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Lulismo e Bolsonarismo serão mais do que meros figurantes nas eleições em MS


Ainda não é possível delimitar claramente qual será o nível de influência de Lula e Bolsonaro nas eleições de Mato Grosso do Sul.

Em Campo Grande circulam várias pesquisas que mostram forte influência bolsonarista e lulista no processo eleitoral, com uma massa representativa de eleitores prestando atenção nestes dois personagens para definir seus votos.

Sabe-se que a prefeita Adriane Lopes está grudada oportunisticamente em Bolsonaro, rodando na órbita da senadora Tereza Cristina, esperando ser consagrada e ungida como a preferida do Capitão. O problema será saber qual o tamanho do desastre que a prefeita está gerando e como isso entrará no radar do eleitor para que suscite um consenso para tirá-la da prefeitura. 

Como já afirmei anteriormente, num mundo perfeito Adriane já teria sido destituída ou sofrido impeachment, mas, infelizmente, estamos em Campo Grande, onde tudo se ajeita da pior maneira possível.

De acordo com os levantamentos feitos por vários institutos, o apoio pessoal de Bolsonaro pode despejar mais de 15% dos votos na cesta da candidata, o que certamente a levaria para o segundo turno.

O chamados bolsonaristas raiz estão roendo as unhas porque não querem respaldar o projeto de Tereza Cristina por inúmeras razões, uma, de ordem administrativa e outras por questões de cunho ideológico. 

No mais, pega mal para uma parcela da turma de bolsonaro conviver com uma figura como Adriane Lopes, que tem se mostrado não só incompetente como pouco zelosa com o uso dos recursos públicos (estou sendo elegante).

Tempos atrás Bolsonaro insistiu para que a ex-ministra da Agricultura fosse a candidata à prefeitura. Ela negou fogo. Com isso, haveria a chance de um bolsonarista de primeira hora, o Tenente Portela (suplente da senadora), assumir uma cadeira no Senado, fortalecendo ainda mais a bancada ligada ao ex-presidente no Congresso Nacional.

A relação política entre Tereza Cristina e Bolsonaro é respeitosa. Mas os bolsonaristas (aquela turma que frequenta os cercadinhos da vida) não confiam nela. A carreira política dessa lídima representante de nossas oligarquias rurais sempre foi errática. 

Ela trocou de partido e de personagem tantas vezes (esteve no PSDB, PSB, DEM, União Brasil e agora PP) que não se consegue mais defini-la como uma política com padrões aceitáveis de coerência ou, melhor dizendo, de previsibilidade de conduta. .

Mesmo assim, Tereca formou sua liderança no agronegócio e tem posição sólida neste setor. Com isso, Bolsonaro é obrigado a ouvi-la, considerar suas vontades, o que leva a crer que, no final das contas, a prefeita Adriane tem grandes chances de ganhar o carimbo de bolsonarista na testa.

A não ser que...(deixa pra lá).

No caso de Lula, há uma diferença: ele está amarrado à deputada Camila Jara, novata na política, que ganhou as simpatias de Janja. Sua capacidade de empuxo eleitoral numa cidade conservadora e antilulista como Campo Grande é pequena. Além disso, o lulismo atualmente está em viés de baixa, há muita confusão em Brasília, a economia claudica, e o empoderamento do parlamento (majoritariamente de direita) vem forçando que o Governo faça uma política econômica de contração de gastos, o que, naturalmente, gera impopularidade. Vai demorar para as massas comer picanha e beber cerveja.

É nesse contexto que as candidaturas de centro terão que atuar, isolando a esquerda para um nicho pouco representativo da sociedade. Muitos imaginam que, no final das contas, os problemas locais (o buraco nas ruas, a precariedade dos postos de saúde, o transporte coletivo sucateado, a educação precária) darão o tom da campanha. Cuidado com essa avaliação.

É possível, embora tudo deva ser relativizado a partir de agora, que uma diversidade de pautas tome conta do cenário e gere uma situação de alta imprevisibilidade quanto ao tom correto das campanhas. Mas é inegável que a polarização terá um peso muito maior do que nas eleições passadas, mesmo porque o fenômeno das redes sociais avançou bastante e o eleitor já está escolado com as tradicionais promessas eleitoreiras de fundo clientelista.

Tenho dúvidas se o chamado marketing oficial vai funcionar como anteriormente (mesmo com o pessoal caprichando em efeitos visuais) porque o eleitor(a) anda muito desconfiado de tudo aquilo que provém da maquinaria de imagens das campanhas.

Neste processo, o Lulismo e o Bolsonarismo funcionarão como fermento não só ideológico como também fortalecerá um espelhamento sentimental que hoje impulsiona a direita de maneira formidável, inclusive como um fenômeno mundial. 

A internet criou uma alternativa de informação que negligencia problemas locais e amplifica questões morais como nunca se viu. Por isso, falar das ruas de Campo Grande pode ser até necessário, mas não será fundamental. Acredito que uma fake news de 30 segundos bem grudenta equivalha a mais de 10 horas de propaganda chapa branca massiva.

Noutro campo, é bom não se esquecer que por conta dessa mudança na estrutura do tempo que está inserida nas profundezas do contexto semiótico das redes, a maioria da classe política esteja desde já trabalhando com os cenários de 2026, sendo que o processo de eleição pra prefeito configure apenas uma breve etapa do rearranjo de forças para a disputa grande que vem pela frente.

Penso que vivemos um período de fortalecimento da direita e do conservadorismo, mas haverá a hora do refluxo, e a polarização vai cansar e se esgotar. Quando isso ocorrerá (e em quais circunstâncias), não se sabe, mas a experiência história mostra que os movimentos cíclicos no campo do pensamento humano são uma constante.

A incógnita hoje é saber quem herdará os despojos dessa era de raiva e estupidez. Oremos.