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O que a imprensa de MS ainda não entendeu sobre as denúncias contra Marquinhos

 

Por meio de sua página no Instagram Marquinhos atraia mulheres para seu gabinete


******Dante Filho*****

Acompanhando o noticiário sobre as denúncias contra o ex-prefeito de Campo Grande, que envolve assédio sexual, estupro e facilitação à prostituição, e fazendo uma leitura dos fragmentos do inquérito policial que corre na Delegacia Especializada da Mulher (DEAM), sob o comando da delegada Maíra Pacheco, fica claro que o jornalismo está jogando luz no lugar errado. 

Mesmo que o processo corra em segredo de justiça, a mídia tem revelado aqui e ali, em vazamentos seletivos, trechos dos depoimentos das vítimas.

Fica claro que há um vício politicamente correto no tratamento de temas espinhosos como esses, como se tudo ficasse resumido aos relatos envolvendo o macho tóxico e mulheres vítimadas, muitas sendo consideradas oportunistas ou apenas exercitam de formas diferenciadas de prostituição. Nada mais falso e preconceituoso. 

Marquinhos considerou que a melhor maneira de promover a redução de danos para se safar dessa enrascada seria atacar em duas frentes: difundir que tudo seria uma armação política e que, pelo volume e quantidade dos depoimentos, assumir que praticara adultério ( embora tal ato, segundo ele, teria sido perdoado pela esposa e pelas filhas) num momento de desgaste do casamento.

Com tempo, ele dirá que, na verdade, foi a vítima desse processo. 

Concentrando-se nestes dois pontos, criar-se-ia uma cortina fumaça meramente distrativa para a imprensa, algo que tem sido corroborado pela sua estratégia de defesa jurídica.  

Primeiro,  traição conjugal não é crime;  segundo, o ex-prefeito é apenas uma vítima (a palavra é preciosa e será usada cada vez mais) do jogo político. “O resto a gente resolve dentro de casa”, costuma repetir Trad, numa a resposta padrão ensinada pelos seus assessores. 

E assim segue a dramaturgia. Enquanto a mídia tratar a pauta como um caso de assédio sexual – ou seja, a do cara hiperativo sexualmente que não pode ver um rabo de saia – o assunto torna-se repetitivo, deixa de ser novidade, vai enjoando e, quando chegar as eleições, poucos se lembrarão de ter ficado indignado com essa história que mistura psicopatia e arrogância de poder, na sua melhor prática predatória. 

“Que culpa ele tem de ser macho, predador e poderoso?”, me perguntou um ardoroso eleitor do ex-prefeito, no auge do caso. 

Na imprensa sul-mato-grossense quem chegou mais perto de desvendar a verdadeira natureza do caso foi o site Midiamax, em reportagem publicada no último dia 03 de agosto, sob o título “Suposta vítima de assédio revela ‘festinha particular’ para empreiteiros com drogas, sexo e agressão”, de autoria dos jornalistas Guilherme Cavalcante, Renata Portela e Thatiana Melo. 

Leia aqui: https://midiamax.uol.com.br/policia/2022/suposta-vitima-de-assedio-revela-festinha-particular-para-empreiteiros-com-drogas-sexo-e-agressao-em-ms/

Cruzando os depoimentos, percebe-se um padrão de assédio com fins de aliciamento sexual. Na verdade, observando os fatos em sequência, há um nexo causal entre atrair ao gabinete do ex-prefeito as supostas vítimas, experimentá-las, avaliar suas carências e necessidades e depois entregá-las, na linha final de produção da linha de montagem, aos maiores fornecedores (empreiteiros e empresários) da prefeitura, como se as mulheres fossem, digamos, um plus a mais de um negócio entre o público e o privado. 

Se a justiça for rigorosa e atenta aos detalhes deste caso, poderá constatar que está diante de uma quadrilha organizada que se utiliza de aliciamento sexual para ampliar sua influência de poder  no Estado e, talvez, no Brasil. 

