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Roberto Bolaño: A crítica e a literatura de todos os tempos



Por algum tempo, a Critica acompanha a Obra, depois a Critica se desvanece e são os leitores que a acompanham. A viagem pode ser comprida ou curta. Depois os leitores morrem um a um, e a Obra segue sozinha, muito embora outra Crítica e outros Leitores pouco a pouco se ajustem à sua singradura. Depois a Crítica morre outra vez, os Leitores morrem outra vez, e sobre esse rastro de ossos a Obra segue sua viagem rumo à solidão. Aproximar-se dela, navegar em sua esteira é um sinal inequívoco de morte segura, mas outra Crítica e outros Leitores dela se aproximam, incansáveis e implacáveis, e o tempo e a velocidade os devoram. Finalmente a Obra viaja irremediavelmente sozinha na Imensidão. E um dia a Obra morre, como morrem todas as coisas, como se extinguirão o Sol e a Terra, o Sistema Solar e a Galáxia e a mais recôndita memória dos homens.

Trecho extraído do romance “ Os detetives selvagens”.*


Roberto Bolaño foi um importante escritor chileno e latino-americano na segunda metade do século XX.Nascido no dia 28 de abril de 1953, Roberto Bolaño Ávalos era filho de um caminhoneiro e de uma professora na cidade de Santiago, capital do Chile. Mudou-se com a família para a Cidade do México e abandonou os estudos. Morreu em Barcelona (Espanha) em julho de 2003.