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Dante Filho: a esquerda e os progressistas estão errando por excesso de intolerância

Bolsonaro e Lula continuarão protagonizando a polarização afetiva, com seus exércitos de fanáticos a perturbar qualquer resquício de inteligência independente no brasil

 

Depois da divulgação de pesquisas recentes que mostram uma acentuada queda na popularidade de Lula percebi nas redes um recrudescimento nas postagens das bolhas lulistas e progressistas.

Ele passaram a copiar o modelo bolsonarista para produzir conteúdos difamatórios contra qualquer um que contrarie suas teses, no velho esquema do gabinete do ódio. 

Agora mesmo, no início do julgamento da núcleo duro da tentativa do golpe, qualquer comentário que relativize a questão abre-se espaço para uma espécie de invasão bárbara nas suas páginas. Dá vontade de rir, mas temos que manter a postura civilizada com toda a tropa. A turma do PT parece uma massa de robozinhos obedecendo as orientações do comitê central. É divertido.

Com Bolsonaro & Cia tornados réus o debate público vai se acirrar. O combate das narrativas se dará nas redes, nas ruas, dentro das casas, criando aquele ambiente tóxico conhecido porque, com convicções arraigadas, não há razão que prevaleça. 

Na guerra de versões, as paixões vão transbordar. Será um vale-tudo, principalmente porque essa discussão envolverá a campanha de 2026, deixando de lado os assuntos que deveriam interessar o País. Triste Brasil.

Aquele papo de que a esquerda é humanista, inteligente, ética, defensora da diversidade, tolerante e avessa ao jogo sujo da propagação de desinformação e fake news deixou de ser verdade (nunca foi, mas havia essa autoatribuição dos militantes) e hoje prevalece o jogo bruto na base do "se eles fazem nós também fazemos".

E a intenção é clara: a ordem é melhorar a cooptação e produzir a mitigação do desgaste de Lula e do Governo para vencer a próxima eleição. Só que tem um troço esquisito aí: esse pessoal, além de estar pregando para convertidos, está enraivecendo aqueles que, por enquanto, tentam manter certa equidistância e neutralidade do processo. 

A gente sente nas ruas, dentro de casa, na roda de amigos, um aumento de temperatura da intolerância, à medida que a polarização e campanha perpétua tomam conta do cenário. O petismo e os "defensores da democracia" não imaginam a fervura que estão criando nas almas das pessoas. Não terminará bem essa história.

De um lado, a direita mostrará as mazelas do País com aquela brutalidade peculiar; de outro, o governo iniciará a fase de gastança e acusará os golpistas qualquer um que tentar tomar poder para "implantar uma ditadura". Será um festival de bobagens irreais a toldar nosso imaginário.

Bastará usar uma palavra fora do script, lançar uma ideia exótica, difundir uma opinião que foge do enquadramento adotado pela turba que vê fascista até dentro do armário do banheiro para que o rótulo "bolsonarista" seja ferrado em brasa em sua testa como forma de mostrar para o público que você não faz parte dos puros, dos virtuosos, sendo, de imediato,  jogado na vala do antidemocráticos, autoritários, machistas, ogros, gado etc.

Desse jeito, convenhamos, não se conquista eleitores. Ao contrário. Estabelece-se ranço, ressentimento e cultura do ódio. O Brasil vai continuar piorando.

Tenho costume de publicar frases no facebook sobre o momento político. São opiniões pontuais de acontecimentos da hora. Confesso que muitas coisas são irrefletidas, escritas no impulso, e não servem para humilhar ninguém.

Mesmo assim, em menos de cinco minutos, a turma do PT & Congêneres entra chutando, sempre usando o epiteto acusatório "bolsonarista!" "fascista", "idiota", como se insulto pudesse ser um bom argumento para você mudar seus conceitos. 

Estou cansado de escrever sobre minha posição política: entre a esquerda e a direita brasileira me declaro ateu, sem medo de errar. 

Mesmo assim, apanho todos os dias.

Mas os amiguinhos e amiguinhas insistem. Eles acham que constrangimento, humilhação e ameaça fará com que você adira às suas teses malucas e equivocadas, e passe a fazer o L bem ao gosto dos mais fanatizados.

Claro que acho de extremo mau gosto a postura do pessoal que fica gritando "mito!", mas estranhamente estes perturbam pouco, talvez porque eles saibam que seu líder pode fazer o diabo que eles não soltam a mão do cara.

O caso de Lula é diferente. A esquerda tornou-se minoritária e cada vez mais depende do centro e do Centrão para continuar respirando. O medo pânico de perder o poder cria paranoias coletivas da qual não escapa ninguém. Por isso, esse pessoal está fazendo e acontecendo no Congresso com a ajuda do Judiciário Lulista. 

Por ora, enquanto as pesquisas não mostrarem que Lula se recupera, viveremos esse inferno na terra.

O STF pode ser um bom aliado institucional. Mas é um péssimo cabo eleitoral. Na guerra das narrativas ele está perdendo. Quem analisa sinais, sente que o quadro tenderá a radicalizar, principalmente com os problemas econômicos que o País vai enfrentar. Acho que a turma do STF e PGR ganha muito bem para fazer teatro.

O centro ideológico é um espectro da sociedade extremamente movediço, que pode estar hoje de um lado e amanhã, de outro. O desespero da esquerda é tentar fidelizar esse eleitor com suas teses. Por enquanto, não está dando. Mas pode mudar.

Daí que quem demonstra pensar por conta própria sofre. Respingou fora do penico vira inimigo. Viver no Brasil está ficando muito perigoso. E cansativo.