Costuma-se dizer que nenhuma imagem difundida por um representante do poder é neutra. Estudos de semiótica estão aí para nos mostrar que signos representam algo mais quando interagem com a cultura do tempo e transformam-se num significante especial.
É provável que a imagem do governador Eduardo Riedel, fechando o primeiro ano de seu governo, passeando de longboard no Parque dos Poderes, tenha uma simbologia que se situa além da diversão inusitada, na qual assistimos ele flanar levemente pelo asfalto, mantendo um equilíbrio improvável, já que uma prancha de pouco mais de 40 centímetros não combina com o corpanzil do governador.
Mesmo assim, a cena chamou a atenção. Poucos jornalistas, porém, perceberam com clareza o que ocorreu e alguns até tentaram mostrar a habilidade de Riedel com um esporte que geralmente é associado a adolescentes espertos e irados.
No plano das interpretações simbólicas é possível avançar mais. Primeiro, o óbvio: nunca existiu em Mato Grosso do Sul um governador que se arriscou no skate. Assim, estabelece-se a notável diferença. Seria muito esquisito se amanhã aparecesse Azambuja ou Puccinelli tentando fazer o mesmo. Alguém consegue imaginar?
Segundo, escolher essa modalidade esportiva é preciso não somente treinamento, mas destemor, pois as quedas são fatores mais do que prováveis, já que elas acontecem, e quando acontecem é preciso saber levantar e tentar novamente.
Terceiro, o fundamental: noção de equilíbrio sobre quadro rodas no qual os pés, os braços e o meneio da cintura encontram o ponto de intersecção exato para que o peso do corpo possibilite por si só a navegação.
Talvez seja dessa maneira que o governador venha tocando seu governo e assim esteja obtendo êxitos acima de seus antecessores. Ele termina o ano com índice de popularidade espantoso - apesar de uma comunicação problemática e mais perdida do que cachorro caído de caminhão de mudança -, dinheiro em caixa, projetos ousados em andamento e bem ajustado com os demais Poderes.
Com isso, Riedel não tem recebido críticas expressivas da oposição, a população parece estar gostando de seu jeitão sorridente e discreto, além do que suas aparições no grande mundo político de Brasília e no empresariado nacional e internacional têm surpreendido pela clareza de suas propostas e pela confiança nas suas intenções.
Com isso, Riedel prepara as bases para que o Mato Grosso do Sul pule de patamar nas próximas décadas, principalmente depois da entrada em operação da Rota Bioceânica.
Politicamente, o governador sabe que eleger prefeitos preparados (fora dos esquemas do populismo e da extrema-direita) será fundamental para a consecução de seu projeto de longo prazo.
Com isso, ele flutua como skatista em meio às polarizações, sem dar margem para arreganhos do bolsonarismo nem contrariar o Lulismo, principalmente nas bolas divididas que estes polos criam todos dias para a aflição do País.
O grande problema do governador é o fogo amigo. Ele não conseguiu até hoje acomodar interesses internos daqueles que tinham muito poder na época de Azamba e agora vivem arreganhando os dentes pelos cantos do Parque dos Poderes.
Estes personagens ainda estão à espreita, fazendo bobagens, flertando com o perigo e fornecendo munição para o inimigo.
Mesmo assim, parece que o skatista que habita a alma do governador segue em frente, deslizando , manobrando aqui e ali para chegar ao fim sem levar nenhum tombo feio.