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Entre a raiva e o medo



Dante Filho 

Leitura Política nos tempos de incerteza -

 Eu sei que muitos estão pensando que Jair Bolsonaro vai dar um golpe. Ele começou a comer pelas bordas, criando expectativas, naturalizando as evidências, vitaminando seus apoiadores fanáticos e, agora, no último dia 07, deu uma bela mordida, comendo metade do bolo. 

Ninguém está tranquilo. Pelo menos aqueles que desejam viver num País democrático, que reconhece que as instituições têm problemas, mas que podem melhorar sem radicalismos nem maluquices. Mas a cabeça do bolsonarismo funciona de outra maneira. Parece que esse pessoal ficou na estufa anos e anos e guardou tantos ressentimentos que agora deseja que tudo aconteça na base do sangue, suor e lágrimas. 

Se existe alguém que acha que nada vai acontecer, pode acreditar que já está acontecendo.

O Brasil tem uma sociedade complexa e diversa. As demandas setoriais de cada pedaço da sociedade não cabem nos limites do Estado. Os conflitos se avolumaram demais nos últimos anos. E o Judiciário não tem capacidade, sozinho, de dar respostas a tudo que lhe atiram no colo. 

É verdade que o STF (Judiciário, por extensão) tornou-se com o tempo muito arrogante, até por causa da tibieza do legislativo em solucionar problemas que lhe cabia, toldado pelo oportunismo, populismo e ganância. 

O Executivo durante muito tempo transformou-se numa máquina de corrupção e numa fonte para satisfazer desejos ilícitos. Depois que o Supremo deu um salvo conduto para Lula correr livre, leve e solto para disputar as próximas eleições, ficou mais do que evidente que os escrúpulos foram mandados às favas e tudo se transformou em jogo político.

O Governo brasileiro tornou-se assim uma arena de disputa. Ficou evidente que não há virgens nesta casa de tolerância. E que a regra é mesmo a polarização raivosa e que a "democracia" é a exceção que justifica qual o melhor enquadramento das narrativas para conquistar as mentes e os corações dos brasileiros. 

A imprensa - não havendo alternativa à vista para calibrar a confusão reinante - também deixou o campo da racionalidade objetiva e tornou-se estuário de militância, colocando-se no quadrante da pró-democracia, antagonizando o autoritarismo de Bolsonaro, distraindo-se do fato de que, paradoxalmente, isso só tonifica o bolsonarismo como elemento duradouro do processo político. 

Ontem, apressadamente, muitos analistas correram a dizer que o Governo tinha acabado, que o impeachment era uma linha reta e que Bolsonaro derretia a olhos vistos. Como se diz nas redações de jornais, não devemos brigar com imagens, ou seja, tinha muita gente nas ruas para que alguém faça beicinho e corra o risco de fazer marola neste momento delicado. 

Vejo muita gente afobadinha. Sim, pode acontecer de tudo, inclusive nada. É preciso esperar que haja decantação. Mas uma coisa é certa. O Poder Judiciário precisa fazer uma autocrítica. O Ministro Alexandre de Moraes precisa parar de interferir em briga de bêbado. O Deputado Arthur Lira e o Senador Rodrigo Pacheco devem tentar fazer uma grande concertação para tranquilizar o País e ajudar dar rumo na economia. Os dois estão parecendo bobos da corte. 

Não esperem nada de Bolsonaro, porque daí só vem lama e caos. Ele não quer solução para o Brasil. Ele quer salvar a pele, fazer uma confusão e gritar "pega ladrão", que, no caso é o Lula. Se conseguir se reeleger, ele terá dado o golpe; se não, ele tentará na bala. Enfim, ele é o cavalo louco que não tem nada a perder.