Pages

Dante Filho: Tudo de pernas pro ar nas eleições de Campo Grande

 



1-) Sinal dos tempos - Coisas esquisitas têm acontecido na eleição para a prefeitura de Campo Grande. A candidata Adriane Lopes esnoba um programa de um palhaço midiático e a classe política fica perplexa. Como ousa? Ela preferiu encontrar-se, no mesmo horário, com Michele Bolsonaro em vez de debater ao vivo com a adversária Rose Modesto no programa mambembe de Tatá Marques. Egos feridos, ressentimentos espalhados, protestos e críticas veiculadas, o que sobrou foi um apresentador que percebeu sua desimportância estrutural e uma candidata que ficou chupando dedo, frustrada por perdido tempo e preparo pelos marqueteiros. Dá vontade de rir.


2-) Os sobrinhos do Capitão - O Dronão Teleguiado de Dona Iara, mais conhecido como Capitão Contar, divulgou vídeo pelas redes sociais apoiando a candidatura de Rose Modesto, contrariando as ordens explícitas de Bolsonaro, paralelamente no mesmo momento em que o deputado Catan (o mais entusiasmado bolsonarista farfalhando ao lado da Morena) foge de uma oficial de Justiça num processo que lhe move o Presidente da Cassems, Ricardo Ayache. Se tudo isso fosse uma comédia pastelão não daria tão certo.


3-) Os gênios da raça - Num suposto gesto de "esperteza", Contar declarou apoio a Falsiane com aquele papo furado de quem é mais de direita raiz do que o outro, e aproveitou para anunciar que será candidato ao Senado em 2026! Ninguém entendeu, mas acho que o negócio é esse mesmo: Contar faz o papel de Chacrinha: veio para confundir e não para explicar.


4-) Perplexidades & Assombros - Enquanto o governador Eduardo Riedel declara voto, promove reuniões e encontros para emprestar seu apoio à Adriane Lopes (agora no papel da prefeitinha fofa que todos aprendemos a amar), explicando que tudo se trata de gesto de agradecimento pela campanha de 2022, o ex-governador e presidente regional do PSDB, Reinaldo Azambuja, entra em cena deixando rolar a informação de que seu voto vai para Rose, embora lembre que "no dia da eleição ele poderá até mudar...". Diante disso, Campo Grande inteiro tem opinião dividida: um lado diz que tudo é jogada estratégica; outro, há quem veja o começo da separação entre o criador e sua criatura. A ver.


5-) Escolha de Sofia - Entre Adriane e Rose a escolha é difícil. É provável que a abstenção vença. O que é preciso saber, matematicamente, qual das duas poderá ser beneficiada com a fuga das urnas. O prejuízo já sabemos: quem for eleita terá baixa representatividade. Politicamente, isso não é bom. A futura prefeita já chega ao cargo como pata manca.


6-) Direita, volver - Os vários tons do nosso conservadorismo estão cantando vitória em Campo Grande. Mesmo com as forças da direita fracionada o centro vai padecer com um "qualunquismo" crescente (essa palavra estranha vai entrar na moda). Cada grupinho direitoso está atirando para um lado, não há liderança que congregue minimamente um consenso. Como diz a senadora Tereza Cristina, "é um bando de malucos querendo administrar o hospício". Deve ser. Ela tem experiência com essa gente.


7-) Esquerda em frente - O PT se aninhou com Rose e aposta todas suas fichas nela. O núcleo duro do partido está tranquilo: já combinou a ocupação de espaço dentro da Prefeitura, sem contar as empresas que adoram contratos compartilhados. Vander e Zeca estão sorrindo mais do que aquele personagem do Coringa.


8-) Folha Secreta - Vou dar esse conselho de graça: Adriane Lopes devia abrir o jogo da folha secreta e contar a verdade. Ser transparente total. Com isso, ela transfere a responsabilidade para as instituições de controle. Fatos: a "Folha Secreta" está escondida no site Transparência. Tem gente que sabe encontrar todos os segredos lá dentro. O Tribunal de Contas sabe. É conveniente? Para a cúpula do poder, não. O mecanismo para inflar salários foi inventado na gestão de Marquinhos Trad. Justiça se faça: ele mesmo, Marquinhos, não se beneficiou com essa malandragem. Mas os principais beneficiários (tenho a lista em mãos) da folha secreta não é apenas a cunhada da prefeita, tem muita mais gente. Muitos não estão mais trabalhando na prefeitura e sim na campanha de Rose Modesto. Basta a prefeita mostrar a lista e apontar os nomes. Duvido que a Morena contra-argumente.


9-) Pesquisas eleiçoreiras - Em Mato Grosso do Sul foram realizadas neste glorioso ano eleitoral cerca de 350 pesquisas de opinião. Quase metade em Campo Grande. No final do primeiro turno, o eleitor não conseguiu imaginar quem ia pular para o segundo. Normal. Disputa acirrada, cenário polarizado, candidaturas frágeis, debates desqualificados, enfim, um quadro difícil para que institutos possam iluminar o que os eleitores estão avaliando, mesmo porque vivemos uma de banalização da política. Na reta final prevê-se que as pesquisas vão gerar mais confusão. Veremos muita fumaça e pouca luz. Tomara que não chova e a cidade fique alagada por esses dias. Oremos.


10-) Sinais & Ruídos - Minha percepção diz que o quadro político atual favorece mais Adriane Lopes do que Rose Modesto. É fato que os grupos de apoio da prefeita têm mais qualidade e substância do que os de Rose. Reparem: a trajetória de Adriane durante essa campanha tem uma história pra contar. Ela não era nada, apenas a mulher de Janjo. Aos poucos, sob influência de Tereza Cristina, Marco Aurélio Santullo, Ademar Silva Júnior, Marcelo Miglioli, conseguiu se reinventar politicamente, mostrando que sob provação consegue ultrapassar limites. Só tem um problema que ela deve refletir e fazer uma profunda autocrítica (coisa que Rose não sabe fazer): trata-se da famosa separação linear de religião e instituição democrática. Caso contrário, dará sempre a impressão de ser uma mulher de mentalidade medieval.