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Pollon é um personagem em busca de um partido que só existe na sua cabeça

Deputado Pollon: o pistoleiro certo no partido errado -

Quando o deputado Marcos Pollon fala o céu escurece. Outro dia recebi um vídeo no qual ele estava fantasiado de matuto, pelo que entendi tinha acabado de executar um porco. Falou barbaridades.

Tudo bem. Nada mais me assusta. Respeito a liberdade de expressão, principalmente quando o sujeito carrega uma arma da cintura. Conheço Pollon por alto. Mas os 10 minutos de fala que eu ouvi foram suficientes para perceber sua linha de seu pensamento iluminista.

O deputado fala de um jeito duro e forte, no estilo capiau do mato. Não impressiona ninguém porque falta-lhe o essencial: brilho. Ele estava indignado com o fato de o seu partido, o PL, ter fechado acordo com o PSDB para apoiar o deputado Beto Pereira para as eleições da Capital neste ano. Disse que negaria voto à sua mãe caso ela fosse filiado ao tucanato.

Filho desnaturado...

Reiterou várias vezes que não era uma questão pessoal e sim um bafão de fundo ideológico. Bem, é difícil compreender por quais caminhos Pollon andou para concluir que o PL é uma partido ideológico, que representa hoje a extrema direita brasileira, sob o comando de Valdemar da Costa Neto. É pra rir ou chorar?

Marcão - é assim que os amigos o chamam - tem conceito de ser um bom advogado, estudioso da maquinaria jurisprudencial brasileira, às vezes surpreende com seus discursos na Câmara dos Deputados, mas tem parcos conhecimento da história política contemporânea.

Ele, por exemplo, nem imagina como nasceu o partido a que pertence. Devia ler como o PL se estruturou no período da redemocratização, surgindo como pequeno partido, tendo rompido com o PSDB quando o presidente era Fernando Henrique Cardoso, pelo prosaico motivo de falta de cargos em órgãos chaves que serviam de duto para irrigar os bolsos da famosa "turma de Valdemar".

FH colocou pra fora um monte de apaniguados de Valdemar. Ele surtou. Primeiro, sumiu. Depois apareceu de braços dados com José Dirceu. Até ser preso várias vezes na época do mensalão, até ganhar indulto de Dilma. Por troca de votos no Congresso, lógico.

O PL, com o tempo, já na oposição a FHC, aliou-se ao PT, deu-lhe o Vice de Lula, José de Alencar, a assim foi crescendo, sempre com a boca na mamadeira, até se tornar o maior partido da Câmara, dono da maior fatia do fundo partidário.

O PL é um partido de oportunidades. Alia-se com qualquer agremiação que lhe dê espaço para conquistar verbas, cargos, negócios, influência. É também o partido de Bolsonaro, que lhe empresta um verniz ideológico e popularidade.


Pollon deve saber disso tudo. Seu ódio ao tucanato sul-mato-grossense deve ter razões que a própria razão ignora. Ele até tentou bagunçar o coreto por esses dias, mas levou uma trombada de Valdemar e do próprio Bolsonaro. Foi humilhante.

Para um homem que gosta de armas, o razoável seria tentar resolver esse debate no front, atirando pesado. Mas ele se encolheu. Acovardou-se, deve hoje estar em casa, triste, lendo Mein Kampf, consolando-se com material de peso.

Sei que não é fácil ser de extrema direita nem de extrema esquerda no Brasil e no mundo. No peito dessa gente bate um coração raivoso, que detesta ouvir o alheio, ou seja, com base em diálogo esclarecido no qual um fala e argumenta, outro ouve e contra-argumenta, tudo em voz suave, serenamente, sem que nada aparente ser uma briga de cuspe à distância, não havendo necessidade de revolveres.

Não espere que o deputado Pollon entre na turma dos adultos. Seu mundo é outro, infantilizado, que vê a política como joguinho de vídeo-game. Tudo leva a crer que será deputado de apenas um mandato. Depois, bem, depois o veremos na selva brincando de clube de tiro...