Pages

T.S Eliot: O nome dos gatos


Thomas Stearns Eliot ( setembro de 1888 / janeiro 1965). Um homem atormentado entre a religião e uma mulher maluca. Carola contumaz e poeta genial. Talvez o maior poeta moderno de todos os tempos. Dramaturgo e ensaísta. Pensador do tempo e da natureza. Do homem e de seus dilemas morais. Depois de Eliot, nada, ou melhor, quase nada. Em seu princípio estava seu fim. Em sua lavra germinava lilases em terra morta. Ele foi definitivo: abril é realmente o mais cruel dos meses.

Abaixo, um de seus poemas mais enigmÔticos, escrito para crianças, embora poucos adultos consigam alcançÔ-lo, a não ser que tenham gatos em casa.



                                   

Dar nome aos gatos Ć© assunto complicado,
 NĆ£o Ć© apenas um jogo que divirta adolescentes;
Podem pensar, Ć  primeira vista, que sou doido desvairado
Quando eu digo, um gato deve ter TRÊS NOMES DIFERENTES.

Primeiro, temos o nome que a famĆ­lia usa diariamente,
   Como Pedro, Augusto, Alonso ou ZĆ© Maria,
Como Vitor ou Jonas, Jorge ou Gui Clemente –
   Todos nomes sensĆ­veis para o dia-a-dia.

HĆ” nomes mais requintados se pensam que podem soar melhor,
   Alguns para os cavalheiros, outros para titia:
Como PlatĆ£o, Demetrius, Electra ou Eleonor –
   Mas todos eles sĆ£o sensĆ­veis nomes de todo dia.

Mas eu digo, um gato precisa ter um nome que Ć© particular,
   Um nome que lhe Ć© peculiar, e que muito o dignifica,

De outro modo, como poderia manter sua cauda perpendicular,
Ou espreguiƧar os bigodes, orgulhar-se de sua estica?
Dos nomes deste tipo, posso oferecer um quórum,
Como Munkustrap, Quaxo, ou Coricopato,
Como Bombalurina, ou mesmo Jellylorum –

   Nomes que nunca pertencem a mais de um gato.
Mas, acima e para alƩm, ainda existe um nome a suprir,
   E este Ć© o nome que vocĆŖ jamais cogitaria;

O nome que nenhuma investigação humana pode descobrir –
   Mas O GATO E SOMENTE ELE SABE, e nunca o confessaria.

Se um gato for surpreendido com um olhar de meditação,
   A razĆ£o, eu lhe digo, Ć© sempre a mesma que o consome:
Sua mente estÔ engajada em uma rÔpida contemplação
   De lembrar, de lembrar, de lembrar qual Ć© o seu nome:
       Seu inefĆ”vel afĆ”vel
       InefavefĆ”vel

Oculto, inescrutƔvel e singular Nome.




Tradução: Rodrigo Suzuki Cintra