O moralista de fachada
Assisto ao jornal Nacional e acompanho a longa reportagem sobre a prisão do ex-governador Sérgio Cabral. O material foi caprichado. A vida e a obra do homem.
Ficamos conhecendo um Cabral magro, deputado estadual, tribuno combativo, paladino da moral e dos bons costumes.
Depois, passo a passo, ele subiu na vida, virou senador, governador e quase foi candidato à presidência da República; pegou gosto pelo dinheiro, por propina e objetos de luxo, e, agora, glória das glórias, vai conhecer a carceragem no complexo penitenciário de Bangu. Chiquérrimo...
No passado, qualquer denúncia de corrupção, lá estava Cabral batendo pesado, chamando a polícia, pedindo a prisão do meliante.
Qualquer tereteté ele pedia CPI.
E assim também foi o começo de Jader Barbalho, no Pará. Assim foi Collor, em Alagoas. Assim foi Lula a vida inteira. A gente se lembra.
Ou melhor: todo bom político tem que começar sua carreira pelo combate à corrupção, denunciando as iniquidades sociais, desafiando os poderosos de plantão.
Enfim, o cara escolhe um inimigo imaginário e segue em frente. Aqueles que não fazem isso, transitam pelo fisiologismo, pelo baixo clero ou são sustentados pelo submundo, tentando a sorte de outras maneiras. Dá certo, mas o sucesso não é o mesmo.
Pra causar frisson, o sujeito tem que saber pronunciar "corrupto e corrupção" com uma entonação que transita entre a convicção e o deboche. Tem que ter talento.
O caso mais estridente nos últimos tempos é o de Ciro Gomes. Esse está seguindo a cartilha. Nessa toada, um dia também o veremos seguir o caminho da riqueza e da carceragem. Tudo é uma questão de tempo.
O Brasil é uma grande estufa que gosta de cultivar o moralismo de fachada. O sistema político favorece essa postura comportamental de virgens diáfanas frequentando o mafuá.
Por um tempo, dá certo. Depois, como ninguém é de ferro, a máscara cai. Antigamente, nunca acontecia nada. Agora, nos novos tempos, tem dado cadeia.
Aconselho os políticos tentarem encontrar outra fachada.
O tempo do moralista está acabando. Quem acompanhou de perto a campanha de Donald Trump parece que está convencido que a nova pose agora será de "autêntico".
O cara tem que voltar a aprender a falar novamente "roubo, mas faço". Será meio chocante. Mas será sincero.