O Governador Eduardo Riedel prefere não discutir nomes de candidatos a prefeito este ano. Ele deseja ganhar tempo, esperar que consensos se condensem com o debate político e, quando o quadro estiver amadurecido, entrar no jogo sucessório. Para a prefeitura de Campo Grande, o maior e mais estratégico colégio eleitoral do Estado, Riedel quer ver se o deputado Beto Pereira articula interna e externamente seu nome, formando um arco de apoio que o coloque como principal nome da disputa. O tempo dirá, definirá e comandará o processo. Por enquanto, o governador se dedicará apenas aos temas voltados para a gestão, para a política nacional e para a reforma tributária. Política mesmo, só no ano vem.
Dante Filho- Como o senhor está pensando as próximas eleições municipais?
Eduardo Riedel- Hoje (06/07) recebi lideranças municipais aqui na governadoria e falei um pouquinho sobre esse tema. Estou tentando me afastar da discussão política dentro do governo. Acho que existe o momento certo para falar. Existem as discussões partidárias, a dos grupos e a do partido ao qual pertenço. Minha eleição foi composta de diferentes partidos e lideranças, e essas agremiações e lideranças atuam por estímulo próprio, pois essa é a natureza da política numa democracia. Eu só vou participar da discussão política municipal no ano que vem. Como governador é conveniente entrar no assunto no próximo ano. Claro que acompanho as ações dos partidos, dos aliados, mas não estou fazendo a discussão política em torno de candidaturas, não estou articulando nomes, até porque isso tira muito o foco da gestão. Política demanda tempo, conversa, negociação...
DF- Desde o Governo de Reinaldo Azambuja o PSDB criou uma estrutura funcional em que o senhor cuidava da administração e o governador cuidava da política, no corpo a corpo, na linha de frente. Foi uma parceria exitosa. Com sua eleição parece que esse eixo funcional permanece. O governador continua cuidando da política e o senhor mais voltado para a gestão. Essa é a lógica daqui pra frente?
ER- A diferença é que ao assumir o cargo de governador naturalmente parte do eixo político vem para a cadeira do Eduardo Riedel. Mas a estrutura central da discussão política continua assim mesmo, como você falou. De fato, não estou focado nos detalhes dos assuntos político-partidários. O PSDB tem como presidente o ex-governador, ele está atuando, conversando e ele reporta a mim e ao partido as discussões nos municípios. De resto, como sou vice-presidente nacional do PSDB, discuto politicamente olhando o contexto macro.
DF- Nestas discussões tem mais convergência ou divergência?
ER- Tem mais convergência, as divergências são pontuais. Tenho participado bastante em Brasília das discussões do partido com uma perspectiva e visão nacional. E aqui o ex-governador Reinaldo atua, e nós mantemos uma conversa permanente. Tem funcionado.
DF- Estamos vendo vários nomes pipocando aqui ali e vejo o PSDB se colocando ainda de forma discreta apontando na direção do nome do deputado Beto Pereira para a prefeitura de Campo Grande, que é, digamos a cereja do bolo. O senhor acredita que o PSDB seguirá esse caminho na escolha do candidato para prefeitura da Capital?
ER- Sim, o Beto já anunciou, já se colocou dentro do partido como um pré-candidato. Ele colocou essa posição, o que é natural, dentro de um processo que está sendo construído, primeiro dentro do partido com os aliados, até se concretizar, ou não. Ele colocou isso claramente e o partido está abrindo essa discussão. Se há ou não um consenso ainda eu acho que, dentro do partido, estará se estabelecendo esse consenso. Tem outros atores que estão muito ligados à capital e isso está sendo construído. É assim que acontece na política. Quando eu digo que estou mais focado na gestão é um pouco disso. O Beto vai construir o consenso dentro do partido e a partir do momento, estando tudo consolidado, aí sim o governador, como um agente político, vai trabalhar em prol da candidatura. Só vou discutir isso no ano que vem. Por enquanto, o debate político que estou fazendo é com a Assembleia Legislativa e com os municípios, sob a ótica da gestão do Estado.
DF- Para sintetizar, o esforço que o senhor imagina que deva ser feito será a repetição do mesmo arco partidário da disputa para o governo do Estado sob a égide do PSDB?
ER- Sim e não. Pode ser outro partido ou pode ser do PSDB. Estamos abertos a isso, ou melhor, quero estar aberto, eu acho que existe essa maturidade dentro do Estado. É a busca do fortalecimento dessas alianças, sim. Nós temos partidos e lideranças que desejam caminhar muito próximos e o esforço é justamente esse. Em algumas situações isso não vai ser possível, tudo bem, faz parte do processo democrático, vamos respeitar as decisões locais.
DF- Estamos no meio de uma discussão de extrema importância histórica que é a questão da reforma tributária que tem uma grande complexidade e temos visto aqui que a posição do senhor é muito moderada, na defesa da PEC 45, diferente daquela de seu vice-líder na Assembleia, Pedro Pedrossian Neto, que está sendo muito alarmista. Qual a visão que você tem sobre isso assim dentro desses polos de divergência e de entendimento?
