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Confissões: num domingo qualquer preferimos ser idiota com plenas convicções

Leio por aí, converso com amigos, acompanho alguns debates nas redes sociais e percebo uma preocupação exacerbada com a "extrema direita" - o novo bicho papão que tem assombrado adultos infantilizados pela política.

Já correndo na direção da reta de chegada dos 70, termino por achar graça dos tremeliques que essa onda vem causando em muitos lugares.

Conheço gente que tem visto Hitler, Stálin, Mao e Mussolini voltando da tumba para a arena de nossos medos e não sei se recomendo terapias alternativas ou doses cavalares de antidepressivos. Abriram a porta do hospício. Estou morrendo de rir.

Sei que tem uma turma muito louca por aí acreditando em coisas exóticas, tanto à direita como à esquerda, e me alertam para que eu não faça deboche com coisa séria. Sei...

Não faço. Tenho amigos e amigas em todos os cantos, de todos os lados, só dispenso aquele(a)s que preferem resolver certos assuntos no braço. Muitos cultivam ideias pra lá de esdrúxulas, outros são moderados demais (tanto que o único movimento social em que gostam de atuar é aquele que gesticula o braço da mesa à boca com um copo de cerveja nas mãos) , além dos que, a cada frase, dizem "foda-se", com um prazer quase orgástico na voz.

Não acredito em ideologias. Não professo nenhuma religião. Mas sou amigos de padres, pastores, políticos de todas as tendências, converso com gente que mantém contato com extraterrestres, que abraça árvores e pertence às mais diversas tribos que esse mundão inventou para a nossa diversão.

Sou um grande ouvinte. Claro que sempre que posso mantenho distância de jornalistas porque estes ou estas (resguardadas as exceções) são pernicioso(a)s demais para que haja um estreitamente saudável de relações de amizade. Ô gentinha falsa!

Digo isso para informar que tenho a completa compreensão quando aparece gente para avisar que fulano ou cicrano nutre verdadeiro ódio por mim. Amo ser odiado. Eu concordo com quem fala mal de mim pelas costas. 

Se eu fosse eles também me odiaria, mesmo porque desde criancinha minha avó fez questão de avisar a toda a família que "esse menino parece ter o diabo no corpo". Aviso: não porque fosse hiperativo ou destrutivo, ao contrário, era dócil, silencioso, mas tinha mania de fazer comentários impróprios nas horas inadequadas. Minha mãe ia à loucura porque minha sinceridade ingênua já provocou brigas homéricas durante o jantar.

Bem, voltando à vaca fria: se vocês estão preocupados com a extrema direita, relaxem. O máximo que eles poderão fazer (e aí não permitiremos) será construir crematórios para aquecer os opositores. 

Aquelas bobagens monumentais que eles pregam e prometem perpetuar são apenas um ciclo, uma fase lunar delirante, um espasmo de diarreia mental, assim como tudo que acontece nesse mundo louco: cresce, aparece e depois fenece.

A minha geração certamente não viverá o suficiente para ver a merda que vai virar tudo isso. Aqueles que dizem que estão preocupados com as futuras gerações são uns hipócritas. Elas (as futuras gerações) que se virem, como nós nos viramos com os nossos dramas e conseguimos chegar até aqui.

Sei que pessoas mais experientes devem - pelo bem da humanidade - exultar esperanças nas almas pueris que se sentem perdidas nessa terra de lassidão e corrupção. Nossa obrigação é mostrar aos mais jovens que a imbecilidade tem remédio, mesmo que as redes sociais impeçam que a roda se feche espargindo mais bondade, mais cultura e maior sabedoria. Não vai acontecer.

Infelizmente, como sou discípulo de Ortega Y Gasset, penso que toda a vez que começo a me sentir otimista vejo claramente que estou perdendo o contato com a realidade. Confesso que sou adepto da filosofia negativa, prefiro Nietzsche a Platão, gosto de Schopenhauer e relativizo Marx, enfim, confesso que li o primeiro e o segundo Wittgenstein e não entendi patavinas, mas adoro Hanna Arendt e abomino Sartre.

Por isso, tem coisa que não entendo: por que governos de esquerda apoiam a guerra de Putin, quando se sabe que o cara é muito pior do que Hitler? Por que personagens politicamente corretos - esses virtuosos propagadores do bem e do amor - preferem as forças qu e defendem o totalitarismo e jamais aceitam ser contrariados em suas teses de duvidoso valor moral? Por que Xandão não faz implante capilar?

Não sei, não sei...estou confuso, talvez porque seja domingo, o dia está meio vazio, há um zumbido estranho no ar, ontem me disseram que houve um tremor de terra aqui na costa norte da Ilha de Florianópolis, e acordei depois de um sonho em que eu discutia a estética bolsonarista a partir do conceito de Memória e Esquecimento do Lulismo com a Luana Piovani, debate virtuoso no qual ela me avisou que estava privatizando a praia onde moro e que eu estaria proibido de pisar em suas areias caso não mudasse minhas ideias distorcidas sobre a vida e o mundo.

Acho que comecei a pirar.