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Alexsandro Nogueira: A última música dos Beatles

 


O que os fãs dos Beatles ainda podem esperar de novidade, 53 anos após o fim da banda? A resposta mais provável seria novas estampas de camisetas, remixagens das velhas canções, fotos raras ou vídeos de baixa qualidade, encontrados em arquivos esquecidos nas emissoras inglesas. Nenhum beatlemaníaco que se preze espera mais do que isso.

No entanto, a gravadora Apple Records revela que o quarteto ainda tem uma carta na manga. Ou melhor, uma música inédita na gaveta a ser lançada até o próximo mês de outubro em todas as plataformas digitais e também no formato vinil e cd.

A notícia pegou o mundo da música de surpresa e causou ti-ti-ti nas redes sociais. Afinal, como seria possível reunir todos os integrantes para uma gravação, uma vez que John Lennon faleceu em 1980 e George Harrison em 2001?

A resposta para essa pergunta foi dada pelo ex-beatle Paul McCartney, durante uma entrevista concedida ao canal britânico BBC, onde ele conta a história e o percurso de como três músicas inéditas de Lennon foram parar em suas mãos, em 1994.

Macca conta que recebeu de Yoko uma fita demo com gravações caseiras de John tocando piano e cantando em seu apartamento. Como as canções estavam inacabadas, o material foi trabalhado e finalizado em estúdio por ele, George e Ringo, no período de 1994 até 1995. Apenas “Free as a bird” e “Real Love” foram lançadas em 1996 e 1997 pela banda inglesa nos álbuns “Anthology”. A terceira faixa, “Now and Then” foi postergada.

28 anos após essa reunião, Paul abre o jogo e confessa os verdadeiros motivos pelos quais a última faixa ficou esquecida: o primeiro deles foi a falta de interesse Harrison pela composição e o segundo, está no defeito técnico do áudio com a voz de Lennon. A melodia original ficou comprometida por causa da interferência de um aparelho de TV ligado, enquanto rolava a gravação.

Com os avanços da tecnologia, o cineasta Peter Jackson conseguiu por meio da IA pinçar a voz de John da fita, sem barulhos ou chiados, e trabalhá-la em estúdio com Paul e Ringo. Já os violões desta nova versão foram gravados por George ainda em 1995, antes dele abandonar o projeto.

Em meio ao lançamento dessa canção inédita, surge também o boato de que a voz de Mccartney (também inserida nessa faixa) foi processada pela inteligência artificial para que o timbre do artista apresentasse características de um cantor mais jovem. O músico nega e argumenta que o vocal dessa composição foi feito por ele ainda na década de 1990, mas sem o uso de artifícios tecnológicos.

Além de “Now and Then”, a Apple Records prepara para o fim do ano o relançamento de dois discos do quarteto: as coletâneas azul e vermelha que foram sucesso comercial nos anos 70, agora ganham nova roupagem para o formato streaming.

Vale lembrar que tanto a nova música quanto as reedições dos novos discos da banda não são homenagens póstumas a Lennon e Harrison, mas um tributo ao trabalho do grupo que permanece vivo e intenso na lembrança dos fãs.

A nostalgia em torno desse trabalho inédito da banda é compartilhada por Giles Martin, responsável técnico pelo novo trabalho dos Beatles. Na opinião do produtor, essa euforia à espera de “Now and Then” tem uma simbologia muito importante e demonstra que a música criada por John, Paul, George e Ringo é eterna.


Alexsandro Nogueira é jornalista, escritor e músico