Dante Filho
A cortesia e a generosidade aconselham a não se fazer blague dos derrotados. Como dizia Machado de Assis, ao vencedor, as batatas. Mas a trajetória política de Marquinhos Trad deve ser analisada como uma caso clássico de erros sucessivos de avaliação e tomadas de decisão que devem ser observadas por todos aqueles que estão ou pretendem ingressar na vida pública do Estado.
A rigor ele cometeu pequenos desastres contra si mesmo, apostando no populismo, numa publicidade frouxa e burra, e na arrogância pessoal. Somando, produziu um mostrengo, gastando um monte de dinheiro, para terminar menor do que a candidata do PT, Giselle Barbosa, que capengou num miserê danado, com militância pequena e desanimada.
Marquinhos pagará o preço por ter cometido basicamente três sandices: deixou uma prefeitura problemática no meio do mandato, dizendo que havia conversado com deus, não concluiu dezenas obras e comprometeu a saúde fiscal do município.
No meio da campanha, sob influência de aloprados, produziu um escândalo sexual (que ele insistiu que era armação, mas ninguém acreditou) e as malfeitorias do Proinc. Resumo da ópera: terá que gramar muito a partir de agora para rever conceitos, amizades, interesses, enfim, buscando caminhos para se reinventar, estudando mais, ouvindo pessoas mais gabaritadas, buscando compreender que o mundo mudou e que a mentalidade provinciana não fornece credencial para cargos executivos.
Caso contrário, Marquinhos terá que se ajustar ao baixo clero, voltando para o banco escolar do parlamento, isso se sua ficha criminal não se tornar um óbice intransponível. Fico aqui pensando como alguém dotado de intuição e tirocínio político apurados não foi capaz de perceber que deixar a prefeitura de uma Capital importante como a nossa, para cumprir um acordo feito em 2016 com o deputado Lídio Lopes, era uma aventura tão certeira quanto pular num abismo sem fundo.
Falar isso agora é fácil, depois que tudo passou. Mas Marquinhos teve a chance de ouvir todos estes argumentos, em vários momentos, antes e depois de decidir ser o garoto enxaqueca do primeiro turno eleitoral.
Este escriba o alertou várias vezes, com inúmeros textos, de que as mentiras repetidas, a encenação canhestra postadas nas redes sociais e a pose de sedutor irresistível, tantas vezes comentadas em toda a cidade, seria o caminho mais curto para a ruína.
O problema é que todo narcisista extremo não ouve e não enxerga o mundo real, pensando que tudo é espelho. Felizmente, não é. A vida é lição que se aprende, mesmo que o aprendizado cause dor e sofrimento. Na próxima, talvez Marquinhos busque a sabedoria necessária para aceitar que o bom líder deve falar pouco e ouvir mais conselhos.
SEGUNDO TURNO
O segundo turno eleitoral entre Eduardo Riedel e Capitão Contar será complicado para Bolsonaro. Riedel é mais aberto, mais abrangente, liberal e mais propenso a se adequar as demandas do mundo em que vivemos. Capitão Contar é homem de nicho, restritivo e coloca ideologias exóticas na frente do pragmatismo. No fundo, no fundo, será uma disputa pelos corações e mentes do bolsonarismo racional contra o radical. Quem vencerá?