Dante Filho
Depois do debate entre os candidatos a presidente da TV Globo, o que se viu no dia de ontem foi perplexidade, ranger de dentes, comemoração e preocupação de todos os setores políticos de Mato Grosso do Sul.
A declaração de Bolsonaro, na entrada da madrugada de ontem, 30, numa resposta a uma provocação da senadora e candidata Soraya Thronicke (União Brasil), dando apoio ao candidato Capitão Contar, colocou o processo eleitoral de Mato Grosso do Sul numa zona nebulosa, tornando a definição dos nomes que vão disputar o segundo turno - e também ao senado - no limbo da indefinição.
Contar certamente ganhará espaço e também muitas críticas. Sairá do ostracismo e entrará na mira dos antibolsonaristas. Poderá ser sua salvação como poderá ser sua desgraça, já que nas últimas pesquisas ele ocupa o quinto lugar na disputa. Precisa subir muito para chegar perto do pódio.
Logo após o debate, a mídia nacional já abria inúmeras matérias sobre as posições radicais do candidato, a elevação exponencial de sua fortuna em curto espaço de tempo ( em torno de 720%), as dezenas de processos judiciais de sua esposa, Iara Diniz (que comanda com mão de ferro sua campanha), enfim, transformando o príncipe em sapo, no qual nem o beijo presidencial o fará retornar à condição original.
Ontem, a primeira reação do tucanato estadual foi a de começar a retirar o apoio à candidatura de Tereza Cristina entre prefeitos do interior. Na avaliação interna do partido, em 48 horas, será muito difícil que Contar reverta o jogo na proporção necessária para avançar e garantir a ida ao segundo turno.
Tereza gravou um vídeo de apoio a Riedel, mas quem assistiu percebeu sua fragilidade em tomar posições mais firmes que o momento exige. Ela transborda de medo de Bolsonaro.
Assim, Tereza Cristina poderá ver reduzido seu potencial de votos. Um de seus oponentes, Luiz Henrique Mandetta, divulgou nas redes sociais um elenco de traições de Tereza na vida pública, criando uma situação verdadeiramente constrangedora para a candidata.
O fato, porém, é que a inusitada mudança de humor do presidente, coloca o resultado das eleições neste domingo no campo da imprevisibilidade, elevando os níveis de tensão e gerando um quadro de incertezas jamais visto na política estadual.
É provável que a declaração sirva para adensar o chamado bolsonarismo raiz, sinalizando que o Presidente não tem a certeza absoluta de que num eventual segundo turno contra Lula não possa contar com o empenho renhido e determinado de Tereza Cristina nem de Riedel. Ela pode, inclusive, viajar para Paris.
Outra hipótese reside na impressão de que a relação entre Bolsonaro e Thronicke seja fruto de rinhas infantis havidas ao longo do tempo entre o presidente e a senadora em torno de indicações de cargos no governo federal. A que ponto chegamos.
Mesmo assim, fica a pergunta: quem ganha e quem perde com tudo isso? Olhando com frieza a natureza desse processo, pode-se afirmar que o tempo é curto para mudanças radicais, terminando por gerar mais espuma do que energia. Mesmo assim, haja rivotril na contagem final dos votos.