Hábitos simples podem carregar uma revolução silenciosa. Há cinco meses, resolvi mudar o jeito de como começar meus dias. Após assistir a um vídeo do ator americano Denzel Washington, passei a praticar um pequeno exercício: acordar e ficar os primeiros 30 minutos longe do celular.
Sem whatsapp, sem redes sociais, sem urgências. No lugar disso, uma oração, um capítulo da Bíblia e a tentativa de começar o dia descalço, sentindo o frescor do piso gelado, literalmente.
Aos poucos, essa meia hora se expandiu. Hoje, só toco no celular, quando entro no carro. Não é um sacrifício, é um alívio.
O silêncio digital virou um antídoto para o excesso de estímulos que nos acompanha desde as primeiras horas da manhã.
A enxurrada de conteúdos, a ansiedade por uma resposta imediata, a compulsão por estar “por dentro” de tudo. Isso me angustiava.
O que essa experiência tem me mostrado até aqui é que, sim, é possível se desconectar (ainda que por períodos curtos). É necessário. Não é só uma questão de saúde mental: é também sobre identidade e autonomia. Eu vou continuar usando a minha memória.
Não quero abrir mão da minha forma de pensar. Permito-me assimilar novos valores, mas me recuso a sacrificar meu modo de estar no mundo. Ainda valorizo o encontro presencial, a conversa sem interrupções, o afeto que não precisa das telas. O avanço tecnológico é inevitável, a alienação, não.
A ideia de que precisamos estar o tempo todo conectados é um mito moderno com consequências concretas: perda de foco, cansaço crônico, empobrecimento do repertório emocional. O excesso de informação virou perturbação. E a ausência (antes vista como introspecção) foi reclassificada como negligência, desatualização ou desinteresse.
Talvez seja hora de recuperar o direito ao silêncio. O direito à contemplação. De simplesmente não estar disponível por algumas horas e não responder mensagens na hora.
Experimente deixar o celular na mesa e viver outras experiências: ler, caminhar, observar, refletir e cultivar aquela preguiça na cama. Desconectar-se por escolha, é meu gesto de resistência que me devolveu algo precioso: a vida real.
Não se trata de romantizar o passado ou demonizar a tecnologia. Nada disso. Spotify me deu a oportunidade de conhecer muita música boa, como os álbuns do americano Cory Wong e da brasileira Luana Mallet.
Os streamings me deram a chance de montar uma playlist da Elis Regina, Beatles e do maestro Ennio Morricone.
Trata-se de escolher quando e como estar presente. E, quem sabe, lembrar que antes da conexão digital, havia uma conexão ainda mais poderosa: com o outro, com o tempo, com nós mesmos.