Ao irem às urnas, os eleitores precisam ter em mente que administrar Campo Grande não é se esbaldar em uma festinha com os parças, tampouco um experimento qualquer de marquetagem, em que promessas podem ser feitas à vontade porque dissolvem no ar como fumaça de queimada.
Idoneidade moral, capacidade administrativa, habilidade política, prudência e espírito público são atributos indispensáveis para uma boa gestão em qualquer cidade. Tais qualidades são cada vez mais raras na sociedade.
E começo esse texto com um conselho: em uma Capital com quase 1 milhão de habitantes, a ausência de apenas um desses atributos pessoais do governante já pode trazer prejuízos severos aos campo-grandenses, que dependem do poder público para desfrutar do mínimo de uma vida digna, principalmente nas atividades de saúde, educação e segurança pública.
Esse recado se faz necessário, pois a campanha do primeiro
turno foi marcada não apenas pela estupidez dos debates, mas, pela
ridicularização do eleitor, reduzido à mera condição espectador de fake news e seguidor de rede social,
cujo "like" foi disputado
por candidatos muitas vezes inseguros e despreparados.
A filósofa alemã Hannah Arendt já dizia que a política é
essencialmente a persuasão pela palavra, um confronto de ideias regulado por
leis e padrões mínimos de civilidade. É dever dos que disputam cargos eletivos
preservar a sanidade do espaço público, onde todos se submetem aos mesmos
limites, em nome do bem comum.
O exercício do poder por quem ignora esses limites carece de legitimidade.
Desde o nebuloso período de Bernal/Olarte, Campo Grande não admite mais despreparo, muito menos a gestão desmedida e irresponsável. Basta sair às ruas e, para onde quer que se olhe, lá estarão os inúmeros desafios e potencialidades desta grande cidade, implorando por dedicação e competência de quem se dispõe a administrá-la.
No próximo domingo, a população vai às urnas para escolher a próxima prefeita, não influencers ou lacradores. Quem vai gerir a cidade é um ser humano e não um avatar inventado por publicitários.
As escolhas políticas devem decorrer de uma análise
cuidadosa da experiência dos candidatos, suas propostas e associações, pois
suas decisões geram consequências por, no mínimo, quatro anos.
Aqui vivem cerca de 850 mil habitantes, uma população maior
que de alguns países. Para 2025,
prevê-se um orçamento recorde para a Capital, a maior quantia na história da
cidade.
O cuidado com essas pessoas e o bom manejo dos recursos
públicos exigem dos candidatos à Prefeitura um plano de governo digno desse
nome, o que implica um diagnóstico preciso dos problemas urbanos e a formulação
de políticas públicas adequadas para resolvê-los.
Isso soa óbvio, mas é necessário relembrar neste dia crucial
para o futuro da Capital, pois, afinal, esta eleição foi marcada pela
ausência do debate político qualificado. É possível afirmar que os candidatos à Prefeitura
são bem conhecidos, mas quase nada foi dito sobre suas ideias para governar a
cidade mais rica do Estado.
Como é notório, ofensas pessoais marcaram uma campanha sem
discussão de ideias e projetos. A despeito de sua pujança econômica, Campo
Grande ainda enfrenta sérios problemas na oferta de serviços públicos nas áreas
de saúde, educação e transporte — sem mencionar a segurança pública.
É responsabilidade do governo do Estado prover a segurança
aos cidadãos, mas a Prefeitura desempenha um papel fundamental na redução dos
indicadores de violência. Ou seja, Campo Grande precisa de um bom gestor.
E a governança da capital exige habilidade política, uma
qualidade que claramente está em falta
no mercado brasileiro. Por aqui, abusaram do cinismo e a única promessa de
campanha foi aniquilar o adversário com ofensas.
Tivemos uma campanha marcada pela DR de problemas pessoais, dando a impressão de que a luta pelo poder foi feita com sangue nos olhos.
Certamente há eleitores para os quais a política é corrupta e abjeta, razão pela qual se encantam com aqueles que pretendem desmoralizá-la com memes e lacração.
Mas, quando a loucura dessa campanha acabar, o vencedor terá que administrar uma cidade cheia de desafios, com centenas de moradores reais, e não um perfil de rede social com seguidores virtuais desanimados.
Nesse momento, o voto dado de maneira inconsequente cobrará seu preço. Sabemos que se trata de escolha difícil. A cidade está totalmente polarizada. Talvez o candidato que demonstre um pouco de bom senso e manifeste o desejo de pacificação seja aquele que possa frutificar nossa escolha.