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Riedel foi eleito há 1 ano e não decepciona

 

Eduardo Riedel é anunciado em 30 de outubro de 2022 Governador do Estado -

No dia 30 de outubro de 2022, às 17 horas e 16 minutos, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE/MS), pelas mãos do desembargador Paschoal Carmello Leandro, anunciou a vitória do tucano Eduardo Riedel como Governador do Estado.

Riedel obteve mais de 800 mil votos (59,90%) contra 612 mil do Capitão Contar ( 43,10%, uma diferença de quase 200 mil votos) numa eleição que terminou sagrando Reinaldo Azambuja como aquele que conseguiu pela primeira vez na história de MS transferir a faixa para o sucessor.

É preciso lembrar que Riedel entrou como o grande azarão. Nunca tendo exercido cargo eletivo (não vale a presidência da Famasul porque é eleição fechada), sua trajetória como homem público sempre foi discreta, mesmo sabendo-se que no período de três anos antecedentes ao processo eleitoral ele era o principal executor do dia dia do governo, visto que Azambuja decidiu dedicar-se ao complexo processo que o envolveu nas tramas urdidas pelos irmãos Batista da JBS.

No decorrer da campanha Riedel passou meses não conseguindo ultrapassar 4% das preferências nas pesquisas eleitorais. A oposição criou o mote: "o homem não decola". Era verdade. O candidato foi para a cabeceira da pista e ali ficou ensaiando, com turbinas ligadas, apenas observando o cenário.

Isso começou a levar ao desespero o tucanato. O quadro nacional estava extremamente polarizado e, pela natureza da base eleitoral de Mato Grosso do Sul, "todo mundo" era bolsonarista, uns mais extremistas, outros fanáticos e alguns moderados.

Riedel escolheu o caminho da moderação. Sua meta era subir devagar nas pesquisas até atingir 15%, o que ocorreu cerca de 3 meses antes da eleição. Nesta etapa da campanha, o candidato mais populista, Marquinhos Trad, depois de um grande jogo de cena, declinava sob denúncias cerradas, desnudando uma administração na qual ia mal das pernas, mas sustentava-se em bases muito tênues, focadas num personalismo forjado em redes sociais usadas de maneira muito amadora.

Em seguida, estava a postos André Puccinelli, ex-prefeito da Capital, ex-governador, com grande potencial de votos, mas fragilizado em decorrência do processo que o levou à prisão, e também por uma nítida incapacidade de compreender a natureza da política surgida nos tormentos dos mecanismos da polarização.

Mesmo assim, no final da campanha, veio a surpresa: uma declaração de Bolsonaro no último debate entre os presidenciáveis na Rede Globo empurrou o Capitão Comtar como vitorioso no primeiro turno, com 26,7% contra Eduardo Riedel com 25,1%. O resto é história.

Comtar surgiu de repente com grande chance de ser eleito (imaginem os eleitores hoje o que isso significaria) e Riedel teve que articular uma base partidária juntando a ex-ministra Tereza Cristina (PP) com o PT e outros partidos de esquerda, formando um arco de alianças como nunca se viu no Estado.

A história um dia relembrará esse processo. Mas o fato é que nestes 12 meses Riedel não decepcionou. Vem fazendo um governo com grande índice de popularidade sem ter provocado solavancos na classe política. Hoje a opinião pública reconhece que acertou no voto e no incumbente.

Na minha opinião, Riedel é o sujeito certo na hora certa, visto que Mato Grosso do Sul (juntamente com os Estados dos Centro-oeste) está na iminência de alterar seu eixo econômico para se transformar nos próximos 20 anos num importante polo industrial, caso o Governo Lula não faça nenhuma grande bobagem.

Quem acompanha o dia a dia do governo sabe que nem tudo são flores, mas só o fato de em 12 meses Riedel ainda não ter enfrentado escândalos de corrupção, falas mal colocadas, suspeitas de manobras insondáveis está de ótimo tamanho.

Percebe-se mais convergência do que divergência. Claro que isso em 2024 pode mudar por conta das eleições municipais. O mais estranho, contudo, é que está se percebendo que os problemas que se adensam para atrapalhar Riedel não são externos, mas sim internos. O fogo amigo, ou seja, pessoas com egos feridos, interesses contrariados etc., podem atravessar os pés pelas mãos entrando naquela vibe de criar dificuldades para vender facilidades. Coisas da política.

Outro problema em que Riedel será testado a partir de agora é o de recolocar alguns termos da reforma tributária, ora em trâmite no Congresso, evitando que o Estado possa ter perdas futuras maiores do que se esperava, sem que as compensações previstas sejam suficientes para garantir o ritmo do processo de crescimento mantido nos últimos anos, decorrente de  ajustes que muitos estados não fizeram e que, mesmo assim, sairão ganhando.

O governador sabe o tamanho do problema que Mato Grosso do Sul enfrentará no futuro longínquo (daqui a 30 anos ou mais) porque não foram adotadas medidas corretivas neste momento. Esse é um legado que ninguém gostaria de deixar para novas gerações, visto que há um compromisso institucional em curso com crescimento sustentável e políticas de inclusão social, para dirimir a pobreza e estabelecer critérios mais justos de igualdade social.

Não será fácil. Espera-se que a classe governante tenha juízo e abra mão de interesses localizados nestes tempos difíceis que estamos vivendo, mesmo compreendendo que estamos fazendo a grande virada que será fundamental para definir o que será o Brasil nos próximos séculos.



PS - Tempos atrás escrevi que o deputado Pedro Pedrossian Neto estava cultivando um alarmismo meio doidivanas quando o projeto de reforma tributárias começou a tramitar no Congresso. Ele deu várias declarações à imprensa alertando sobre as perdas que MS teria caso esse modelo de reforma prosperasse. Passados os meses, devo dizer que ele estava correto e eu estava errado. Suas piores previsões estão se concretizando. Claro que naquele momento, lá atrás, acreditei ingenuamente que o parlamento pudesse superar visões regionais em nome dos grandes interesses nacionais. Por isso, peço escusas ao deputado, não pelo fato dele ter sido mais realista do que eu, mas sim porque substimei sua bagagem e inteligência, o que o coloca numa posição mais iluminada do que esse humilde escriba. Fica assim registrado.