Pages

Pedro Mattar: Garçom, por favor, a conta...


Andando por ai acabei conhecendo todo tipo de garçom e suas diferentes atitudes no indispensável serviço que nos prestam.
No Brasil temos o costumes de chamar os garçons de várias maneiras sem que reclamem dos nossos gestos. Em Paris, não se atreva a chamar um garçom levantando as mãos. Se você acenar com o braço para que venham até a sua mesa, eles vão ignorá-lo até você ir embora.

Para que ele venha basta cruzar o olhar com eles e fazer um pequeno aceno com a cabeça. Eles virão até sua mesa na primeira oportunidade que surgir. Antes, não. 

Na Espanha nunca peça ao garçom que limpe a sua mesa de excessos, mesmo que a mesa esteja cheia de excessos.  Deixe que eles percebam essa necessidade, pois o garçom espanhol acha que isso não é você que decide, é ele.

O Brasil é um país de bons garçons, conheço muitos.  Na comparação com os garçons de outros países nós somos muito bem atendidos e a maioria dos frequentadores não sabe.  Existem os garçons bons, os bem intencionados, garçons inexperientes mas com futuro e, garçons que não gostam de ser garçons e estão ali de passagem para outro emprego.

Na minha opinião, para os que gostam desse trabalho, ser garçom é uma excepcional profissão para ganhar dinheiro. Conheço garçom (em restaurantes de prestígio) que ganha tanto quanto executivos médios de multinacional. Mas esses são os garçons determinados, fazem por ganhar o que ganham. Oitenta por cento dos seus rendimentos são provenientes de propinas, um mérito decidido por clientes bem servidos, gratos e confiantes no seu trabalho.

Independente da qualidade de um restaurante, identificar um bom garçom  não é tão simples. As virtudes de um bom garçom, são contraditórias sob diferentes ângulos de avaliação.

Um amigo recomenda a quem for abrir um restaurante que não contrate  o melhor garçom da cidade. Diz ele: o melhor garçom da cidade é o melhor amigo do cliente e o pior inimigo do dono do restaurante. Diz ele que esses garçons servem duas doses de uísque no lugar de uma. E me deu uma porrada de explicações, que não vou reproduzir aqui.

Eu conheço ótimos garçons e tenho certeza de que não são inimigos dos patrões. Outra forma de olhar a questão é a seguinte:  você prefere um garçom correto, rápido de serviço, porém quieto, atento às solicitações e olhar abrangente (180graus), ou um outro falante, que faz mesuras e sugere o prato do dia antes que você pense em pedir?  Seja qual for a sua escolha, aprenda que garçons são uma instituição com a qual você  não deve criar conflitos, jamais.  Nunca, mesmo.  Nem no auge da indignação.  Porque os garçons podem ser fantásticos no trato e atendimento, mas têm uma peculiaridade: guardam na memória os mínimos detalhes que acontecem na mesa.

Não esquecem nunca uma desfeita. Até porque o cliente bebe, e eles naquele momento, não.  Mesmo que você nunca mais retorne ao restaurante onde tratou mal um garçom – por precaução – ele muda para outro e você não lembra do rosto dele.  Mas ele não esquece o seu. Como todos nós, o garçom sempre aguardará uma oportunidade de vingança. 

Pior, você jamais saberá se ele se vingou ou não, naquele curto trajeto que vai da sua mesa até a cozinha.  A única receita contra isso é não brigar com garçom, NUNCA. O seu tom de voz como cliente, na primeira abordagem pode decidir o rumo do seu maior ou menor prazer em um restaurante. Existem várias possibilidades de você melhorar seu prazer, mas a cumplicidade é a melhor opção.

Use o respeito para encurtar caminho.  Garçom aprecia pessoas que sabem valorizar o seu trabalho e que demonstrem respeito por ele.  Invista confiança nele, naquilo que ele sugerir, valorize sua sugestão dizendo: puxa, essa é uma boa ideia, diga que não tinha pensado nisso, agradeça. Ele vai sair dali comprometido com você e com a sugestão que ele fez, a qual terá que corresponder ao que ele mesmo sugeriu. Por isso irá pentelhar o cozinheiro, o chefe e o encarregado de pós-produção, querendo que tudo saia perfeito.

Depois que  ele trouxer o prato e você ficar satisfeito, é só cultivar a relação, mostrar que ele é o máximo, fez um bom serviço e deixar uma boa gorjeta. Deixe a gorjeta correta, nunca menos.

Clientes experientes sabem quando podem nomear o garçom como seu representante no recôndito das cozinhas, onde não pode ver o que se passa com aquilo que irá comer. E o garçom inteligente, o bom garçom, não deixa acontecer, lá dentro, nada estranho para o seu apreciado cliente . 

É uma cumplicidade importante para quem gosta de comer e beber bem. Quando for ao seu próximo happy hour, almoço ou jantar, pense nisso seriamente.  E sorria ao fazer seu pedido..