: estou até pensando em comprar uma boina do Chê e vestir uma camiseta com a foto do bananinha (só pra causar e confundir) e sair por pregando contra o imperialismo de Trump e suas tarifas malucas, pedindo anistia e levantando um relicário em homenagem ao Alexandrre de Moraes.
Claro, causar confusão é a melhor maneira de explicar o que está acontecendo no País. A proposta de "despolarização" deve ser anárquica e psiquiátrica ao mesmo tempo.
Fiquei sabendo outro dia que grupos políticos ligados à esquerda e à direita estão fazendo reiteradas reuniões com o objetivo único exclusivo para definir ideologicamente o governador Eduardo Riedel. O que ele pretende? Pra onde ele vai? Quais são seus propósitos?
O homem é um enigma. Como todo personagem que coloca em prática a chamada "política transante" torna-se quase impossível definí-lo com um rótulo inquestionável.
No caso de Riedel, do ponto de vista teórico, é quase impossível. Confesso que em várias circunstâncias fiz essa tentativa, até com aquela respeitosa pergunta direta: qual é a sua? Ele até respondeu.
Mas conclui que ele está em todos os lugares ao mesmo tempo, diferentemente de seu antecessor, Azamba da Silva, que não esconde seus traços conservadores, sentindo-se confortável em qualquer partido de direita, centro ou social democrata.
Hoje Riedel está no PP de Tereza Cristina, que um dia foi socialista, social-democrataca etc e agora habita uma agremiação conservadora que tem no nome a palavra "progressista".
Mas o governador é um homem de direita?. Só se for na teoria, porque na prática ele está flutuando, para o desespero daqueles que desejam encontrar uma brecha para fazer oposição a ele e a seu governo.
Encontrar esse espaço é o esforço que se faz atualmente para que haja uma campanha eleitoral vibrante significando mais dinheiro e jogo de interesses no processo. Não existe santo nesse negócio.
O PT acredita que o homem que pode galvanizar este jogo pode ser Fabinho Trad. Ele é eloquente, está com o antibolsonarismo na ponta da língua, tem até pesquisa forjada para mostrar que ele tem chance. Mas pergunta-se: Trad estaria disposto a fazer esse papel de êmulo, servindo de boi de piranha e boneco de ventríloquio do lulo-petismo?
Não sei. A vida é cheia de surpresa.
Na minha opinião, vencer Riedel será uma pedreira complicada. O homem não tem canto para se pegar. Faz um governo correto. O Estado vive um boom de grande investimentos. A perspectiva da rota bio-oceânica sinaliza que teremos futuro promissor. Será que o eleitor médio abrirá mão disso arriscando-se a pular no abismo?
Difícil. O problema, contudo, é Campo Grande, onde vive mais de 30% do eleitorado. A prefeita Adriane Lopes está fazendo uma administração sofrível e está sendo muito atacada. Ela não está associada politicamente ao governador de forma direta e explícita, mas ao partido que está sob o comando da Senadora Tereza Cristina. Isso é péssimo.
É uma equação que poderá gerar crises sucessivas e, com isso, Lopes e Janjo poderão ser atirados aos leões, embaralhando inclusive a eleição para o senado que parece ser a cereja do bolo da proxima campanha eleitoral.
O PT de Mato Grosso do Sul, por outro prisma, está cometendo um erro de avaliação. No Estado, Lula (como sempre foi) dificilmente atrairá votos para impulsionar nomes diferentes dos que estão na praça. O anti-petismo é um fator determinante neste cenário. Poderá piorar com o radicalismo que está sendo turbinada pelo STF, que será um fator a se levar em conta à medida que nos aproximamos dos cenários de 2026.
Tudo indica - mesmo considerando as pesquisas do momento - que a direita e seus múltiplos satélites (ora fragmentada) convergirá para um nome no segundo turno e criará um novo cenário de poder no Brasil. Reparem: os levantamentos sempre mostram Lula na frente contra 4 ou 5 adversários. Trata-se de matemática básica: faça a soma de todos e coloque depois 1 contra o 1. Bingo! Não é preciso ser espero para compreender o que poderá acontecer.
Mais uma vez, haverá disputa beiço a beiço. E tudo dependerá do impoderável. Dizer isso é óbvio. Mas qual será a verdadeira história dessa obviedade.