A foto acima é de Jamil Name do período em que ele estava no auge de seus dias de glória. Era um mito. Depois de alguns anos, preso em na penitenciária de Mossoró, virou uma sombra, um caco de homem. Prefiro não mostrar sua imagem.
Nesse tempo, Name vivia cercado de políticos importantes, dava as cartas do jogo eleitoral, mandava nos Tribunais de Justiça do Estado, elegia deputados e vereadores, sustentava uma penca de jornalistas, enfim, mandava em Campo Grande e em várias regiões de Mato Grosso do Sul.
Naqueles anos dourados bastava citar os interesses da família Name que um rastilho de medo e reverência se acendia causando furor na sociedade. Muitas pessoas sentiam orgulho de se dizerem próximas do clã como se isso representasse uma proximidade com os deuses do Olimpo.
Uma vez, trabalhando num jornal importante do Estado, um colega me disse que o velho Name queria me conhecer. Não dei pelota. Depois fui alertado de que isso era perigoso. Não podia recusar o convite. Continuei indiferente. Não aconteceu nada.
Conheci mais tarde a matriarca, Tereza Name, uma mulher que ajudava os pobres distribuindo um sopão, tendo sido eleita vereadora de Campo Grande. Uma mulher engraçada, mas que carregava um terrível fardo nas costas. Era visível.
Uma vez, numa mensagem pelo Facebook mandou me avisar que um dia contaria a "verdadeira história" do marido pra mim. Não me interessei.
Enfim, achava aquilo tudo cafona, uma coisa fora do tempo, algo que remontava aos tempos do Al Capone. Não era minha praia.
No dia em que casa caiu, e correu a notícia da prisão de Jamil Name e seu filho, Jamilzinho, coincidentemente estava no escritório de seus advogados, assinando um acordo de um processo do qual uma juíza de Bonito havia me arrancado R$ 15 mil, e pude presenciar uma agitação febril com os últimos acontecimentos.
Numa conversa informal, os advogados me disseram que Jamil era um "mafioso romântico", quase inofensivo, mas que seu filho, Jamilzinho, era um "psicopata", que havia adquirido o estranho vício de matar por prazer. O relato que ouvi era de um rapaz que havia se tornado um sádico incontrolável. Uma coisa arrepiante.
O resto é história. Agora a família está numa fase de profunda decadência, apesar de que seus herdeiros estejam no judiciário, no Tribunal de Contas, no parlamento, no governo, na polícia, ou seja, incrustrados na máquina do Estado. Certamente, nas próximas eleições vão influir por causa do dinheiro que guardam escondidos no Caixa 2.
Essa gente compra voto e explora pessoas vulneráveis das periferias, distribuindo migalhas.
Sei que muitos jornalistas se interessam pela versão local da família Corleone. Felizmente (ironia), o crime organizado está se sofisticando e gente do naipe da família Name será uma tênue fumaça do passado. Muitos saudosistas lembrarão dos tempos em que essa gente dominava a agenda política e policial de Mato Grosso do Sul.
Sei que muitos colunistas sociais, com aguçado sentimento de nostalgia, lembrarão das festas bregas regadas daquele luxo novo-rico e suspirarão recordando como o dinheiro fluía e a alegria era farta.
Cada tempo tem seus momentos de sol e sal. Estamos deixando uma Era do Medo para entrar em outra. Sejam bem-vindos.
O chamado julgamento do século que tem Jamilzinho como suposto mandante do assassinato por engano de um filho de um policial tem mobilizado corações mentes do Estado. Trata-se da espetacularização de um crime mafioso. Só se fala nisso em Campo Grande. Tem tudo para virar roteiro de filme B.
Não há o que se fazer: a decadência deve ser um show ao vivo gostoso de se ver. Nessa hora penso no deve estar passando pela cabeça do deputado Jamilson Name, do Conselheiro Jerson Domingues, do educador Pedro Chaves e de tantos outros que atravessaram as últimas décadas amarrados a esse sistema de poder.