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Dante Filho: ele está voltando, mas muitos ainda não perceberam seu disfarce


 Xandão entrou no trem da história para vencer a qualquer preço, 
mas sua vaidade e inseguranla podem lhe trair

O Brasil tornou-se um País tão disfuncional que uma parcela de brasileiros (os ditos progressistas e mais intelectualizados) acredita feericamente que o Ministro Alexandre de Moraes é um defensor da democracia. 

Já li e ouvi conversas afirmando que não fosse sua determinação o bolsonarismo teria imposto um golpe de Estado no Brasil, muitos inclusive celebrando sua firmeza ao segurar o leme da nau que poderia ser levada por correntes desviantes e afundar nas profundezas do mar revolto.

Claro, é uma opinião que respeito, principalmente quando parte de amigos e amigas dos quais aprendi a admirar e respeitar pelo curso da vida. 

Depois do 8 de janeiro a sociedade cindiu, aprofundando o fosso da polarização, jogando a racionalidade e a tolerância no esgoto, dividindo o mundo entre Lulistas e Bolsonaristas. Estamos paralisados neste dilema absurdo.

Como a eleição foi vencida com margem muito pequena de votos (com abstenção altamente representativa e preocupante), esse processo vem se radicalizando, criando conceitos difusos, misturando tempos e experiências históricas em fiação indecifrável, fazendo aparecer fantasmas dos anos 30 e 40 a todo o momento, com a esquerda e direita insultando qualquer pessoa divergente com a marca do fascismo, do comunismo, da extrema direita e do terrorismo nacionalista soft.

A eleição de Donald Trump só piorou esse fenômeno político, gerando desconforto e contraindo os espaços para conversas abertas e reposicionamentos que envolvem clareza, prudência e senso de realidade. A chamada frente ampla trazia essa promessa. Hoje a gente sabe que foi tudo mentira.

O quadro piorou quando o presidente americano anunciou aumento de 50% nas tarifas de exportação brasileira, estabelecendo uma contangem regressiva (parece que essa é a ideia) para o dia 1º de agosto como o momento do juízo final. Culpa de quem?, pergunta-se. Acho que todos e de ninguém. Os tempos estão estranhos e não garantem lado certo e errado. 

Como se sabe, Trump impôs uma chantagem ao Governo brasileiro na base do "ou me obedecem ou levarei todos ao chão e queimarei com brasa. No epicentro dessa crise está a figura do Ministro Alexandre de Moraes, um homem que vem se revelando confuso, inseguro, vaidoso - enfim, um personagem perigoso do ponto de vista político e emocional - tal qual seu êmulo americano. 

Usa-se por ora muito o conceito de soberania. Mas é uma quimera que só serve de discurso para distrair otários. O buraco é mais embaixo. 

Desde o início de sua jornada percebi com clareza esse viéz autoritário nas decisões de Moraes - o que pouco a pouco foi criando uma aversão generalizada à sua persona pública - e, assim, foi que escrevi várias críticas contra ele, alertando que naquela confusão conceitual sobre a tentativa de golpe de Estado, na verdade o que vinha ocorrendo era que o STF (ou parte dele) havia concebido um contragolpe e assumido o poder real no Brasil. 

Isso me gerou aborrecimentos pessoais. Primeiro, as doidivanas da esquerda cravaram a insígnia do bolsonarismo em meu peito. Dentro de casa, passei a ser questionado pelos familiares. Alguns me bloquearam nas redes. Outros encontraram razão para me perturbar com ofensas pra lá de razoáveis. 

Ultimamente, até um jornalista que admiro esqueceu que por mais de 50 anos de minha vida cerrei fileiras contra qualquer ditadura e defendi até com certo afobamento os preceitos da democracia. 

Por que não aprendi a calar a boca?

Não gosto do populismo de Lula e Bolsonaro. Conheço-os pessoalmente. Um é fanfarrão e canalha profissional. Outro é um psicopata clássico que nao resiste a um sofá de psicanalista. No mundo ideal, Xandão deveria atuar nesse meio como força apaziguadora. Mas não. Ele fustiga, divide, instiga, porque já tem claro que quando mais durar esse processo (independentemente se Bolsonaro for preso ou não) mais poder ele acumula. 

Tornou sua pinimba com o bolsonarismo uma questão fórum íntimo e ninguém tem coragem para pedir que ele pare, já deu.

Só que o Ministro não é tão esperto como ele julga ser. Nesta semana um pedaço de sua máscara caiu (a foto que ilustra este artigo é emblemática). No momento em que determinou que o ex-presidente Jair Bolsonaro fosse preso a uma tornezeleira eletrônica e emitiu uma séria de ordens confusas e inadequadas para o século XXI, seus pendores medievais vieram à tona. 

O Ministro Fux abriu divergência. Certo ou errado, tecnicamente falando, ele quebrou um prato na sala. Daí em diante os juristas e jornalistas sentiram o cheiro fétido da censura prévia, aguardando a prisão precventiva do ex-presidente - que acabou não sendo materializada. 

Enfim, Xandão mostrou-se perdido e está tentando salvar as aparências. O Judiciário está balbuciando aqui e ali. Tem muita gente contrariada.

Há ainda quem defenda o Ministro Alexandre porque está olhando o cenário da macropolitica. Só que nesta altura dos acontecimentos, não há como recuar, pois será o mesmo que aceitar o abraço dos afogados. 

Mas a maioria dos Ministros do STF percebeu que com Trump atacando, o bolsonarismo em chamas, Lula acuado e a crise instalada firmemente na praça dos Três Poderes, com Motta e Alcolumbre enfrentando denúncias tenebrosas de corrupção em suas respectivas cozinhas, Moraes começa a perceber que prolongar o inquérito do fim do mundo será cada vez mais complicado e arriscado.

Seu nome não ilustrará os belos feitos de nossa história. À medida que o trêm segue, os passageiros começam a descer nas estações intermediárias. Se a direita brasileira e o bolsonarismo conseguirem ser hegemônicos no Congresso em 2026, certamente Xandão terá seu "Tribunal de Nuremberg". Quem viver, verá.