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Fora do tempo, sob as ordens do senhor Bastidor de Oliveira






Você sabe quais são os assuntos do dia: o assassinato de Marielle e sua trama nebulosa, o pernoite de Bolsonaro na embaixada da Hungria, a confusa delação de Mauro Cid e a ansiedade geral em torno do desvendamento da tentativa de golpe no Brasil.

A disputa eleitoral de Campo Grande, por outro lado, ocupa o substrato do interesse local, com pouca gente prestando atenção no que está acontecendo neste campo. Os personagens principais (ocultos e visíveis) atendem pelo nome de "bastidores".

O "bastidor" é a fonte jornalística que divulga as invenções mais feéricas. Tem muita gente da imprensa que tem contato quase carnal com o senhor "Bastidor de Oliveira". O cara sabe tudo. Só não sabe ainda quem serão os candidatos que disputarão as próximas eleições.

Talvez a única certeza até o momento seja a candidatura de Dona Adriane Lopes. Mas essa nutre-se da incerteza geral para motivar a militância que acredita que ela tem alguma chance de chegar lá. Mas no fundo Lopes sabe que está sendo enganada e sua aparente vantagem mantém-se enquanto houver aderência remunerada em seu entorno.

Como todos sabem, campanha eleitoral é um processo. Desde o dia primeiro de março ele começou e há intensas movimentações na esfera da classe política, com grupos imaginando quais serão as melhores estratégicas, o melhor discurso, os motes de campanha, as palavras-chave, as cores, os modelitos, enfim, a estrutura imagética que embalarão os blocos nas ruas.

Tem um monte de gente anunciando suas candidaturas, apoios etc. Mas dependendo dos arranjos eles serão no máximo 4. É o meu palpite. Nos últimos dias, o único fato relevante que foi dado ao público conhecer veio a ser a rasteira que o senador Nelsinho Trad deu no seu próprio partido (o PSD), adiantando-se no acordo que fez com o PSDB e rifando o nome do candidato Pedro Pedrossian Netto.

De meu lado, vi nisso uma descortesia de Nelsinho, mas como ele até o momento não explicou as razões que o motivaram a agir com tamanha frieza, de duas uma: ou ele foi intoxicado pelos ouvidos com fofocas mirabolantes, ou fez um acordo mais vantajoso para seus interesses individuais - e o resto que se lasque.

Enquanto isso, os demais candidatos correm pra lá e pra cá: Beto Pereira circula de evento em evento, vai a Brasília e volta, passeia com o governador Eduardo Riedel, tentando romper com o imobilismo e aglutinar apoio. Ele precisa parar de patinar no asfalto.

André Puccinelli faz o mesmo, agora aparecendo operando drones (mostrando-se jovem e moderno), visitando seus redutos e mostrando as falhas da atual incumbente. Seu recall é bom, mas a rejeição atrapalha.

Camila Jara parece meio perdida, mas segue em frente, sorrindo, dançando e viajando com Janja, tentando se preparar para uma campanha polarizada. Mesmo que da boca pra fora o PT afirme que ela tem apoio de Zeca do PT e Vander Loubet, não se vê empenho dos dois caciques petistas em torno de seu nome. Camila parece que ainda não foi digerida pelo petismo raiz. Não entendeu que a turma identitária dificilmente a levará a algum lugar .

O dr. Bastidor me conta que a direita quer chegar chegando. Vamos ver. Esse pessoal faz um tremendo estrago nas redes sociais, geralmente transformando seus adversários em piada e batendo abaixo da linha da cintura. Se Bolsonaro abraçar uma dessas candidaturas, pelo que apontam os levantamentos recentes, tem chance de jogar qualquer nome de seu campo para a disputa no segundo turno.

Não acredito em Rose Modesto. Ela continua muito falsiane para sustentar uma campanha sem pisar na jaca. É o folclore em torno do cavalo paraguaio: arranca bem, promete chegar lá, mas nos 100 metros finais sofre uma crise de insegurança e desiste. Depois vai para estrebaria reclamando que não teve dinheiro e foi traída. Já vimos esse filme antes.

Mesmo assim, vale a pena acompanhar os desdobramentos dos fatos. Gostaria de comentar o papel do ex-governador Reinaldo Azambuja nas coisas que vem ocorrendo, mas prefiro deixar para outra oportunidade. Sinto nele uma certa ansiedade para voltar a apostar nos mecanismos de hegemonia que tentou no passado. Vejo nisso um erro. Mas quem sou eu para dizer isso ao Azamba, que deve saber o que está fazendo.

Agora, pra finalizar: seja quem for o próximo prefeito ou prefeita vai enfrentar uma administração muito complicada. Dona Adriane está arrastando problemas com a barriga. Se tivéssemos uma justiça eleitoral, um Ministério Público e um Tribunal de Contas que atuasse sob critérios altamente republicanos ela já estaria inelegível. Mas, infelizmente, estamos no Brasil, ou pior, em Mato Grosso do Sul.

É melhor fingir demência.