Da mesma maneira que apareceu, está desaparecendo: as pautas politicamente corretas, o identitarismo e a ideologia Woke estão, aos poucos, sendo jogadas na lata de lixo da história.
A explicação já foi exaustivamente estudada: com o fim da União Soviética e os conceitos de luta de classes, do "capitalismo selvagem", da exploração do homem pelo homem, da vida heroica do proletariado, enfim, de todo esse imaginário que se estabeleceu depois da segunda guerra, gerando a contracultura, o movimento hippie, o rock pesadão, os Beatles e os Rolling Stones, as drogas leves e pesadas, de toda essa massa disforme de tendências e pensamentos, de repente gerou-se um troço que encontrou seu ponto de prazer no que chamamos sociedade de consumo.
O mundo descobriu seu jardim das delícias. Mais incrível: fomentada pela China, um País dito socialista. Irônico.
A esquerda ficou sem chão. As bases estruturais que davam sustentação a uma ideologia que se pretendia libertadora micou. Nasceu daí o consenso de Washington, indicando que liberalismo havia vencido a guerra fria. Francis Fukuyama publicou seu famoso ensaio "o Fim da História e o último Homem", em 1989, cravando a última estaca no peito do Marxismo, coincidindo com a queda do muro de Berlim, chegando até os dias de hoje com a ascensão da direita, que, como se percebe, mamou gostoso no peito das esquerdas, adotando sua metodologia e estratégias para ganhar espaço político na dias atuais.
Houve então uma simbiose produzida pelos fluxos químicos dos radicalismos ideológicos, gerando então o bebê de Rosemary da modernidade: o identitarismo, chamado também nos Estados Unidos de movimento Woke.
A esquerda universalista, emancipatória e antiautoritária, na análise precisa do antropólogo Antonio Risério ,"viu-se reduzida ao mínimo, quase à insignificância, pelo menos nos meios acadêmicos - e, por isso mesmo, em matéria de visibilidade social", necessitando assim, avidamente, de um novo modelo conceitual para justificar suas lutas e sua própria existência.
Assim, como escreveu Risério, "um novo esquerdismo, gerado pela crise do comunismo, elege o muçulmano ou negro como o arquétipos do oprimido e sucedâneo do proletariado", e ressurge assim na esteira dessa nova postura avant la lettre a partir de um conjunto de ideias que davam novo status ao feminismo, à luta emancipatória dos homossexuais, criando um código de conduta que, de maneira raivosa, fomentava a queima da branquitude na fogueira do cancelamento eterno.
Foi assim que '"a raça, o gênero, a identidade se tornaram as bases de uma ideologia nascida nos Estados Unidos (estimulada no Brasil pela Fundação Ford) , que pretendeu substituir o socialismo em crise", escreveu Risério em seu livro "Identitarismo"(LVM Editora/2024), tornando difícil a vida de quem havia "cometido o crime" de ter nascido branco, hetero e (pecado dos pecados) adepto à religiosidade padrão e ao machismo tradicional ensinado pela mamãe.
A obra de Risério (assim como centenas de outras no mesmo tom crítico) tem algo de premonitório.
Trata-se de uma critica contundente ao modismo autoritário que tomou conta das esquerdas e das franjas progressistas nos últimos anos. Ela agora está pagando caro por isso.
Essa turma decidiu impor uma nova linguagem, estabelecer um novo código moral, determinar o certo e o errado, elegendo a direita como inimiga número 1 (sempre chamada de fascista), embora tenha sempre (até inconscientemente) adotando o mesmo comportamento para, de dedo em riste, calar qualquer manifestação que não estivesse de acordo com a cartilha Woke, habilmente difundida nas universidades, na mídia (com apoio entusiástico de jornalistas de miolo mole) e nas redes sociais.
A questão identitária ganhou um espaço discursivo intimidador, com militantes vigilantes a apontar qualquer desvio, acabando por dar régua e compasso (noutra platitude, é lógico) aos métodos do bolsonarismo ou qualquer outra corrente extremista, gerando uma confusão comportamental dos diabos.
Claro, a esquerda diz que suas bandeiras são a epítome da virtude, exalam seu espírito solidário e diz defender o respeito às diferenças. Na teoria é assim, mas a prática é outra...
Seria ótimo, não houvesse uma capa de hipocrisia nessa história toda, o que levou que as pessoas "normais" percebessem a grande falcatrua que essa onda significa.
Entre 2010 e 2020 vivemos a vertiginosa fase do politicamente correto. Até hoje tem gente embarcando nessa. Outro dia mesmo, escrevi um texto em que falava da "opção" sexual de uma pessoa, e fui corrigido, sempre em nome da ciência, de que o termo correto era "orientação sexual", o que terminou gerando stresse quando afirmei que, nesse caso, queria que a "ciência se fodesse".
O fato é que o Wokismo está se esgotando para a felicidade geral da Nação. Recentemente um bate-boca na Globo News entre Demétrio Magnoli e Sandra Coutinho mostrou o quanto o público rejeita as manias do feminismo (que a Globo abraçou como se fosse uma religião), quando esta acusou Magnoli de mansplaining (um termo politicamente correto quando uma mulher, no seu direito de ser ignorante, recusa que um homem explique a ela os devidos termos) e de ter o "o lugar de fala"(só gente idiota ainda fala isso).
Claro, Demétrio foi obrigado a massacrá-la e o pau comeu levando a audiência morna do telejornal lá em cima porque, como se sabe, o publico adora um bafão global. Claro, Sandrinha saiu chamuscada.
E assim o conservadorismo vai ganhando espaço, entrando no vácuo da ingenuidade e burrice das esquerda, impondo mais estupidez e loucura.
Aqui no Brasil as eleições municipais foram um aperitivo dessa nova realidade. Nos Estados Unidos, com a vitória de Trump, esse processo se consolida.
A esquerda perdeu o contato com mundo real, obnubilada com temas secundários, não sabendo o que fazer nem como agir diante dos novos dilemas postos em torno dos conceitos de democracia e liberdade que parecem estão sendo revisados na base, mas incompreendidos entre as elites educadas e sofisticadas das academias.
Vamos entrar em nova fase histórica. Se será pior ou melhor, não sabemos. Mas que será diferente de tudo que já vimos, isso é uma certeza.
Pedido de Desculpas
Estive recentemente em Campo Grande na semana passada e encontrei-me com o Editor-Chefe do Midiamax, Eser Cáceres, que me chamou a atenção para uma postagem deste blog em que chamo a redação do Midiamax de "pardieiro".
Na verdade, recebi a foto do local de um leitor em que se dizia que era a sede uma empresa de pesquisa (Cenpar Comunicações), que (soube depois) funciona no mesmo espaço do site, e que estava sob reforma, coisa que não percebi.
De fato, cometi um erro grosseiro e utilizei uma palavra inadequada, de mau-gosto mesmo, o que me obriga a pedir desculpas a todos que ali trabalham, pois sei que são valorosos profissionais e que tentam fazer o melhor para informar corretamente seus leitores.
Deixo aqui, especialmente, minhas escusas ao Eser, colega de muitos anos, ao qual tenho respeito e admiração pelo grande jornalista que sempre foi.