Novo Papa é escolhido carregando
Francisco nas costas: até quando?
Nos últimos anos, a esquerda brasileira encontrou um novo ídolo: o Papa Francisco. O que surpreende não é a admiração por um líder religioso que fala de justiça social e defende os gays e os pobres.
O que espanta é a forma como essa admiração virou devoção, quase uma fuga. Em vez de encarar os problemas reais e os debates difíceis da política, a nova esquerda prefere transformar tudo em sermão. A política virou um tipo de culto. E quem não se ajoelha às ideias progressistas é chamado de racista, machista, homofóbico e reacionário.
Essa mudança de tom diz muito sobre a crise que atinge a esquerda no mundo inteiro. Em vez de se apoiar em ideias, projetos ou em lideranças com capacidade de diálogo, ela se apega a novas simbologias e o papado é um exemplo disso, virou uma espécie de certificado moral.
A biblioteca da esquerda está cada vez mais esquecida. O barulho das ruas, dos memes e dos posts nas redes sociais tomou o lugar dos livros de Marx, Gramsci e outros pensadores que, no passado, inspiravam gerações de baderneiros com pose "revolucionária".
Hoje, o intelectual de esquerda parece mais interessado em lacrar no Instagram e Facebook do que em ler e pensar. E a complexidade deu lugar a frases de efeito. Simples assim...
Na lógica progressista, tudo precisa ter um lado certo e um lado errado. Estão sempre esticando a corda e quem ousa a discordar está moralmente errado. É como se todo debate precisasse virar um julgamento. E assim, a esquerda vai perdendo a capacidade de escutar. Pior: perde também a chance de convencer. Quem já se considera iluminado não sente necessidade de aprender nada novo. Certo?
A aclamação recente de Leão XIV, o novo Papa americano, reforça esse modo de pensar. Ele é visto como uma provável profeta progressista, em parte por ter vivido no Peru e “conhecer a realidade dos imigrantes latinos na América”.
A esquerda festejou como se a experiência pessoal do novo Pontífice bastasse para decretar, que qualquer crítica à imigração desordenada é xenofobia. Erro grosseiro. O debate sobre fronteiras, trabalho e cidadania nos EUA é complexo demais para ser reduzido à experiência de vida do Cardeal, por mais simpático que ele seja.
Ao abraçar essa visão simplista, a esquerda troca a política pelo coitadismo e se afasta ainda mais do mundo real.
A esquerda já foi ousada, provocadora, cheia de ideias. Hoje, muitas vezes, parece uma sombra do que foi. Troca o enfrentamento do real pela zona de conforto do discurso moral. Acredita que pode mudar o mundo sem sair da bolha. E, com isso, vai se distanciando justamente daqueles que mais precisam de mudança — os pobres, os excluídos, os esquecidos.
Talvez seja hora de voltar para o chão. Afinal, a política é feita de encontros e desencontros, de erros e acertos. O Brasil precisa de ideias e a esquerda, se quiser voltar a ser relevante, vai ter que reaprender a conviver com a dúvida, com o conflito e com a imperfeição.