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Dia de Fúria no Pantanal

 

Por Leonardo Leite de Barros


Amanheceu bonito e triste. Flórisa negou amor, a filha brigou, avisou em tom de ameaça que iria fugir com Calça de Quina, almofadinha sobrinho do dono da fazenda Vitória.

Estava tudo errado, o Pantanal era o inferno. Buçal pesava na mão, olhou na cara do Pirulito e sentiu raiva. Pegou o bruto na forma e saiu dando uns trancos, não tirou a poeira do lombo do Confiança, apertou a chincha sem piedade, alguém tinha que pagar a desgraça do mundo.

Fecharam rodeio na corixinha. Vaqueiro velho não cerca vaquejada, esse dia avisou;“pode curar a bezerrada, vou cuidar rodeio “ . De longe acendeu seu cigarro e ficou remoendo.

Indiferente a desgraça alheia, a companheirada curava a bezerrada. A vaca brazina saiu para ir embora, velhaca, abaixou cabeça no mimoso e fofou blusa. Lugar errado, pegou Sebo de mau com o mundo, Pirulito sentiu a espora entrando na sua paleta. 

Pantaneiro, cavalo e vaca, barulho de casco e o tirão do laço, Pirulito pegou um buraco de tatu, rodou, a vaca no laço e Sebo amassado embaixo do confiança. Pirulito levanta atordoado, Sebo com o pé enroscado no estribo. O milagre, loro ressecado da enchente arrebenta e salva. Sebo livre, pirulito firme chinchando a vaca, Passo Triste chegou jogando a coberta, vida que segue.

Esfrega de Deus! Sebo voltou amoroso pra casa, banhou com carinho Pirulito, beijou Florisa, abraçou a filha e se deliciou com o carreteiro.




Pecuarista pantaneiro e escritor, mora em Campo Grande (MS)
Ilustração: Dante Filho