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O jornalismo político ficou cego e nega a enxergar o óbvio


Jornalistas políticos não gostam de ser criticados. São geralmente figuras vaidosas que acreditam trazer a insígnia da profecia tatuada na testa.

São adeptos da famosa tese, tratada com ironia no último romance de Umberto Eco, "Número Zero", de que não é a noticia que faz um jornal e sim o jornal que faz a notícia.

Os caras pensam assim: se os fatos são incompreensíveis e vão contra meu pensamento, então torturo as ideias, distorço a realidade e crio um mundinho particular para chamar de meu e, assim, convencer meus leitores de que estou correto.

Nas páginas de assuntos políticos é possível ouvir os gritos sufocantes dos calabouços nos quais as notícias são urdidas para tentar alterar o rumo da história. Risível.

Nestes tempos de pré-campanha as especulações correm soltas. A usina de sonhos e delírios funciona a pleno vapor. A cada linha de texto trama-se uma mentira torcendo para que ela se transforme em verdade.

É sempre a mesma história:fulano articula-se com sicrano, que define o quadro com beltrano, fechando esquemas com propano, cuja candidatura será apoiada por celeno, que, em função das mágicas de metileno,  truncou as  manobras de oxigênio. Com isso, 2018 será a vez de propileno.

Ou seja: o noticiário político nunca leva em conta a sociedade. "O povo é apenas um detalhe; o eleitor é apenas massa de manobra, que pensa e age conforme as especulações que publicamos".

E assim incendeia-se a fogueira das vaidades, atribuindo poderes supra-terrenos a verdadeiras cavalgaduras do raciocínio dialético. Leiam as páginas políticas e vejam quanta insensatez.

Sou da humilde opinião que o jornalismo político deve urgente trocar de óculos. A visão da mesmice embaçou-se. As lentes estão gastas. Está tudo muito nublado. Os olhos precisam arejar-se para entender a coisas de forma mais claras.

Como? Deixar de ser massa de manobra de interesses de cúpulas partidárias, que só usam a notícia para fazer negócio sujo, e começar a ouvir as pessoas reais, que estão nas ruas, querendo mudar a estrutura das relações políticas e eleitorais que estão em vigor.

É como aquela musiquinha: tem tanta vida lá fora...