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Dante Filho: Animais fantásticos e onde eles habitam

 


Dia desses, convalescendo de um forte resfriado, deitado no sofá, começou a passar na TV vários filmes da série "Animais Fantástico e Onde Habitam". Confesso que não estava disposto a assistir nada daquilo, mas já que não tinha força nem para mexer o dedinho do pé, deixei aquilo correr, e, entre rápidos cochilos, fui acompanhando a trama.

Como se sabe, a história fantástica criada por J.K. Rowling mostra que existe um mundo paralelo que determina o funcionamento daquilo que chamamos "mundo real". 

É uma diversão que se associa àquela pegada da Matrix de que estamos vivendo num complexo tecnológico submerso, acreditando que nossas vidas na Terra não são verdadeiras, já que existe uma máquina pré-determinando nossas ações.

Tem gente que acredita nisso (com base filosófica e tudo o mais), com a certeza de que a ilusão domina, e que estamos vivendo em bolhas plásmicas sustentadas por tubos enfiados em todos os nossos orifícios. Não contesto nem duvido. O estado democrático de direito tornou todas as narrativas passíveis de serem verdadeiras, desde que aprovadas pelo Alexandre de Moraes.

Vendo o filme, não sei os motivos (talvez pela razão de que viva no exílio aqui em Floripa) fiz uma associação da trama dos "Animais Fantásticos..." com a política sul-mato-grossense. 

Tenho lido na imprensa local, nas redes, ouvindo as emissoras de rádio, analisando as pesquisas (bem fajutas, inclusive), conversando com amigos(as), e percebo que há duas tramas correndo paralelas nesse momento que se chama de pré da pré campanha.

Os atores políticos estão nos bastidores fazendo seus devidos aquecimentos(são os animais fantásticos), uns mais afoitos, outros mais discretos, embora todos revelando disposição de ir à luta com as armas que possuem, vinculando-se a partidos e federações que possam render mais recursos para a hora do embate final.

Não quero fulanizar o assunto (mesmo que existam os candidatos evidentes e irreversíveis) porque o tempo é um senhor misterioso que pode transformar tudo em breves segundos, alterando radicalmente o futuro previsto. 

É aquela história: os candidatos(as) estão percorrendo o Estado, naquela ânsia, de cobrir o maior trecho para apertar as mãos de seu josé e dona maria, voando naqueles tecos-tecos de quinta categoria, quando de repente acontece um desastre, obrigando o pretedente a fazer campanha com o papai do céu.

Há também outras fatalidades e outras frustrações. Não dá para enumerar as surpresas do destino. O que eu quero dizer é que os profetas da políticas que pululam por aí vendendo previsões antes da hora estão apenas diversificando suas atividades, vendendo ilusões, naquele zoológico paralelo dos "Animais Fantásticos...", enquanto a grande massa de eleitores está com os olhos voltados para outros temas.

Assim é a vida. A história é uma matrona cruel e somos apenas fantoches das circunstâncias inauditas.

Enquanto isso, aparecem as pesquisas de opinião tentando dar ares de cientificidade ao mundo real das vontades, desejos e sonhos do cidadão comum. 

Você conversa com os donos dos institutos e muitos deles não tem nenhum prurido em dizer que seu levantamento tem duas versões: a verdadeira (para quem encomendou e pagou) e a falsa (aquela que é divulgada para a imprensa). O Brasil não é um País sério.

Pra ser justo com a minha consciência, prefiro neste momento não acreditar em nada nem em ninguém com interesses direto no assunto. 

Por isso, a opinião espontânea do motorista de taxi e do Uber, ou do barbeiro da esquina, tem mais mais valor do que as análises dos especialistas. 

Aliás, é bom que saiba que as fontes dos especialistas são exatamente as pessoas comuns, que depois recebem um lustro retórico para dar um ar de sabedoria nos "fatores imprevísíveis" de toda as bobagens que são publicadas por aí.

É bom que o os nobres eleitores e eleitoras saibam que não existe mais jornalismo político. Agora é a vez dos militantes e ideólogos, que fecham contratos com grupos ou pessoas de interesse para vender "narrativas" sobre aquele mundo paralelo de Rowling na versão castiça sul-mato-grossense.

Claro que observamos o cenário nacional e regional e fazemos conexões sobre como a maquinaria se movimenta para chegar até meados do próximo ano. Só que muita gente que hoje farfalha e aparece tocando sua banda pode ficar na beira da estrada só batendo latinha.

Imagino meus cenários e os guardo comigo. Está tudo muito nebuloso. Há muito conceito difuso saindo da boca de cientistas políticos picaretas e de sociólogos de ocasião, quase todos obnubilados usando de teorias de segunda mão para falar em democracia, soberania, direita e esquerda e seus extremos, enfim gente que utiliza produções intelectuais robustas para fazer marketing mal ajambrado.

Isso desanima as pessoas corretas e as fazem fugir da política. Esse é o mundo podre que criamos. Temos que suportar com serenidade e compreender que esta é a etapa histórica que as gerações precedentes nos legaram. Mas que dói, dói.

Por isso, melhor dormir e acordar na hora certa...

(só peço aos leitores que perdoem os erros de digitação, pois os dedos das mãos ainda não estão funcionando direito)