Era o fim da linha para Adonias. Ana o flagrou novamente com outra. Desta vez, ela o pegou mordiscando uma pirigueti, irmã da vizinha. A situação ficou insuportável, não teve jeito.
Depois de descobrir mais um caso do marido, a mulher não se conteve. Com o orgulho ferido, deu o troco na mesma moeda e com o melhor amigo. Foi o maior barraco, brigas de família, divisão de mobília e troca de acusações.
Tempos depois, o casal se reconciliou. Houve lágrimas, perdão e promessas. Em seguida, promoveram uma temporada afrodisíaca em um chalé no Balneário de Sete Quedas. Os parentes aprovaram, fizeram votos de felicidades e varreram a sujeira para debaixo do tapete.
Até aí, tudo perfeito. Menos para a sogra de Adonias. A velha tinha faro de cão perdigueiro e percebia no genro certo gosto para algazarra quando pintava mulher nova no pedaço. Ela desconfiava de tudo e sempre alertava filha para os olhares maliciosos do marido mulherengo.
Para piorar as coisas, o cara tava de caso com uma cantora sertaneja. Os encontros terminavam sempre com os amantes embrenhados no meio dos matagais ou embaçando os vidros do carro.
Quando a situação conjugal ficava feia, Adonias ia bater desembestado na casa dos pais.
Chorava, simulava desmaios e vertigens. Tudo para chamar atenção da família. A mãe sensibilizada, o tratava como coitadinho e justificava a infidelidade do filho como sequela de uma doença na adolescência.
Em gratidão, Adonias gostava de emocioná-la no cultos da igreja mostrando-se arrependido. Lá, ele era figura presente na equipe de louvor emocionando os irmãos de fé com hinos sentimentais. A matriarca comovida dizia aos membros da igreja: “meu filho caiu por obra do inimigo, mas ele mudou”.
Com os fiéis e amigos da denominação, Adonias gozava de boa reputação. Era servo consagrado e voluntarioso no serviço de cântico, bem diferente do homem que olhava
para as mulheres como se as despissem mentalmente.
Mas longe dos olhares atentos dos familiares, ele pintava e bordava. A rotina de Adonias previa visitas semanais a casas de massagem. Para essas escapadas, ele tinha um álibi perfeito: trabalhava como cinegrafista em eventos.
Desde que deixou o ramo da informática, Adonias era fotógrafo e produtor de vídeo em tempo integral. O novo investimento contou com o patrocínio da sogra. A velha passou a apostar no empreendedorismo do genro para agradá-lo e reaproximá-lo da esposa.
A velha percebia certo distanciamento entre Adonias e a mulher. A fornicação e os corpos ardentes dos tempos de namoro, cederam lugar a uma rotina apagada e a falta de
libido no casamento.
Com agenda flexível, a nova profissão abria brechas para eventuais escapulidas. Pra isso, ele contava com a ajuda de um amigo fiel: Mirinho Funileiro.
O cara era pau pra toda obra e sempre quebrava um galho quando a coisa apertava para o lado de Adonias.
A coisa só não funcionou uma vez, quando Adonias já noivo, arrastou uma para debaixo de uma cachoeira e Mirinho não quis acobertar o amigo. Ao invés disso, entregou tudo de bandeja para Ana, dizendo que a deduragem tinha uma função pedagógica: ensiná-lo sobre fidelidade.
O tempo passou e Adonias encontrou seu alicerce. Está no segundo casamento e jura que não frequenta mais as casinhas de pecado, nem mesmo estende os olhares para as sirigaitas. Perto dos 40, o homem é de uma fidelidade impressionante. A mãe e a nova esposa agradecem, mas as antigas amantes lamentam.
Elas suspiram em dizer que nunca mais haverá um homem pegajoso, carinhoso e com o toque malicioso de Adonias. Pode até haver outros bons, mas jamais será a mesma
coisa.
Jornalista e escritor