Pages

Bonito: juíza protela decisão sobre novas eleições sob pressão de Azambuja e cúpula tucana


Pressionada pelo governador Reinaldo Azambuja – que hoje se encontra na cidade participando de evento turístico - e pela cúpula do tucanato do município de Bonito, a Juíza Dra. Adriana Lampert vem resistindo a decidir se acata ou não as denúncias da Coligação liderada pelo candidato (então vice-prefeito) Josmail Rodrigues (PR) pedindo a anulação do pleito realizado em 30 de outubro e realização de novas eleições.

A Juíza vem protelando a decisão, descumprindo as normas e prazos processuais.

Para muitos, a magistrada está compactuando com os interesses do governador, o que pode ser considerado ato político que transgride as regras constitucionais de isenção e isonomia do Poder Judiciário.

Não será a primeira vez que isso acontece. No final de setembro passado, ela indeferiu liminarmente a Ação de Investigação por Abuso de Poder Político, que tentava colocar o candidato do governador, Odilson Soares (PSDB) como principal beneficiário na atuação da policia na cidade durante o processo eleitoral. Havia provas robustas, mas ela desconsiderou.

“Ela está sentada em cima do processo com medo de tomar a decisão certa” é o comentário na cidade, lembrando as ilegalidades com farta documentação probatória como vídeos, documentos, fotos e depoimentos de eleitores sobre os acontecimentos na última campanha eleitoral.

Em Bonito as eleições municipais ocorreram dentro de um ambiente atípico. O governador Reinaldo Azambuja designou para atuar no setor de segurança o delegado Roberto Gurgel de Oliveira Filho, do GARRAS.

Gurgel havia trabalhado em Bonito até 2015 e foi transferido para Campo Grande por causa de desavenças pessoais com Josmail.

O retorno do delegado foi considerado pela coligação política (“Força que vem do Povo”) que apoiava o candidato do PR, como uma espécie de retaliação e ameaça do Governo do Estado.

O próprio delegado, por ser desafeto pessoal de Josmail, devia ter sido considerado impedido de exercer qualquer função na cidade, principalmente num pleito eleitoral. Mas parece que isso foi fator preponderante agregado ao seu currículo.

O fato que surpreendeu a população foi que, após a eleição, com a vitória do candidato tucano com diferença pequena de votos, Gurgel participou efusivamente da festa de comemoração de Odilson Soares. Mostrou que não era agente de Estado e sim cabo eleitoral com poder discricionário.

Em todo o Mato Grosso do Sul, em Bonito foi o município onde se verificou a força do mandonismo e da truculência com uso do aparato repressor do Estado.

Gurgel deslocou dois policiais civis de Campo Grande para atuar na cidade. O genro do candidato tucano, proprietário de um posto de gasolina na cidade, alugou um veículo Renaut vermelho (chapa PYC 0012, da Localiza de Belo Horizonte) que passou a realizar, de maneira extra-oficial, batidas na cidade.

Agindo ao arrepio da lei, Gurgel prendeu, revistou, ameaçou eleitores. Tudo em nome do governador Reinaldo Azambuja. O delegado inclusive tem sido denunciado em Campo Grande pela OAB-MS em função da truculência e desrespeito às prerrogativas dos advogados.

Dois fatos em Bonito causaram constrangimento e tensão entre os moradores. Num deles, a irmã de Josmail, Marinez Rodrigues, foi interceptada numa das ruas cidade e teve seu veículo revistado pelo Delegado Gurgel sob suspeita de estar portando dinheiro vivo para a compra de votos.

Ela foi encaminhada à delegacia e humilhada pela delegada Jennifer Estevam de Araújo. No local ela foi obrigada a se despir e ficou nua durante mais de 20 minutos. Nada foi encontrado.

A notícia deixou a cidade tensa.

Noutro caso, os policiais sem uniforme do Renaut vermelho interceptaram num bairro da periferia da cidade José Eduardo Porto Rodrigues e Ana Carolina Golla e, de armas em punho, “colocaram a arma no peito do declarante” e avisaram que fariam uma vistoria no veículo.

O ocorrido foi filmado, gerou aglomeração popular, a PM foi chamada e todos foram para a delegacia.

Além disso, houve também busca e apreensão por policiais sem uniforme e ordem judicial na residência de Márcio Augusto Marongoni de Oliveira, na vila Jaraguá, sob a alegação de “que havia algo ilegal na casa, e que eles iam entrar para pegar”. Nada foi encontrado.

Nos bairros da periferia ficou claro que havia uma milícia em ação.

Atualmente o processo que pede a anulação e realização de novas eleições no município, com base em inúmeras ilegalidades, está em suspenso. A avaliação política é de que a Juiza Adriana Lampert age sob o mando do governador, desconsiderando a legislação eleitoral.

Agindo ao arrepio da lei, as forças policiais enviadas à cidade pelo governador fez tudo errado: prendeu, revistou, ameaçou eleitores. Sempre usando o nome de Reinaldo Azambuja.

O modus operandi do tucanato local nas últimas eleições - com ameaças aos eleitores, uso de polícia, abuso de poder, coerção violenta àqueles que preferiram aquela candidatura que não era a do Governo - levou a cidade de volta ao fim do século XIX, no tempo do mais primitivo coronelismo.

Bonito é uma cidade mundialmente famosa. É uma referência planetária de sustentabilidade e respeito à natureza. Anualmente, milhares de turistas visitam o local. As práticas de preservação estão entre as mais modernas conhecidas.

Mas do ponto de vista político o governador e o tucanato decidiram reviver os tempos do faroeste.
Atualmente, devido a uma cirurgia de câncer intestinal o prefeito da cidade Leonel Lemos de Souza Brito, o Leleco, foi substituído interinamente pelo seu Vice Josmail Rodrigues ( candidato a prefeito que recebeu seu apoio).

Todos esperam que a juíza tome uma decisão nos próximos dias, realizando novo pleito, para que dessa vez a cidade tenha uma eleição tão limpa como as águas que correm pela cidade.

Fac-símile de documento de denúncia sobre repressão aos eleitores