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Pesquisas, propagandas e candidatos: só o eleitor ainda não deu as caras


Se você está acompanhando as eleições de Campo Grande deve imaginar que o processo democrático que nos levará à escolha do próximo prefeito e dos vereadores da cidade vai de vento em popa. Falso. 

O marasmo é total. As pessoas que votam estão preocupadas com as penúrias do dia a dia querendo encontrar soluções para seus problemas pessoais. Eleição é a ultima de suas preocupações porque todos sabem que a "política é tóxica e tudo faz parte de um jogo sujo entre os mesmos". O povo está fora dessa e nem sabe direito porque essa "gente briga tanto pelo poder".

Sei que aqueles, direta ou indiretamente envolvidos com campanhas, acreditam na ilusão de que o processo está bombando. Autoengano. E não sou eu que digo isso na base do impressionismo. São as pesquisas. Está lá um dado que deveria ser manchete, mas que termina no pé de página (às vezes nem é publicado) indicando que 70% do eleitor ainda não sabe em quem vai votar, ou mais, está se lixando com a eleição.

Vou mais fundo: aqueles índices que mostram as preferências dos candidatos é apenas um microcosmo da realidade. Se você lê que fulano está na frente com, digamos, 30% da preferência, na verdade trata-se de uma escolha frouxa, sem base cognitiva, um chute referencial, que os especialistas chamam de recall, ou seja, aquele nome que é lembrado no momento da entrevista porque tem sido o mais mencionado ao longo do tempo.

Trata-se apenas da lembrança tênue a uma pergunta que não deve ficar sem resposta, apenas poeira que sobe e desce no tempo de secura..

Enfim, estamos no reino da provisoriedade, onde tudo é efêmero e nada é seguro. Nos tempos de redes sociais campanhas só ganham atenção geral quando há muita trolagem e polarização. O caso de São Paulo é clássico, pois a candidatura de um maluco como de Pabro Marçal pela chama a atenção pelo inusitado, pela petulância e pelo horror que vem causando nas camadas mais esclarecidas da sociedade.

No caso de Campo Grande não há candidatos a prefeito com esse perfil; portanto, o ambiente é morno, todo mundo pisando em ovos, e o jogo abaixo da cintura quase ninguém percebe que existe porque ele circula em pequenas bolhas, longe dos olhos da maioria.

A propaganda oficial dos candidatos nas redes é leve, os debates até aqui foram xoxos, a movimentação de rua é um dado que apenas indica o quanto cada candidato tem de dinheiro sendo gasto com cabos eleitorais, personas totalmente alienadas sobre o que pensa os candidatos que aparecem nas bandeiras e adesivos circulantes. 

Tenho amigos que quando olham apoios explícitos em carrões e caminhonetes pensam: "esse aí está ganhando gasolina para circular". Acho graça.

Acredito que a campanha só vai se adensar quando o bate-boca engrossar. Muita gente diz que não gosta de baixaria em campanha, mas sinto informar que isso é hipocrisia. Todos esperam, de verdade, luta, lágrimas, baba venenosa, denúncias, fake news, dedo no olho, porque adoramos ver a desonra de quem luta pelo poder. 

Isso tem sido assim desde a Grécia antiga e permanece até os dias de hoje. Vejam a campanha americana e os ataques que Trump faz a Kamala e vice-versa. É jogo sujo na veia. Se os senhores do mundo fazem isso, por que não em Campo Grande, uma merdinha de cidade incrustrada no centro-oeste brasileiro?

Não há santos no puteiro. Isso precisa aflorar para que o eleitor desperte de sua letargia. Não estamos tratando com elementos racionais. O jogo eleitoral tem mais a ver com manejo simbólico de rebanhos. 

Sei que é horrível falar isso, mas o ser humano é um bosta mesmo, gosta de baixeza, de saber da vida sexual dos candidatos, quem comeu quem, quem usa drogas, quem roubou, quem está associado com o crime organizado, quem faz malandragem no escurinho do cinema...

Gostamos de pensar que vivemos em dois mundos. O nosso mundo perfeito e aquele planeta oculto, trevoso, onde tudo acontece, mas poucos sabem, e aqueles que sabem se consideram importantes, sábios e corajosos por saber matar no peito as coisas mais escabrosas que transitam no decorrer da luta pela conquista dos votos.

Simples assim.