Faleceu ontem (13/5/25) o já agora saudoso Pepe Mujica, em sua chácara nos arredores de Montevidéu.

Foi-se embora um grande homem. Da mesma estirpe de Nelson Mandela, falecido em 2013.

São para mim os dois homens deste século. Ambos presos políticos. Mujica por 15 anos, Mandela por 25 anos, libertados por conta do raiar da Democracia em seus países.

Após tantos anos de cárcere, libertos, ambos assumiram o Poder supremo em seus países, em eleições livres e democráticas, e, após, tornaram-se ícones dos ideais de liberdade e tolerância, não só perante os seus, mas perante todos no mundo inteiro.

Seria de se esperar que, com o poder nas mãos, tentassem implementar seus ideais revolucionários: Mandela, a supremacia racial dos negros contra os boêres e os brancos; e Mujica, a implantação do socialismo. Mas não.

Mandela convocou um branco (De Klerk) para ser seu Vice na eleição, numa clara demonstração de que seu Governo devia ser o da tolerância, o da África igual para todos, negros e brancos.

Já Mujica procedeu as mais profundas reformas sociais em seu País, porém dentro dos marcos do capitalismo, com diminuição sensível da pobreza, instituindo saúde para todos, garantia de liberdades individuais em seu mais amplo sentido (permissão controlada, por exemplo, do uso de maconha), entre outras tantas reformas.

Ambos foram, cada um a seu tempo, cidadãos do mundo, porque, libertos do cárcere, extrapolaram as amarras de suas próprias ideologias, a favor de um mundo novo, democrático e igual para todos !

De Mujica guardo apenas uma frustração pessoal : a de não ter podido comparecer a uma audiência agendada com ele em seu sítio, isto porque eu, incorrigível desorganizado com meus pertences, fui impedido de embarcar no vôo para Montevidéu, no aeroporto de S. Paulo, por conta de ter me esquecido de portar minha identidade, deixada aqui em C. Grande.

Tive que voltar. Perdi o vôo da História !

Carmelino Rezende, advogado