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Diário de Campo Grande

Dia 01

Uma das vias do Parque dos Poderes, implantada sob a denominação de avenida Presidente Manoel Ferraz de Campos Sales, visando a facilitar o acesso ao setor norte, onde funcionam o poder Judiciário, Receita Federal, Fertel e outros órgãos, podemos ver o desperdício de dinheiro público quando existe gente esperta que aproveita a chance de gastar com coisas inúteis e, certamente, enfiar algum no bolso. Ao longo da avenida, logo que a obra foi concluída, plantaram dezenas das chamadas palmeiras imperiais (cada uma deve custar mais de 10 mil reais, pelo que fui informado no consultório do dr. Google), criando assim uma imagem suntuosa e majestática de quem atravessava a via para adentrar no centro do poder administrativo do estado. 

Notem que a espécie nunca foi nativa da região. Tem gente que gosta e acha bonito. Mas em pouco tempo aconteceu o inevitável: com a abertura das frentes produtivas no campo do nosso interiorzão, principalmente nas regiões do pantanal, Coxim, São Gabriel d'Oeste etc., a fonte de alimentos das araras decaiu assustadoramente. 

Assim, em pouco tempo, Campo Grande transformou-se no ponto preferido dessas belas aves, visto a abundância de frutas existentes na arborização da Capital, coisa que vem desde os primórdios. 

O problema é que as araras adoram se alimentar dos brotos das palmeiras imperiais. Elas comem e depois se instalam no oco superior com seus ninhos. Claro, as palmeiras não resistem e morrem. A luta pela vida na natureza é cruel. 

Fico pensando aqui com meus botões: quem foram os iluminados que decidiram comprar essas palmeiras caríssimas para serem devoradas sem dó pelas araras?. Os gênios da raça estão em todos os lugares, mesmo entre paisagistas e planejadores urbanos, os quais devem propor esse tipo de plantio para todo e qualquer prefeito ou administrador que não tem respeito pelo dinheiro público. 

Aviso aos campo-grandenses: aqueles que, a partir de agora, enfeitarem avenidas com palmeiras imperiais bons sujeitos não são. 

Dia 02

Campo Grande está cada vez mais estragada. A administração municipal é um reduto onde a incompetência converge de maneira irresoluta na direção do banditismo. A prefeita Adriane Lopes dia sim outro também entra em rota de colisão com grupos organizados de servidores públicos. Todos querem um naco do orçamento. Mas o cofre está sendo raspado com prebendas e esquemas funcionais que, num ambiente sério, devia levar a ações de improbidade administrativa e a cassação dos direitos eleitorais da incumbente. Mas ninguém se mexe. O Ministério Público e o Tribunal de Contas fazem cara de paisagem. Tudo bem, política tem dessas coisas, mas o buraco financeiro da Capital está crescendo e logo mais à frente será instaurada uma crise irreversível. Quando tudo estourar, é provável que somente os inocentes serão punidos. A casta privilegiada ficará como sempre rindo incólume dos otários de sempre. Triste cidade. 

Dia 03

Fui assistir "Napoleão", de Ridley Scott, no Shopping Campo Grande. O cinema estava vazio. O filme é razoável. Tem o necessário para colocar o personagem na pauta de alguma reflexão. Claro que tudo fica adstrito ao romance com Josephine. A atriz Vanessa Kirb parece muito com Lady Gaga. Joaquim Phoenix encarna com certa graça e irreverência o papel do general que colocou a França no mapa do mundo.

As cenas de batalhas são muito boas. Mas quem queria mais do que isso sai frustrado. O trecho em que Napoleão dá um golpe de Estado faz jus à narração de Marx no Dezoito Brumário, com toda a luta envolvendo o parlamento, em desdobramentos que ficaram entre a tragédia e a comédia. 

No fim, achei tudo divertido, mesmo que o mocinho morra no final, algo que, todos sabemos, será o destino dos personagens históricos de nossas vidas. Ainda bem. 

Dia 04

Ouvi pela cidade comentários políticos confusos. Parece que a próxima eleição municipal será uma disputa que misturará os jogos futuros. Tem gente querendo aproveitar a campanha para as prefeituras para montar as estratégias e estrutura para a próxima campanha para o senado e câmara federal. Não entendi direito essa lógica, mas quem entende essa gente? 


Dia 05

Não gostei da postura de André Puccinelli na eleição passada para governador quando ele decidiu apostar suas fichas na candidatura do Capitão Contar. Tio Pucci ali errou feio. Ele mesmo reconheceu. Um homem como ele, formado na estufa da democracia, filho dileto de Wilson B. Martins, jamais poderia ceder às tentações da extrema direita, por raiva de Azambuja e por oportunismo que o levou a acreditar que se o Dronão fosse eleito ele, Puccinelli, mandaria no Governo. Jamais madame Contar permitiria, mesmo porque essa figura move-se por uma ambição inigualável no cenário da política estadual. Perto dela, Soraya Thronick é uma santa.

É preciso dizer, a favor de Puccinelli, que ele é um político fundamental no processo histórico de Mato Grosso do Sul. O Estado e a Capital não seriam o que são sem ele. Sua abnegação para construir obras importantes e fundamentais é a sua marca e seu legado. Ele só precisa refletir mais e melhor sobre os fatos e não dar ouvidos àqueles que só sabem adular. Ele deve confiar naqueles que não tem medo de criticá-lo com sinceridade, porque é melhor escutar más palavras verdadeiras do que fantasias que só levam à sucessão de erros. 

Dia 06

Tive um encontro com Sérgio Maidana e Celso Arakaki. Dois homens sorridentes com o calor de mais de 40 graus. Fico impressionado. Ambos estão produzindo um livro de memórias. Maidana é o autor. Eles está reunindo textos antigos e novos sob o título "Na beira do rio Mondego". Me pediu um prefácio. Me disse que Edson Moraes escreverá o posfácio. Fiquei pensando: acho que Maidana não está batendo bem da cabeça. Se ele soubesse como os literatos, a intelligencia e os jornalistas de Campo Grande me amam, não me colocaria essa responsabilidade nas mãos. Ás vezes fecho os olhos e me indago em reflexões difusas: o que eu fiz para ser tão odiado por tanta gente idiota. Ninguém responde. 

.Dia 07

Fui almoçar com o ex-deputado e ex-senador Ruben Figueiró. O homem é um prodígio. Do alto de seus 93 anos sua mente está afiada. Sua memória é espantosa. Ele relata a vida política dos últimos 60 anos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul como se os acontecimentos tivessem ocorrido ontem. Suas análises são atiladas e sua ironia é fina. Rimos muito lembrando nossa passagem pelo PSDB. Nessa conversa, não ficou pedra sobre pedra. Há testemunhas.