Diz o Midiamax: “segundo depoimento de três das meninas ouvidas pela Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), elas receberam entre R$ 1 mil e R$ 3 mil pela participação na ‘festinha particular’, realizada em uma fazenda na cidade de Coxim, a 253 quilômetros de Campo Grande”. Em seguida, revela:” os depoimentos relatam o oferecimento de drogas ilícitas, sessões de sexo e agressão física contra uma das mulheres”.

Mais:” havia suposto esquema de favorecimento à prostituição com uma rede de aliciamento para atender políticos, servidores públicos e empreiteiros que possuem altos contratos com diversos órgãos públicos (preferencialmente na prefeitura de Campo Grande) em Mato Grosso do Sul.”

Para dar nomes aos bois, o site registra: “André Luiz dos Santos, o 'Patrola', dono da ALS, e Sérgio José Joaquim Fenelon, sócio da BTG Empreendimentos, Locações e Serviços e titular de várias outras empresas, [que} já foram alvo de intimações no inquérito. Além deles, figura entre os participantes um servidor público estadual”.

O site aqui prefere omitir o nome do “servidor público estadual”, mas uma cópia do trecho citado revela o nome do delegado do Gaeco, Fábio Peró, que atua como aquele que “obriga” uma das vítimas a usar drogas e, diante de sua negativa, a espanca várias vezes, forçando-a a fazer uso de substância ilícita. 

Suspeita-se, pela descrição, que são comprimidos de Ecstasy.

A coisa toda funcionava assim: teve um período que Marquinhos fazia excesso de postagens no Instagram. Ele circulava muito nas ruas da cidade ( à caça?) com sua assessoria de imprensa e voltava à prefeitura com centenas de fotos. Muito desse material trazia imagens de meninas bonitas de bairros pobres. Ele orientava sua assessoria a fazer as postagens, esperando curtidas e comentários. 

Quando os comentários aconteciam, ele interagia. Claro, era muito correspondido, pois afinal é o prefeito da cidade. Nesse processo, começava o jogo de sedução, que evoluía até o famoso “dá uma passada no gabinete”. 

Marquinhos, de acordo com testemunhas, fazia depois disso uma seleção. Ele fazia mágica com baralhos, brincava, mostrava-se um sujeito afetivo e amoroso. Depois, quando tinha sucesso, levava-as ao banheiro e o resto da história, todos já sabem. Este era o padrão do assédio.

Depois, diante das demandas por emprego, ajuda financeira e favores, Marquinhos marcava o encontro das meninas com o empreiteiro, dizendo que “a partir de agora esse cara vai cuidar de você”, não sem antes ser avaliada esteticamente pelo famoso André Patrola. 

Assim, ele as convidava para festas, churrascos, baladas, apresentando aos seus amigos, tendo a garantia do silêncio, pois havia sempre junto uma força coercitiva para causar medo na figura de delegado barra pesada conhecido da cidade, envolvido com o rumoroso caso de Jamil Name.

Olhando todo esse cenário, colando os fatos, é possível deduzir (dentre várias hipóteses, as quais pode-se afirmar que o ex-prefeito não participava diretamente das ‘festinhas’, embora supostamente criasse as condições necessárias para que elas ocorressem) que a sucessão de procedimentos estabelece uma padronagem, como em outros casos, conforme registrou recentemente a jornalista Marta de Jesus em seu Blog Primeira Página, destacando o caso de assédio de uma policial quando Marquinhos ainda era deputado estadual.

Veja aqui: https://primeirapagina.com.br/politica/penso-em-voce-assedio-a-policial-mostra-padrao-do-comportamento-de-marquinhos-trad/

Neste aspecto, reitero que o Caso Marquinhos não envolve simplesmente assédio sexual, mas tem fortes conotações de  aliciamento com vistas a fortalecer negócios entre prefeitura e empresários, com formato de formação de quadrilha. 

A abordagem da imprensa leva-nos a imaginar que estamos tratando de um caso policial com forte peso na questão dos costumes, quando, na verdade, trata-se de um caso com indícios consistentes de crime organizado. 

O tempo dirá se o inquérito de 700 páginas (quando for integralmente revelado), momentaneamente em fase final de elaboração, mostrará que essa é a verdadeira natureza de todo esse escândalo ou apenas uma formulação de que enxerga a vida real além das propagandas eleitorais.