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Entre presos e feridos


Ninguém gosta de ser preso. As prisões são desagradáveis. As brasileiras são verdadeiras masmorras medievais, afirmou tempos atrás um Ministro da Justiça. Ficar confinado numa cela representa uma contenção moral e uma derrota pessoal. Entrar numa penitenciária e sair inteiro – independentemente do tempo de permanência – não é para qualquer um. 

Viver numa prisão é um horror que depende de disciplina, frieza psicológica e uma intensa capacidade de sublimação e alienação. 

Para aqueles em que o cotidiano de pobreza, injustiça e sofrimento foi incorporado à vida, ser preso pode significar apenas mudança de paradigma. Mas para aqueles que se situam nas camadas mais enriquecidas da sociedade, principalmente os que se aproveitaram dos fáusticos espaços entre o público e o privado, não é fácil. 

Como se sabe, as prisões foram feitas para a ralé que pratica crimes banais. Para os maganos, na verdade, foi feita a lei com suas frinchas tortuosas. Ela permite salvaguardas eternas, sobretudo para quem guardou dinheiro surrupiado para pagar advogados estrelados. 

Nos últimos anos uma nova clientela tem ocupado as nossas prisões. Empresários de proa, corruptos deslumbrados, ex-governadores, deputados, prefeitos, vereadores, enfim, aquela turma diferenciada que conhecemos. 

Ficamos sabendo que muitos estão deprimidos, purgando suas dores, preocupados com a reputação da família, sofrendo com aquela sensação de vazio que acomete quem acreditavam que o poder conferia o status de semideuses aos personagens que incorporaram. 

Para casos como esses, as cadeias talvez possam servir para reflexões mais aprofundadas acerca de feitos e valores cultivados pelas décadas de impunidade. 

Se de tudo isso as prisões melhorarem um pouquinho, tornando-as mais limpas, menos lotadas, mais eficazes, certamente se poderá dizer que mudamos. Caso contrário, possivelmente voltaremos ao estágio anterior.