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A queda de popularidade do Governo numa economia que está reagindo


Lula não consegue compreender sua queda de popularidade

As últimas pesquisas nacionais indicam que o Governo Lula está em declínio. Dessa vez, contrariando os manuais, a culpa não é da economia. O quadro econômico, de fato, não é maravilhoso, mas os principais indicadores mostram uma reação positiva do mercado. Não há ainda uma sensação de bem estar geral, mas é uma questão de tempo. Poderia ser melhor, mas o próprio governo atrapalhou um pouco.

A dúvida que persiste é a seguinte: esse quadro é um rescaldo das políticas de Paulo Guedes, que se encontram no ponto de amadurecimento? Ou ainda: demonstra a correção das medidas do Banco Central ao longo do ano? Ou é crível que possa se atribuir a positividade econômica às medidas implementadas no atual Governo? A resposta é múltipla e está sendo debatida pelos especialistas.

O fato, porém, é que nem Lula e nem o PT encantam as massas como antes. Há razões de sobra para isso. Temos um Congresso mais poderoso e um Judiciário politicamente proativo. Além disso, no mundo comunicacional a imprensa tradicional perdeu muito a influência na formação de mentalidades e, no contraponto, as redes sociais - com a informação fragmentada, instantânea e desinformativa - colocam novos elementos no jogo e ganham os corações e mentes, principalmente dos jovens que não conhecerem o período ditatorial que o Brasil viveu até o começo dos anos 90.

Nesse ambiente, todo o cacarejo pró-democracia se dilui.

As formas conhecidas de manipulação das massas pouco letradas e com baixa capacidade cognitiva não estão dando certo. A política de bolsas e a concessões de benefícios sociais não demovem as convicções da maioria.

Aquela velha política do "agradecimento ao Nhonhô" da hora não funciona como antes.

A tecnologia coloca nas mãos de cada cidadão um mini-parlamento, uma corregedoria do Judiciário e um Coliseu virtual do Executivo, tornando cada vez mais dispensável a existência de vereadores, deputados, senadores e demais autoridades. Com o tempo, prevalecerá a chamada democracia digital, na qual a todos os instantes as pessoas serão (auto)convocadas para ajudar a decidir na ponta dos dedos projetos importantes para o País.

Na radicalização desse processo, a democracia representativa sucumbirá, independentemente da vontade de um ou outro gênio da raça. Tristes tempos vem pela frente. Salve-se quem puder.

Dia desses acompanhei um discurso de Lula conclamando o PT a se concentrar nos eleitores evangélicos para reverter a tendência de queda de sua popularidade. Ele chama o público que lhe dá pontos negativos de "essa gente", o que denota um certo desprezo e, no limite, deboche.

Lula acredita na formulação de uma "narrativa" de esquerda ou social democrata que possa se contrapor aos extremismos de direita. Sua visão é clara: na política só funciona o processo de manipulação, pois as ações efetivas são por demais complexas para "essa gente" entender.

Esse campo afetivo está dominado em parte pelo bolsonarismo e em parte por um conservadorismo disfuncional que a cada eleição mostra-se mais arraigado nas estruturas da psicopolítica do Brasil.

Os setores progressistas - esquerda, sociais democratas, parte do centro e até uma fração da direita liberal - não conseguirão facilmente romper a barreira de enormes contingentes (que inclusive votaram em Bolsonaro por falta de opção nas últimas eleições) que internalizaram um ódio visceral do PT, principalmente à medida que eles percebem claramente (com muitos equívocos e preconceitos) que esses grupos pertencem a uma elite arrogante, que se coloca no debate público ora como "politicamente correto", ora como detentor de todos os saberes.

Com as redes sociais ninguém gosta que lhes imponham como pensar correto e estar do lado "certo" da história. A sociedade se fragmentou em bolhas e todas reforçam seus discursos de convencimento para si mesmas. Muitos especialistas veem nesse fenômeno o fim da política. Acho exagero. Acredito que a política está passando por um processo de mudança estrutural, embora os políticos profissionais não estejam sabendo como se orientar nesse novo mundo. Por isso, utilizam as ferramentas das redes de maneira imprópria e muitas vezes ridícula. Eles perseguem o ideário de subcelebridades, sem perceber que seus elementos discursivos tendem à soma zero. Não servem para nada.

Atualmente, 30 horas de um curso acadêmico de ciências políticas de esquerda altamente intelectualizado é derrubado com dois memes da direita. A lacração é sucesso garantido. Isso é bom? Claro que não. Mas é a triste realidade.

O mundo será cada vez mais complicado e disfuncional. A guerra para conquistar a cabeça dos evangélicos será apenas vantajosa para essas denominações porque potencializará seu poder político. 

Pastores enxergam muitas vezes seus fiéis como gado. É um erro. Erro maior é que a esquerda está pensando da mesma forma: passará a frequentar as igrejas com o nariz tapado, acreditando que enganará "essa gente" com facilidade.

Ninguém vai substituir Cristo por Marx, mesmo que muitos adeptos do espectro progressista venha adotando a metodologia do pensamento mágico.

O embate entre a franja multicolorida dos esclarecidos contra os "atrasados" religiosos que defendem a família, é contra o aborto, repudia gays, acreditam que o comunismo deseja dominar o mundo etc etc não tem uma saída fácil. Mas tem gente que acredita que com charme, veneno e dinheiro resolve tudo. Se fosse assim, seria simples. Mas não é.