Pages

A ausência de contexto que dita nossa realidade política


Está difícil viver no Brasil. Olhando em volta, está difícil também viver na Venezuela, na Colômbia, na Argentina etc. Ampliando o campo de visão, deve ser difícil viver em qualquer lugar do mundo.

Essa ideia de ter uma vida fácil em qualquer lugar do planeta depende muito da unicidade do pensamento. O que é viver bem? Na Suécia ou na Dinamarca a vida parece ser muito boa, mas tem gente que diz que o problema de seus habitantes é o tédio.

Costumo perguntar às  pessoas que habitam ao redor de meu cotidiano como anda a vida. A maioria reclama. O otimismo parece ter se despedido do Brasil. Reclama-se de tudo: da economia, dos políticos, do trabalho, da profissão, ou seja, no fundo o que se percebe é uma ausência de perspectiva triturando nossa alma a cada dia que passa.

Como está cada vez mais difícil enxergar alguma coisa boa em relação ao futuro, muitos voltam-se para o passado, acreditando ser possível o retorno de tempos melhores.

Daí, a preferência por alguns políticos - a maioria responsável pela nossa ruína presente - nas pesquisas de opinião. Num campo, tem gente que sonha com a volta dos militares; noutro, com a farra monetarista do Lulismo, com sua famosa fanfarrice populista.

Saudades de períodos que não voltarão nunca mais, a não ser num plano metafísico de uma ilha da fantasia que ficou pra trás. A nostalgia atual tem forte viés autoritário, principalmente com as incertezas momentâneas. Dizem que a democracia entrará em crise prolongada. Veremos.

Um dos grandes problemas envolvendo esta questão tem a ver com o nosso déficit educacional, cujo ponto visível é a impossibilidade de leituras de contextos. Nossa sociedade torna-se cada vez mais ágrafa e o analfabetismo formal impera.

A baixa escolaridade (ou a falta de solidez no processo de formação intelectual na estrutura da sociedade de massas) leva-nos a um fenômeno curioso: as pessoas querem viver satisfações imediatas, fruto de uma cultura que coloca o consumo no patamar central das nossas esferas de desejo.

Queremos tudo agora, mesmo que paguemos a longo prazo; o que importa, na verdade, é a satisfação imediata de coisas digeríveis para serem substituídas por outras e assim sucessivamente.

Quem leu Zygmunt Bauman ou perpassou por algumas de suas ideias em torno das sociedades líquidas pode compreender como as relações com a vida se tornaram fluídas, criando mais dúvidas do que certezas.

Olhando para a vida contemporânea, sou pessimista; sinto que vamos viver tempos piores; mas numa visada histórica longeva, utilizando do velho cacoete marxista de que a dinâmica do real sempre tem um eixo girando ao contrário, podemos estar dando o salto evolutivo mais importante da humanidade. Não sabemos de nada.

Noutras palavras, pra melhorar, tem que piorar.