Ao centro, jornalista Cristina Serra (mediadora)
do debate entre Adriane e Rose Modesto
Juro: conhecendo a atual prefeita Adriane Lopes como conheço jamais imaginei um dia escrever o que vai abaixo, depois de assistir ao debate no Midiamax, na noite desta segunda-feira.
De uma simples dona de casa, tímida, retraída, uma figura, digamos, meio submissa e suburbana, (ela morria de medo de Marquinhos Trad) de repente, em pouco mais dois anos à frente da prefeitura de Campo Grande, ela se reinventou e se transformou num furacão político.
Rose Modesto, por sua vez, é uma política profissional treinada.
Debates, ações eleitorais, discursos em palanque, ou seja tudo isso que faz o múnus de uma campanha, Rose sabe mais e tem mais preparo. Tem o seu valor.
Mas o público que assistiu ao embate entre ambas teve a clara percepção de que a prefeitinha cresceu como pessoa, como administradora, tendo adquirido, em pouco tempo, um traquejo acima da média. Surpreendente.
Colocando lado a lado Adriane e Rose não dava para escamotear o fato de que a prefeita teve um rendimento melhor em termos de clareza, segurança e preparo psicológico.
Rose usa demais o vitimismo e maneirismos manjados para se defender, sem contar mentiras deslavadas, apontando a produção de fake news contra sua "honra", as quais, sinceramente, ninguém até hoje sabe se verdadeiramente existiram, pois, segundo coordenadores de sua própria campanha, ficaram restritas em "bolhas específicas".
Sempre desconfiei dessa estratégia. Dá a impressão de que sua própria campanha produziu vídeos fakes para ela reclamar e se fazer de coitada.
Mesmo assim, achei que Rose melhorou muito nos blocos finais do debate. Ficou mais solta, segura, e salvou sua noite, apesar do horário e da baixa audiência do horário.
Claro que não o foi debate ideal. As duas candidaturas têm dificuldades estruturais no que tange à discussão de temas de relevância para a gestão estratégica da cidade. Mas foi o possível dadas as circurnstâncias.
Na discussão sobre a "folha secreta" - que prometia ser o ponto alto do debate - Adriane mostrou uma decisão judicial e tentou emplacar a ideia de que o assunto é "fake news".
Rose perdeu a chance de cravar a palavra "censura", mas Adriane podia ter explicado que os maiores beneficiários da chamada "folha secreta" estão trabalhando dentro do comitê de Rose. Ela mencionou o fato, mas podia ter avançado mais.
Outra observação: com mais experiência em campanhas, no parlamento, em cargo federal, Rose exulta seu orgulho de ter começado sua vida como professora de história, mas fere nossos ouvidos com um português mal falado, sem mencionar que ela não utiliza como recurso ativo nenhuma referência histórica de nossa realidade regional.
Uma educadora deve saber falar bem e ter conhecimento intelectual da especialidade que domina. Não se vê isso. Triste.
Adriane foi bem treinada, adquiriu desenvoltura, mostrou que tem sapiência política, tudo isso com uma rapidez incrível, mas ainda lhe falta coragem para ousar.
Ela vende uma cidade que ainda não existe, uma gestão que ainda não colou na alma da cidadania, além de pecar por praticar a chamada "demagogia barata", embora isso seja do jogo.
Olhando para as duas, digo que é uma escolha difícil. Gostei da prefeitinha, porque esperava pouco dela. Ela deu um banho em Rose. Espero que o eleitorado seja sábio o suficiente para escolher a menos pior.