De uns tempos para cá, a política e as celebridades, antes mundos paralelos, passaram a falar a mesma língua monossilábica.
Não se trata apenas de políticos que buscam, desesperados, a atenção e os holofotes. Nem de artistas que emprestam sua imagem a causas momentâneas. O fenômeno é mais amplo: é um processo de mão dupla em que ambos se reconhecem no mundo da visibilidade pública.
O escritor Mark Wheeler chama isso de “capacidade afetiva”: a habilidade de criar laços emocionais com o público.
Essa capacidade não depende de programas partidários nem de plataformas ideológicas. Depende, sobretudo, da maneira como uma figura (ator, cantor, candidato) consegue despertar simpatia, empatia ou, ao menos, curiosidade.
O conteúdo importa menos do que a conexão.
É por isso que os políticos aprendem a agir como celebridades. Estão em talk shows, dancinhas de redes sociais e entrevistas íntimas que lembram confessionários do big-brother.
Descobriram que a emoção, filtrada pela câmera, rende mais dividendos que longos e entediantes discursos sobre a realidade. No fundo, a política já não é tanto um espaço de debate racional, mas uma indústria de imagens.
O curioso é que o caminho inverso também se impõe. Celebridades entram em espaços políticos e tornam-se ativistas, militantes, porta-vozes de causas internacionais.
O cinema, a música, o esporte: todos fornecem exemplos de nomes que usam sua popularidade como moeda política. Não se candidatam sempre, mas influenciam tanto quanto (embora cada vez menos). Essa história começou no início dos anos de 1970, quando o cantor John Lennon circulava pelas ruas de Nova York berrando em um megafone contra a guerra do Vietnã.
Essa fusão levanta dúvidas sobre a democracia. A política, reduzida a espetáculo, não corre o risco de perder substância? Talvez. Mas convém não ser moralista demais. A política sempre precisou de teatro: tribunos, palanques, símbolos. A diferença é que agora a encenação é permanente, mediada pelas redes sociais, e qualquer deslize viraliza em segundos.
Subir ou descer é questão de sintonia positiva ou negativa com as maiorias.
O ponto central, portanto, não é negar a simbiose entre política e celebridade. É entender como esse jogo redefine o espaço público. Quando as pessoas se engajam porque gostam do ator, ou confiam no cantor, estamos diante de um novo critério de legitimação.
Não se discute o imposto, a lei, a reforma. Discute-se a narrativa, o carisma, a face cínica, mas sorridente na tela do celular.
E talvez este seja o destino inevitável da democracia de massas. No meio de tanto ruído nas vozes, só quem possui “capacidade afetiva” rompe aquilo que é tão convencional e sem graça. Resta saber se essa conexão emocional é suficiente para sustentar decisões políticas duras, impopulares, mas necessárias.
O espetáculo enche a praça; governar, no entanto, exige mais do que aplausos.