ER- Eu respeito muito a posição das pessoas. Mas eu estou lidando com bancada federal que é quem vai discutir e vai votar. A bancada está bem ciente de tudo o que está posto no texto na PEC. Está claro que cada um vai tomar sua decisão. São Parlamentares independentes para votar. O meu papel é liderar o processo em relação à reforma junto a eles, explicando os questionamentos, as dúvidas...A decisão individual deve ser respeitada. Digo sempre que a reforma não é do governo atual porque tem muita gente esquecendo que ela será efetivamente implantada até 2030. Veja, o texto da PEC tem um dispositivo para tratar de uma situação em específico que vai se consolidar em 2079, que finaliza a transição do IVA. Estamos falando de 100 anos de prazo para consolidar 100% de uma reforma de algo que já deveria ter sido feito no Brasil há mais de 20 anos. No passado não se encontrou um ambiente político de consenso. Há que se dizer que São Paulo, que tem um peso expressivo, sempre foi contra a reforma e talvez por isso não andava. Hoje o momento é a favor, o que muda completamente o cenário. No caso de Mato Grosso do Sul a reforma não vai fazer com que a gente perca o potencial de crescer, não perde receita. Para começar, o texto da PEC prevê toda a correção de eventuais perdas que vai para o fundo de compensação e fundo de desenvolvimento. São dois instrumentos fundamentais. Com o fundo de desenvolvimento podemos trabalhar em setores para melhorar nosso potencial. Não podemos mais condenar o Brasil a ser o pior ambiente de negócio do mundo no que diz respeito ao sistema tributário.
DF- O que estamos vendo é que um dos eixos dessa reforma é a questão de quem sai em vantagem inicialmente, que são os estados mais populosos, como o senhor disse lá em São Paulo numa reunião dos Estados do Sudeste. Nossa população é pífia e muita gente tem argumentado que isso vai ser um desastre para o nosso Estado. Como o senhor responde a isso?
ER- A reforma traz o incentivo ao investimento no setor produtivo e aqueles setores que estão no Estado e que são competitivos tendem a investir cada vez mais. Então, é o oposto do que estão falando. Além disso, haverá proteção em relação a eventual perda tributária porque tem que separar isso da questão do ambiente de negócio e do desenvolvimento da nossa economia . Outro ponto é o administrativo, visto que ainda não houve uma reforma administrativa, que é outro grande ponto que vai ter que colar à reforma tributária, provocando uma discussão que vai acontecer com o sistema dos fiscos estaduais e federal. Haverá uma brutal simplificação da máquina. Francamente, eu não posso é entrar nesse tom alarmista nem politizar a discussão. Eu sou pela agenda do Brasil.
DF- Pegando esse gancho e vinculando à questão da polarização política. O senhor acha que nós vamos superar essa maldição histórica e caminhar para uma discussão mais qualificada e menos histriônica como vimos nesse embate entre o Governador Tarcísio e ex-presidente Bolsonaro?
ER- Ás vezes eu fico olhando essas discussões politizadas nas quais muita gente embarca porque, infelizmente, estamos em tempo de lacração. Mas não vou de maneira nenhuma me furtar de analisar e discutir aquilo que importa para o Brasil, que é o crescimento do País.
DF- Como o Sr. está vendo o Governo Lula, qual é a percepção: boa, ruim, mediana?
ER- Enquanto relações institucional digo que a minha percepção é positiva. Nós temos divergência no campo ideológico. Há o direcionamento de algumas áreas numa linha que eu discordo, na qual chamamos de linha estatizante, uma linha que prefere um Estado maior que, com algumas relativizações que são colocadas, eu entendo que não cabe no mundo de hoje. Mas esse é o governo que ganhou, e o governo que ganhou vai adotar sua linha de atuação no campo ideológico. Podemos divergir, no meu entendimento, mas isso não tira a capacidade institucional de Mato Grosso do Sul sentar com o governo eleito e discutir os projetos para o Estado e para o Brasil. É o que eu tenho feito de uma maneira absolutamente tranqüila e respeitosa e não fico politizando é discussões que não levam a lugar nenhum. Estou focado na agenda de Mato Grosso do Sul e na agenda do Brasil. Temos que ser abertos para o debate. Tanto é que na reforma nós discutimos fortemente alguns pontos que não estavam contemplados ali e que colocavam em xeque, por exemplo, o futuro de MS, como, por exemplo, a garantia dos incentivos fiscais. Veja, eu assino um contrato, a empresa vem para cá, se estabelece, está juridicamente posta, não dá prá gerar uma insegurança jurídica nesse processo. Na última discussão da qual participei em Brasília, que foi a da governança dos fundos essa foi a questão, isso é importante, pois é como o estado vai estar representado no funcionamento do Fundo Desenvolvimento Regional, ou seja, de quanto da parte desse bolo vai para cada um. Com o IVA dual o dinheiro entra e já vem para o estado todo dia como é hoje, uma arrecadação normal e ninguém decide, quem decide é a base tecnológica, é a premissa do algoritmo, uma equação que é colocada no sistema e é essa equação é que a gente tem que saber qual é e reconhecê-la bem. Esse é o problema. E vamos, pouco a pouco, equacionar todos os pontos duvidosos da reforma de forma transparente e racional.
FOTO: ÁLVARO REZENDE