Senador Nelsinho e deputado federal Vander Loubet
estão em rota de colisão por causa de Fábio Trad
Tenho lido nos jornais de Campo Grande uma atividade febricitante da classe política discutindo candidaturas e cenários eleitorais de 2026.
Claro, é natural que isso se transforme em pauta jornalística e meia dúzia de interessados discutam os assuntos publicados. Vale a pena?
Volta e meia sai também algumas pesquisas, que selecionam a dedo alguns nomes para "testá-los" junto ao eleitorado.
Na verdade, trata-se de publicidade disfarçada para a distração dos desavisados. Não se sustenta. Na ponta do lápis 70% (ou mais) do eleitorado não está dando pelota para o jogo sucessório. Mas quem vive do assunto se diverte.
Alguns desenham cenários no cálido céu azul de domingo, outros invocam premonições xamânicas e também existem aqueles que entretém seus pares falando com certeza absoluta sobre quem será e quem não será eleito. São nossos profetas distraídos, que se autointitulam "especialistas em ciências políticas".
Bem, todos sabem que a eleição acontece em 2026. Até lá é muito útil brincar no parquinho, exercitando poderes mágicos de adivinhação.
Os dirigentes partidários se movimentam e a turma que tem na atividade eleitoral um modo de ganhar a vida se prepara na nobre tarefa de fazer suas respectivas tabelas de preço.
Nada disso é pecado. Nada disso fere a moralidade. Tudo está inscrito na ordem natural das coisas. Pretensos candidatos precisam fazer contas, bem como jornalistas, empresários de comunicação, marqueteiros e cabos eleitorais precisam balizar seus preços para "fazer as campanhas rodarem".
Além disso, é preciso estudar, analisar, perceber tendências, enfim, ter capacidade de formular uma visão previlegiada (ou nem tanto porque tem muito oportunista e professor de deus nesse meio) para saber o que a sociedade aspira e o que a motivará racional e emocionalmente a votar neste ou naquele.
Eleição é algo muito complexo. Portanto, organizar nichos de apoio, curral eleitoral, base de formação do discurso, respostas que satisfaçam as correntes ideológicas em voga, por isso é preciso ter em mãos não só elementos estatísticos como uma boa dose de intuição para perceber os sinais dos ventos.
É neste momento que se decreta a morte provisória do realismo e, como Alice, de Lewis Carrol, entramos no País das maravilhas.
Por enquanto, percebemos que alguns de nossos atores estão espiando pelos frestas das cortinas enquanto a platéia espera. Há um desejo manifesto da imprensa em criar um nome alternativo que possa fazer frente a Eduardo Riedel, que, de longe, é aquele que tem todas as chances de ser reeleito governador. Os demais - que buscam o parlamento - vivem a terrível incógnita de viver no labirinto com a besta fera.
Para o mundo dos negócios da política a certeza não interessa muito. Sem perspectiva de competição, o dinheiro tem sua circulação limitada, as campanhas se tornam baratas, e não se vê fluir os recursos, principalmente aqueles provenientes, em certa medida, dos fundos partidários.
Estrategicamente, é natural que se invente narrativas para melhorar o índice de competividade, criando números fajutos de pesquisa, turbinando escândalos submersos, confrontando os dados de nossa realidade, enfim, enfraquecendo a candidatura mais forte, criando o frisson ilusório do segundo turno. Tudo isso é do jogo, como se diz.
Só a título de exemplo, recentemente estão preparando a invenção da candidatura ao governo do Estado do advogado Fábio Trad, pelo PT . Um bom nome. Ele serve aos propósitos do partido não só para gerir a distribuição de recursos do fundo partidário, como pode também atrair uma parcela da classe média progressista.
Só questiono sua densidade eleitoral, pois a história diz que sua vida política é oscilante. Ele sempre foi eleito pelo conservadorismo e carregado pela estrutura dos partidos mais fortes. No PT de Mato Grosso do Sul é um teste a ser experimentado pelas maquinações da esquerda ululante. Vai dar certo? Nem o capeta sabe.
Mas aqueles que não são deste mundo já perceberam a trama. Fábio seria uma espécie de escada para candidatura ao senado de Vander Loubet, criando problemas para a candidatura de reeleição de Nelsinho Trad, que pretende bater chapa com Reinaldo Azambuja e fechar assim as duas vagas senatoriais. Com um irmão desse, não se precisa de inimigo.
A direita está com a ideia fixa de fazer maioria na Câmara Alta. Dominando o senado - imagina-se - será possível abrir processos com êxito para o impeachment de ministros do Supremo. O PT e a esquerda sabem que o jogo será este, confiando que a atual estrutura das bancadas do Congresso permaneça quase a mesma.
Mas o futuro é incerto. Não dá para antecipar cenários, principalmente quando se percebe que ele ficará cada vez mais confuso. A polarização afetiva não permite que se faça profecias, sobretudo quando se constata que a sociedade está muito dividida, disputando palmo a palmo, todos os dias, o desgaste moral do adversário.
Isso, sem colocar na equação - o que é outro assunto - o judiciário militante na jogada.
O mais próximo a que se chega, diante de condições objetivas, é que a economia brasileira - que hoje se encontra em condições razoáveis - poderá viver no próximo ano momentos de piora intensa. O resto ficará por conta da classe política, que viverá aquela brincadeira de Manoel Wenceslau de Barros, que dizia uma parte eu minto, outra invento.
Que deus salve o Brasil!