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No tempo em que avião era chic



Por Leonardo Leite de Barros

A boa nova chegava em Campo Grande pelo aeroporto. Varig e VASP eram os mensageiros. Entrar em um avião, naquela época, exigia trajes especiais. A ocasião era para ver e ser visto. Chegar à cidade em um de nossos antigos mensageiros dava status, era sinal inequívoco de importância.

Como sou da Candido Mariano, naquela época, não desci por aqui trazido por nenhum de nossos antigos mensageiros.

Me restou comparecer ao aeroporto para receber algum visitante ilustre. Eram sempre familiares. Vinham da velha Bahia ou os cariocas/corumbaenses da Guanabara.

Havia a preparação para ir ao aeroporto, exigia banho e traje de missa. O simples “estar aguardando um conhecido” era sinal de posição social.

Anos depois, fiz minha primeira viagem de avião. Embora por motivos fúnebres, pude conhecer os talheres e pratos de porcelana personalizados da boa e velha Varig. Me acabei de tanto comer.

Desci no Santos Dumont, fiquei encantado com tamanha exuberância e beleza. Ainda hoje me surpreende. A aproximação para pouso deixando o Pão de Açúcar na asa direita do avião ou passando em cima da ponte Rio Niterói rente às águas da Baía da Guanabara é de tirar o fôlego.

Voar ficou chato, caro, insalubre, feio e inevitável. Deixaram de ser mensageiros, hoje transportam corpos apertados, devidamente separados por seus mundos digitais.

Encostar no vizinho de cadeira é certo, conversar é estranho, indesejável. As companhias aéreas parecem se esforçar para desagradar os clientes. Aguardo ansioso pela troca da tripulação por avatares. Pela pasteurização de comportamento, pode ser que já estejamos voando com os avatares. Quem sabe?

Nosso aeroporto cresceu, ficou comprido como uma lingüiça de açougue, hermeticamente fechado como deve ser uma prisão de segurança máxima. Um finger para dar conforto aos usuários, nem pensar! O negócio é encher de lojas, bares, extorquir os transeuntes.

Resta o tuiuiú lá fora, isolado e triste. Resta a lembrança dos velhos mensageiros com seus requintes burgueses e frívolos. Resta um meio de transporte caro e poluidor. Resta a lingüiça hermeticamente fechada!

Campo Grande muito grande, enorme!!

Pecuarista pantaneiro e cronista