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A briga entre Azambuja e Marquinhos



Dante Filho****


O governador Reinaldo Azambuja e o candidato que deseja sucedê-lo, Marquinhos Trad, estão protagonizando uma briga político-eleitoral nos últimos dias, na qual os níveis de ofensa e insultos estão em ordem crescente e não se sabe onde vai chegar. 

Nessa rinha de galos é bem provável que Azambuja vença. A razão está com ele. Na contabilização geral dessa relação,  que começou após a derrota de Rose Modesto nas eleições de 2016, existe uma história que precisa ser contada. 

O contencioso entre Marquinhos e o tucanato naquele pleito foi pesado. Houve uma disputa nervosa, com ataques de todos os lados, mas Trad conseguiu derrotar Alcides Bernal e a República de Maracaju, um feito nada trivial numa campanha que visava impedir que o PSDB tornasse a força política hegemônica no Estado. 

Marquinhos cumpriu esse papel institucional de peso e contrapeso, colocando à frente a força da família Trad como barreira para o crescimento exponencial de Azamba e sua turma, promovendo um equilíbrio necessário para impedir que o patrimonialismo, o autoritarismo e o clientelismo dominasse a cena e transformasse a máquina pública em casa da mãe Joana. 

Mas Marquinhos não entendeu seu papel histórico. No primeiro psiu de Azamba ele se entregou. Suas restrições pessoais ao governador acabaram em nome de um pragmatismo fuleiro em torno de ajuda financeira para realização e finalização de obras, contrapartidas, convênios etc para Campo Grande. 

Marquinhos tratou questões institucionais como se fosse coisa de amiguinhos e acreditou que seu charme, sua capacidade de sedução, fosse suficiente para que Azamba o tornasse sucessor natural e o apoiasse para ser o futuro governador. Só rindo. 

O escriba que vos fala tentou conversar com Marquinhos inúmeras vezes para demonstrar que ele seguia por vias tortas, mas o príncipe estava deslumbrado demais com Azambuja para ouvir opiniões divergentes. 

Assim, nos dois anos de seu primeiro mandato, desisti de conversar com  o prefeito, mesmo porque ele me parecia muito ocupado com garotas vestidas para irem às baladas do que papinho cabeça com jornalista da velha guarda. 

Com o tempo, comecei a perceber que Marquinhos tinha sérios problemas mentais. Terminando seu primeiro mandato pedi o boné, não sem antes tê-lo advertido, numa determinada reunião, que um bom líder ouve conselhos de seus assessores, mas Marquinhos justificou-se de que ele sempre fora um homem solitário, um problema atribuído ao fato de que sua mãe, quando grávida, esperando-o para nascer, sofreu um terrível trauma com o pai, ex-deputado Nelson Trad, preso pela ditadura. O sofrimento intenso da mãe teria o afetado profundamente.

Sempre achei que Marquinhos devia demarcar seus espaços longe de Azambuja, sem fazer oposição encaniçada, mas sem ser lambe-botas. O fato é que ele optou por ser lambe-botas. Entusiasmou-se pelo tucanato, fortaleceu suas relações com Carlos Alberto Assis e Sérgio de Paula, estreitando relações interpessoais, nomeando familiares e amigos para bons cargos, enfim, achou que podia frequentar a sala e a cozinha de Azambuja, com a impetuosidade dos afoitos e a segurança dos folgados. 

Era conversa certa no gabinete do prefeito (antes dele renunciar ao cargo) que o governador o apoiaria nesta eleição e indicaria Riedel para o Senado. Havia uma certa prepotência nessa leitura do quadro, e qualquer dúvida que se colocasse em contrário era visto com escárnio e desprezo. 

O resto é história. Azamba jogou Marquinhos de lado, apostou suas fichas em Riedel e parte agora com pé atolado para fazer o sucessor. As entrevistas que vêm fazendo nos últimos dias mostra confiança de quem plantou e prevê boa colheita logo ali na frente. 

Do ponto de vista operacional, o governo do PSDB mostrou a que veio: fez bom planejamento, investe em infraestrutura, tem responsabilidade fiscal, desenvolveu bons programas sociais e conseguiu fazer um caixa que está sendo cobiçado por quase todos os candidatos, em todas as esferas de poder. Ou seja: o continuísmo gera boas expectativas eleitorais, mesmo que haja falhas e bagunças operacionais aqui e ali. O mundo não é perfeito.

Não é trivial o fato de que Riedel saiu dos 4% nas primeiras pesquisas e, completamente desconhecido, é forte candidato a disputar o segundo turno depois do próximo dia 02 de outubro.

Assim, pelo que se vê, o Marquinhos Trad frustrado tornou-se um sujeito ressentido e agressivo. Incapaz de fazer autocrítica (nenhum narcisista patológico reconhece erros e corrige rumos), agora ele se vê na contingência de atacar Azamba e Riedel, mergulhando fundo no esgoto, produzindo fake news e distribuindo maluquices na rede.. 

O ex-prefeito está convencido de que a República de Maracaju fez uma grande armação no caso do escândalo do assédio e facilitação à prostituição, mas ele não consegue contar essa história com começo, meio e fim. Ele prestaria um excelente serviço à sociedade se demonstrasse cabalmente os elementos dessa "armação", distante dos slogans e mania de perseguição. 

Os elementos críveis dessa história tem que ter nexos causais. Onde eles estão?

 Diante disso, o discurso de Marquinhos fica vazio, e Azambuja faz bem em cobrar publicamente as juras de amor feitas no passado, gravados com som e imagem para todo mundo ver. 

Marquinhos deve explicações: qual personagem está valendo? Aquele que era o "grande parceiro do governador" ou este, de agora, que acusa o tucanato de ser uma verdadeira suruba?

Assim é complicado. Enquanto isso, André Puccinelli e Riedel nadam de braçada enquanto Marquinhos não consegue ir além da dancinha do desespero.