Democracia: momentos de som e fúria
O título desse artigo é ruim. Não tive escolha. Tudo que se autoproclama "democrático" flerta com algum tipo de autoritarismo. Mas escrevo pegando gancho num comentário do Kiko Cangussu no facebook de que o PSDB de Mato Grosso do Sul ainda não se conformou com a vitória de Marquinhos Trad na Capital do Estado.
É verdade. A mágoa é grande. Um projeto de poder foi para o espaço. E tem muita gente que não aceita isso.
O inconformismo político é imenso de muitos lados. Mas não é só por parte do tucanato. O PT - e também a esquerdinha tonta e raivosa que pulula por aí - não está gostando de ver Marquinhos na prefeitura se dando muitíssimo bem nesse começo de gestão.
Dias atrás, depois de muitas reuniões, os partidos e os políticos derrotados no último pleito descobriram o óbvio: que a eleição de Trad mostrou o grande peso das redes sociais no processo. É preciso lembrar que Bernal tem um pessoal azeitado nessa área. Por isso, ele quase foi para o segundo turno, vencendo Rose Modesto: uma diferença de pouco mais de mil votos a favor dela. Ou seja: por um beiço, como se diz.
Os tucanos investiram nos meios tradicionais. Gastaram muito dinheiro pra nada. Não deixaram marca nem conceito para que Reinaldo Azambuja, em 2018, possa celebrar a República de Maracaju. Só sobraram críticas e muxoxos. E a coisa tenderá a piorar.
Por isso, agora, estão tentando acelerar o processo, investindo na rede, em blogueiros, em grupos bem estruturados de Whattsapp.
Só que nessa fase de entressafra eles continuam errando. O momento - ano de 2017 - é de colheita; a semeadura só virá novamente em 2018. Até lá esse pessoal já terá dado tudo que tinha que dar, permitindo que todos os anti-vírus de suas denúncias tenham sido criados na estufa dos fatos difusos.
Mesmo assim, tem gente acreditando que mergulhar na esgotosfera para desconstruir Marquinhos, Nelsinho, Puccinelli, Mandeta etc, etc, etc, espalhando denúncias sem pé nem cabeça, em textos mal escritos e confusos, poderá render algum ganho político na próxima eleição. Não vai dar certo.
Vou dar um conselho de graça: o momento é o de manter os olhos voltados para os interesses da sociedade. Ou seja, fazer o que é preciso para recuperar a economia, consertar os estragos dos últimos anos, incluir socialmente pessoas que se empobreceram demais em 2015/6, criar empregos, estabelecer bases sólidas para gerar mais renda - por isso a reforma da previdência é fundamental - e esquecer o tom beligerante da política.
Torço para que a RM dê certo. Acho, porém, difícil que isso venha a acontecer porque Azambuja está manietado por dois capitães do mato que estão acabando com seu governo. Só ele não entendeu a extensão e profundidade desse negócio. Vai acordar tarde para a realidade.
Ele talvez não saiba, mas quem deseja apeá-lo do poder em 2018 torce para que se mantenham esses dois personagens na posição de mando em que estão, pois eles são geradores de ódio e contrariedade que facilitarão a vida de todos daqui a algum tempo.
Essa é a vida...
Sei que o receituário neoliberal não é encampado por todos. Mas não há saídas. O governo Temer é o remédio amargo a ser tomado, gostando ou não. Com ele e suas medidas "impopulares" haverá pequenas melhoras na economia que, se comparadas aos anos anteriores, serão dádivas do céu.
Se Temer conseguir chegar até 2018 mantendo de pé a governabilidade e o pacto social do peemedebismo pragmático não haverá espaço para as esquerdas nem para políticos com sabor de chuchu (reparem como Alckmin está mudando o perfil, mandando prender e arrebentar...).
Nesse campo, avaliando cenários futuros (embora não arrisque fazer profecias), Marquinhos poderá ser um diferencial político de peso nos embates que vem pela frente.
É saudável que exista oposição. Na verdade, é ela quem vitaliza o processo e a dinâmica do poder. Sem erros, cobranças, denúncias, a coisa não anda.
O governador Azambuja precisa entender rapidamente que a interdição que ele vem fazendo na mídia para que não haja qualquer crítica ao seu mandato - além de estimular oposição subterrânea à família Trad e à André Puccinelli - só levará a um aumento substancial da raiva social e do mimimi geral contra sua gestão.
Isso será metade do caminho para colher uma derrota lá na frente. Ninguém gosta de governante narcisista. Exercer o poder numa democracia é saber fazer o embate na hora certa, compreendendo os momentos de som e fúria, sem ficar olhando demasiadamente para o próprio umbigo.
Pra finalizar, tenho a dizer o seguinte: recentemente a governadora em exercício Rose Modesto deixou claro num encontro que teve com esse jornalista que entendeu muitos dos mecanismos intrincados da democracia. Dou ponto pra ela.
Acho que ela pode ter encontrado a saída para os dilemas políticos em que vive.
Mas e os outros?