O biólogo alemão Ludwig Riedel, de cuja linhagem familiar
descende o governador Eduardo Riedel -
Meu amigo e historiador Mario Sérgio Lorenzetto me lembra que, em 2024, celebramos os 200 anos da Expedição Lengsdorff, uma jornada que durou oito anos e escreveu um importante capítulo na história da exploração científica e cultural do país, especialmente no norte onde hoje é Mato Grosso do Sul.
Liderada pelo médico naturalista e cônsul da Rússia no Brasil, Georg Heinrich von Lengsdorff, essa aventura contou com a resiliência dos expedicionários Ludwig Riedel e Hercule Florence, cujas contribuições foram fundamentais para a compreensão das riquezas naturais e culturais brasileiras.
Por essas coincidências do destino, o governador Eduardo Riedel é descendente direto do biólogo Ludwig Riedel, também responsável pela criação da seção de botânica do Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 1831.
Essa relação vai além de um simples detalhe familiar. Ela destaca um legado que perdura. O apreço pela biologia, ciência e meio ambiente, que tanto moveu seu antepassado, ainda ressoa hoje no seu posicionamento na defesa do ecossistema.
Na primeira metade do século XIX, o Brasil era um vasto território ainda, em grande parte, inexplorado. A busca por conhecimento sobre a biodiversidade e as culturas locais motivou diversas explorações pelos rincões brasileiros.
Os estudos de campo de Lengsdorff, iniciados em 1825, se destacaram ao oferecer uma visão abrangente do sertão brasileiro, revelando suas peculiaridades e a riqueza da flora e fauna local.
Partindo de São Paulo, a expedição atravessou biomas diversos, incluindo a Mata Atlântica e o Cerrado. Os exploradores navegaram pelos rios Coxim, Taquari e Paraguai, em Mato Grosso (hoje Mato Grosso do do Sul), áreas que mostraram uma biodiversidade impressionante.
Ao longo do caminho, Lengsdorff e sua equipe coletaram amostras de plantas, animais e minerais, documentando as características geográficas e climáticas da região. O biólogo Ludwig Riedel catalogou a flora local, enquanto Hercule Florence, artista e inventor, capturou visualmente as paisagens e os povos encontrados.
Essas ilustrações são um legado que vai além da ciência, eternizando a beleza e a diversidade nacional.
As descobertas da expedição tiveram um impacto duradouro. As amostras coletadas enriqueceram herbários e museus, contribuindo para o conhecimento botânico e zoológico da época. Além disso, as observações sobre as culturas indígenas e as interações com colonos europeus ofereceram uma visão valiosa sobre a dinâmica social e econômica dos grotões brasileiros.
No livro de Barbara Rouanet, “Viajando com Lengsdorff”, há um capítulo interessante falando das peculiaridades do vilarejo de Varadouro de Camapuã, um importante entreposto no sul de Mato Grosso, que serviu de dormitório para os expedicionários descansarem por dois dias.
A autora relata a fome e a escassez de comida na região, onde a maioria dos moradores se alimentava de uma mistura simplória de milho, açúcar e farinha socados num pilão.
Contando assim, até parece roteiro de ficção. Mas são acontecimentos que fizeram parte da mais importante expedição científica que cruzou o Brasil no século XIX.
O trabalho de Ludwig Riedel ajudou a estabelecer bases para a classificação das espécies vegetais brasileiras, enquanto as ilustrações de Florence se tornaram referências para estudiosos e amantes da arte.
Infelizmente, a celebração dos 200 anos da expedição passou despercebida, sem qualquer menção por parte da imprensa brasileira. Em Mato Grosso do Sul, o tema teve um tratamento tímido por parte dos jornalistas que, certamente, desconhecem o assunto.
Em uma região tão rica em cultura e biodiversidade, essa falta de reconhecimento é um desserviço à identidade que moldou o Estado.
A Expedição Lengsdorff não é apenas um marco na história da exploração científica, mas um convite à reflexão sobre a valorização do nosso patrimônio cultural e do meio ambiente.
Ao celebrarmos este bicentenário, é fundamental lembrar o legado deixado por esses pioneiros, gente que abriu portas para um entendimento mais profundo das riquezas do País. Que suas contribuições sejam finalmente reconhecidas e valorizadas, inspirando futuras gerações a explorar e preservar as maravilhas do Brasil.