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Quando o jornalismo envergonha a sociedade


Na semana passada, a população de Campo Grande foi bombardeada com chamadas na TV Morena anunciando que o Fantástico apresentaria grave denúncia envolvendo a prefeitura da Capital. 

Tal fato eletrizou a mídia e as redes sociais. A pauta envolvia o uso de empresas terceirizadas para a contratação de funcionários fantasmas. 

As inserções não esclareciam o conteúdo da reportagem. A referência à Campo Grande surgiu por causa de uma rápida imagem mostrando a fachada da prefeitura. 

Mas isso bastou para fomentar fake news de todas as espécies. 

Em menos de 24 horas o assunto era comentado em todas as redações e nas principais rodas políticas da cidade. 

O Fantástico ia causar um abalo na imagem do prefeito com "revelações" gravíssimas de desvio de uso de dinheiro público. 

Um personagem histriônico ganhava destaque: tratava-se de um sujeito desconhecido que ostentava, supostamente na Flórida (EUA), carrões acompanhado de gritinhos "que crise, que nada!", dando assim um plus a mais no que vinha pela frente, quando no domingo (ontem, dia 17) todo o material fosse levado ao ar. 

Na quinta-feira (14) já se sabia do que se tratava: era material jornalístico requentado, pelo menos no que envolvia Campo Grande, embora se comentasse que havia "alguma coisa" sobre Ribeirão Preto (SP). 

Na sexta-feira, ficou-se sabendo que as "terceirizadas" eram as famosas OMEP e Seleta. Essas organizações ganharam destaque em 2015 e 2016 na imprensa campo-grandense por conta de contratações esquisitas, denunciadas pelo Ministério Público Estadual, que inclusive levaram à prisão alguns de seus dirigentes. 

Em 2017 esses contratos foram encerrados e o passivo trabalhista foi quitado. Hoje a prefeitura de Campo Grande não mantém contratos de terceirização de mão-de-obra. 

Mesmo assim, o burburinho político permanecia. 

Ontem (domingo) veio finalmente a reportagem: o foco e os personagens eram municípios do interior do Rio Grande do Sul. Em seguida, citou-se Ribeirão Preto. Depois, falou-se por cima de Campo Grande, sobre prefeitos (sem citar nomes) do período 2015/2016, envolvidos em irregularidades de terceirizadas. As organizações denunciadas não foram claramente nominadas. 

Ou seja: a grande reportagem do Fantástico era uma fraude propagandística. As entrevistas com membros do MP e do Judiciário foram cômicas. Tudo meio confuso, sem propósito, enviesado, picareta mesmo. 

E nós, os telespectadores, como ficamos? Acredito que somos apenas um detalhe nessa máquina de triturar reputações, com figuras posando de paladinos da moral e dos bons costumes, com certeza rindo dos otários que assistiram ao programa acreditando que temas relevantes seriam levados ao ar.

Que mico!