Não existe mais jornalismo diário. A pauta agora muda a cada 30 minutos. A leitura de notícias nos jornais parece cada vez mais algo inútil e enfadonho. Fatos se tornam desimportantes com rapidez alarmante. Ler jornais pela manhã ou à noite, antes de deitar, parece um exercício arqueológico de exumação de múmias.
Certamente, a internet, a TV e o rádio generalizam os assuntos e se concentram na matéria bruta. Aos jornais e revistas cabem entrar nas frinchas e nos detalhes dos fatos, fornecendo informações importantes que escapam das notícias veiculadas a cada minuto nos outros meios.
Só que, mesmo assim, o jornalismo impresso parece não estar conseguindo manter aquele espanto necessário para prender a atenção do leitor. Quando folheamos as páginas temos a impressão de que estamos acompanhando material velho. Só as lemos porque temos uma mania de reiterar concretamente informações que pertencem ao mundo etéreo e dar mais crédito àquilo que estamos segurando nas mãos.
Teóricos do jornalismo afirmam que a saída para os jornais impressos é combinar com certa maestria fatos, interpretação e opinião no mesmo texto. Com isso será possível diferenciar-se das mídias virtuais e manter a fidelidade dos leitores. Aqui e ali, temos visto essa experiência funcionar – mais na imprensa estrangeira do que na nossa -, mas desconfio que isso só está agregando públicos de determinadas faixas etárias ( acima de 45 anos).
Muita gente boa do mercado jornalístico imagina que em menos de dez anos o modelo atual de imprensa não exista mais. Com as redes sociais e outros instrumentos a comunicação talvez seja mais tribal. Não sei. Acho que os grandes conglomerados de mídia vão continuar se fortalecendo porque tem maior capacidade de ocupar espaço, sem contar que conseguem contratar equipes profissionais mais equipadas intelectualmente.
Por mais que se mudem os formatos, a criatividade e o poder de influência dos profissionais de mídia são os elementos diferenciadores que garantirão a permanência do jornalismo nas nossas vidas. O consumidor de notícias é apenas isso: ele deseja consumir fatos que lhe pareçam novidades. O produtor de notícias é alguém que olha o tempo todo para a vida depurando e perguntando-se a si mesmo se as coisas podem ou não gerar boas pautas para os leitores.
Neste aspecto, não podemos esquecer que os poderes, o cotidiano, os países e as sociedades são geradores de acontecimentos surpreendentes que, a todo segundo, faz germinar notícias que ajudam a formar uma ideia tênue sobre o mundo em que vivemos. Assim seguimos, pegando estilhaços do cotidiano, juntando-os, conectando-os, até formar um conjunto de experiências e conhecimentos que se transforme em elementos históricos.
Fico imaginando a riqueza de detalhes que os estudiosos dos próximos séculos terão nas mãos para contar para seus contemporâneos como foi o início do século XXI e como o material jornalístico os auxiliará para desvendar coisas que hoje não conseguimos porque estamos por demais dentro dos fatos. Sim, nada areja mais do que olhar para os acontecimentos com certo distanciamento crítico, buscando extrair deles o que foi essencial e descartando aquilo que foi simplesmente acessório.
Por mais abrangente que seja a busca por notícias, sempre alguma coisa escapa, passa batida, ou simplesmente é ignorada. Uma descoberta científica, uma tese surpreendente, um acontecimento mantido em segredo, um crime não investigado, uma jogada política desprezada, um movimento econômico não diagnosticado, enfim, fatos que crescem dentro de si mesmos e acabam se desdobrando como fatores determinantes para que a vida seja transformada.
Somos pequenos demais para controlar os acontecimentos. É aquela história: uma borboleta bate as asas numa ilha do Pacífico e provoca furações no Atlântico norte. O jornalismo tem essa fragilidade. Ele não sabe que forças está libertando, mas segue perscrutando e investigando fatos de maneira atabalhoada. Quem poderia imaginar que um esqueminha tolo de lavagem de dinheiro num posto de gasolina de Brasília poderia se transformar na Operação Lava Jato? Quem poderia imaginar que uma entrevista idiota de três ministros do Governo pedindo a cabeça do relator das pedaladas fiscais do TCU pudesse ser o fato determinante para mudanças estruturais do País?
É complicado. Uma coisa puxa a outra e ninguém sabe o que virá a ser. Onde, afinal, esconderam os ossos de Dana de Tefé?