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Dante Filho: as ruas falam, a Avenida Afonso Pena grita e Campo Grande treme

 

Avenida Afonso Pena, Campo Grande - MS (2024)

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Em retas finais de uma campanha de segundo turno profundamente polarizada como a de Campo Grande, só nos resta flanar pelas ruas, ouvir murmúrios aqui e ali, ver os jovens agitando bandeiras nas esquinas, acompanhar a pancadaria pelas redes sociais, dar voltas pela Avenida Afonso Pena, na vã esperança de sentir uma vibração que aponte o resultado final de todo o processo. Ontem assisti a trechos do debate da TV Morena e achei que Rose Falsiane está com uma avidez transbordante para conquistar o poder. Adriane Lopes, a prefeitinha, sentindo a agressividade da Morena, encolheu-se, escolhendo o papel de coitadinha. Vai dar certo? Não sei. Amanhã verem os.

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A base de apoio de Adriane Lopes é mais robusta. Só pelo fato dela ter o governador Eduardo Riedel ao lado dela conta muito. Riedel tem sido um excelente governador. Ninguém nega. As pesquisas mostram que mais de 70% da população aprova sua gestão. Riedel conseguiu um feito neste momento histórico do Brasil: não ser sugado pelo ambiente divisivo do cenário político brasileiro, flutuando acima de todas as divergências ideológicas e partidárias, mantendo postura decente no exercício do cargo. Reparo que o governador tem muito boa vontade com a prefeita e, mesmo institucionalmente respeitando Rose Modesto, ele sabe que a moça é nociva, não sendo o ideal para Campo Grande. Mais não falo...

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Vou tocar num assunto aqui que sempre me incomodou, mas passados tantos anos e tantas campanhas, já estando naquela fase de burro velho, vou pontuar da forma mais sincera e delicada possível. Digo que esse incômodo não é determinante na minha vida, embora tenha estudado o suficiente para saber que ele deve ser tratado com respeito humano, com o máximo de cuidado com as palavras, mas que certas escolhas revelam a personalidade de seus agentes. Quando o governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, abriu para o Brasil sua opção sexual - depois dele muitos o fizeram, quase virou moda - as reações foram menos danosas do que se imaginavam. Concluí que a sociedade brasileira - exceto aqueles nichos mais atrasados - tem maturidade e não dá a dimensão perniciosa que se imaginava a essa questão. Opção sexual não é defeito moral. Por isso, pergunto diretamente: por que Rose Modesto até hoje não saiu do armário? A suspeita sobre sua homossexualidade, a cada período eleitoral, a machuca, maltrata sua família, fomenta rumores maliciosos, e ela (certo ou errado) defende-se com indignação, alegando que questões de foro íntimo não devem contaminar sua persona política, pois sua vida pessoal é um espaço que só lhe diz respeito. Concordo integralmente e apoio seu direito à privacidade. Mas há outro lado - inclusive destacado por inúmeras personalidades -, que envolve o compromisso com a transparência. Se alguém defende com unhas e dentes o conceito de que tudo deve ser posto à luz do sol, que todos os processos e decisões públicas (está aí o debate sobre a folha secreta) devem transbordar para a esfera do conhecimento geral, no caso do ente político poderia (caso seja uma decisão livre e consciente) acontecer o mesmo. Sei que o tema é polêmico, mas até hoje não vi ninguém se arrepender de ter tomado tal decisão. Basta ter coragem e ter clareza sobre qual seu papel no mundo.

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A Polícia Federal, seguindo determinação do Supremo Tribunal de Justiça, afastou desembargadores do TJ-MS, conselheiro do TCE-MS, servidores e familiares, sob a acusação de venda de decisões judiciais. O Estado ficou paralisado. Foi um choque para muita gente, até porque há mais de 20 anos correm rumores sobre tal ilícito, mas muitos achavam que os personagens envolvidos eram inalcançáveis. Olhando de longe, digo com tranquilidade que não acredito que Sergio Martins esteja envolvido nesse mafuá, conforme as narrativas correntes que circulam na baixa esfera das fofocas do mundo jurídico. Sou amigo de Sérgio há mais de 30 anos. Militamos na luta contra a ditadura. Estivemos em várias trincheiras política. Seu caráter sempre foi impecável: sereno, ponderado, com formação intelectual exemplar, sempre se pautando pela correção, lisura e isonomia funcional, correto, cuja separação entre o público e o privado sempre foi notória e evidente. Acho que nos desdobramentos da investigação ficará claro que Sergio Martins não desbordou de suas funções, pois sua formação familiar, com a experiência vivida, não o permitiria arriscar sua vida e carreira no contexto no qual foi envolvido. Sei que Sérgio não tem a unanimidade, principalmente nestes tempos de caça à bruxas. Mas sei que ele é um bom homem.

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Pesquisas dão que a disputa entre Adriane e Rose trafegam no empate técnico, com pequenas diferenças que favorecem a candidatura do União Brasil. Prevê-se que a eleição terá índice elevado de abstenções, maior do que no primeiro turno. Residualmente, isso pode fazer a diferença, como já aconteceu. A vantagem em pesquisa poderá ser anulada pelos não votantes nas candidaturas. Se, por exemplo, 10 eleitores que preferem Rose não forem votar, basta apenas 5 votantes em Adriane para empatar o jogo. Os institutos não têm instrumento de medição para calcular os eleitores que deixarão de votar, mas no primeiro turno eles foram em maior número do que a candidata mais votada.




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No debate da TV morena reparei que as estratégias de Adriane e Rose foram diametralmente opostas. Adriane martelava seus feitos e perguntava por propostas da adversária. Acho que ela pronunciou mais de cem vezes a palavra "proposta". Rose não respondia, atacava Adriane, ao mesmo tempo em que acusava a adversária de fazer o mesmo. É a velha estratégia de roubar uma carteira e sair gritando "pega ladrão!". Pena que a prefeita é muito robotizada, pois poderia ter revelado logo de cara esse jogo. Com isso, Rose flutuou e ficou martelando esse esquema até o fim.


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Não me lembro ter visto em outras eleições em Campo Grande um nível tão elevado de agressões pessoais entre grupos políticos que até muito recentemente trabalhavam juntos, em fraternal convívio. Alguns ataques ultrapassaram os limites da civilidade. Parecia briga de adolescentes. Nossa política infantilizou-se. A disputa da turma de Marquinhos Trad contra a de Adriane Lopes, com raiva e ranger de dentes, mostrou que a convivência entre as equipes deixou muita mágoa retida. Fico imaginando como isso vai se refletir nas próximas eleições.




PS - Tem uma coisa que Adriane Lopes é dez vezes melhor do que Rose: o uso da língua pátria. Ela parece que recebeu uma educação mais estruturada. Usa verbos, pronomes, adjetivos com mais propriedade. Não comete erros grosseiros de concordância verbal ou nominal. Neste quesito Rose é lamentável. Faz a gente passar vergonha.