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A democracia deve agradecer a Trump


A imprensa está furiosa com Donald Trump. Ele não tem papas na língua. O homem é um perigo político: fala o que lhe vem à cabeça. É o maior narcisista de todos os tempos ocupando o poder no País mais poderoso do mundo. Tem gente tremelicando dos pés à cabeça.

A esquerda onipresente e a direita abobada não sabem o que fazer com o sujeito. Na primeira entrevista concedida ontem à imprensa americana Trump não se fez de rogado: deixou claro que está se lixando para o poder da mídia. Insultou os mais prestigiados jornalistas americanos cara a cara.

Pegou o manual do marketing político e rasgou na frente de todos os marqueteiros da humanidade. De fato, deixou claro que não está preocupado com o conceito de democracia firmado nos últimos 130 anos.

Os rapazes e moças inteligentes vão se assombrar cada vez mais.

De meu lado, estou me divertindo. Enquanto assistia à performance de Donald ontem na TV me lembrava de um ensaio do filósofo esloveno maluco-beleza Zlajov Zizek, publicado em seu livro "Em Defesa das Causas Perdidas"(Boitempo), que li alguns anos atrás, em que ele elogiava gente da estirpe de Hồ Chí Minh e Stálin, considerando-os fundamentais para a democracia existente no planeta. 

A tese de Zizek é mais ou menos a seguinte: ditadores sanguinários são fundamentais para sedimentar valores democráticos, pois nada vitaliza mais a democracia do que algo que a ameace. O processo democrático tem essa dinâmica: quanto mais em perigo mais ele se modifica e se adapta.

Essa é a vantagem do sistema: ele se fortalece à medida que alguém o combata, pois é da natureza humana criar os antípodas da liberdade para que se possa dar valor a ela. 

O texto de Zizek, talvez um dos mais notáveis Lacanianos de boutique dos tempos modernos, é uma pedreira, pois é difícil encarar suas ideias e atribuí-la depois a uma pessoa que vive no domínio de sua sanidade. 

Mas certamente ele ajuda a entender a importância de Trump nesse exato momento. 

Estamos cansados do politicamente correto, daquela "gente bacana", dos defensores de boas causas, dos chamados hipócritas do coitadismo, do pessoalzinho que adora um cachorrinho perdido na esquina num dia de frio e chuva, enfim, isso que convencionamos denominar de turma engajada que acredita num mundo melhor para todos. 

Trump vem para escancarar o grotesco dessas fantasias que vem dominando e alterando o senso de realidade das pessoas. O mundo é bruto. O mundo é cruel. As bestas humanas estão à solta e basta dar uma chance que elas chegarão lá: no comando geral das Nações. 

Bem-vindo ao maravilho planeta dourado de Donald Trump Gumb.