Comitiva brasileira, com dois senadores sul-mato-grossenses,
foram aos EUA negociar as tarifas de Trump: só faltam agora fazer a genuflexão. Patético.
Enquanto o Brasil comemora a saída do “Mapa da Fome” liberado ontem pela ONU (Organização das Nações Unidas) e o Senado se ocupa em ressuscitar fantasmas como o voto impresso, dois senadores de Mato Grosso do Sul integram a comitiva brasileira em Washington numa natimorta missão diplomática: negociar com Donald Trump o fim do tarifaço que ameaça o intercâmbio comercial entre os dois países.
No papel de protagonistas desse roteiro tragicômico estão Nelsinho Trad, presidente da Comissão de Relações Exteriores — o caixeiro viajante de emendas parlamentares e selfies protocolares — e Tereza Cristina, a “rainha do veneno”, fazendeira que nem como parlamentar ou ministra da Agricultura, de Bolsonaro, por razões óbvias, deixou de fazer vista grossa para o desmatamento no Brasil e, como consequência disso, das queimadas no Pantanal do próprio estado. Pior, empunhando a bandeira do agro “pop”.
Tereza leva na bagagem mais que o silêncio constrangido da viagem: carrega a lembrança de sua antológica declaração, quando ainda ministra de Bolsonaro, de que o brasileiro jamais passaria fome porque “tem muito pé de manga por aí”, principalmente em terrenos baldios. Hoje, com o Brasil fora do Mapa da Fome, o que sobra é o sarcasmo histórico — e a torcida para que o tarifaço de Trump não incida sobre manguezais, nem sobre os laranjais do clã bolsonarista.
Nelsinho, por sua vez, parece em romaria: rosário na mão, reza a Tio Sam para que a negociação renda dividendos políticos suficientes para garantir a continuidade do seu mandato. A foto num hotel em Washington soa mais como campanha eleitoral disfarçada do que diplomacia efetiva. E, para dar o tempero de pastelão, surge o fogo amigo de Eduardo Bolsonaro, exilado de luxo em Washington, que não apenas torce abertamente para que a missão fracasse, como garante (em entrevista ontem ao Estadão de SP) que vai fazer de tudo para que seus colegas parlamentares brasileiros voltem de mãos abanando. Para ele, o que importa, é que “papis” não vá para a Papuda.
Na mesma comitiva, o astronauta também bolsonarista Marcos Pontes observa tudo em silêncio orbital. Se o fracasso for total, resta a ele convidar os colegas para um desvio de rota: de Washington direto para Cabo Canaveral, aguardando carona na próxima nave de Elon Musk — o trumpista de foguetes — rumo a um planeta onde tarifaço e fake news sejam ficção científica.