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Contar pra dentro, sempre


  Dante Filho 

Tem gente que olha para o mundo e conta seus ganhos olhando pra fora. São os altruístas e os bons de coração. Estes acreditam na filosofia de partilhar o pão e distribuir seus recursos, mesmo que sejam modestos. Outros, só sabem contar pra dentro. Tudo me pertence. Tudo que eu puder engolir é meu, e assim o farei, lasquem-se os outros.

Tudo que possa ser tomado, tomarei. Simplesmente faço isso porque sou o mais forte, o grandão, o poderoso; tenho a prerrogativa de sair chutando tudo e todos por aí, principalmente quem ousar atravessar meu caminho.

Daí nasce o autoritarismo, a ganância, a corrupção, a sanha de ter tudo conforme o desejo alcança e faça surgir algo que represente o inalcançável para ser, novamente, conquistado e engolido. São insaciáveis. 

Daí nasce as ideologias exóticas, fanáticos e mitômanos, pessoas que seguem cegamente um líder maluco, fazendo o que ele manda, mesmo que em 48 horas mude de ideia 5 vezes e mande às favas qualquer acordo ou contrato. 

Contar pra dentro é querer o poder a qualquer custo, destruindo qualquer relação que se possa chamar humana, até porque esses glutões da honra e da ingenuidade coletiva digerem qualquer coisa para iludir o próximo. Cuidado com eles!

O cara que gosta de contar pra dentro é obsessivo e sabe apenas apenas duas operações matemáticas, gosta de chegar chegando, preferindo o tapetão, do que o jogo limpo e elegante no gramado. Ele sai por aí andando de moto sem capacete, rindo, contando quantas almas poderá enganar para atingir a glória, a riqueza e prestígio social.

Vocês estão entendendo quem é o sujeito que gosta de contar pra dentro, né? O nome é o personagem. Aqui temos os nossos contar pra dentro. Na verdade, eles estão se multiplicando. 

Querem deglutir tudo porque pensam que o hoje não poderá ser engolido amanhã. Eles querem o máximo agora. E assim eles seguem. 

Imaginam que o poder é o ursinho de pelúcia que mamãe não lhes deu no aniversário de 4 anos. Brigam por ele. São birrentos.  Xingam, agridem, inventam, e, depois, fingem que são santinhos, puros e imaculados. 

Os “contar-pra-dentro” se dizem conservadores, defensores da família, cristãos imaculados, sempre de dedos na direção do outro (seus inimigos) em busca de um escândalo fantasiado para reafirmar perante todos sua pureza d’alma.

Contar pra dentro rende muito dinheiro. Tem um contar circulando por aí que teve elevação patrimonial de 720% em poucos anos, obtidos num período em que ele chamava todo mundo de ladrão, numa hora que o País estava em crise e muita gente morrendo contaminado pela peste.

Sua esposa - que ela possa perdoar a franqueza deste simples escriba - é pior. Na verdade, ela manda e domina e faz com que o contar-pra-dentro apronte coisas estranhas e duvidosas para ganhar muito dinheiro. 

Tanto é assim que a notória voracidade da senhora a faz ser dona de mais de 70 capivaras na justiça, muitas das quais tentando passar a perna em funcionários que trabalharam para ganhar uma salário vil, sob exploração em jornadas ilegais e exaustivas. 

Estes se auto-intitulam  "conservadores" que adoram o Estado, advogando o liberalismo econômico e defendendo a pureza dos costumes. 

Pátria, deus e família entram por dentro de seus interesses públicos e privados e, depois, quando estão confortavelmente em seus gabinetes, começam a cupinizar o erário até raspar o fundo do cofre.

Quando a imprensa questionar, eles dizem que ela está a serviço do comunismo. Quando o povo clamar por justiça ou pedir um pouco mais de decência, eles dirão apenas que estão contando pra dentro, pois assim lhe chamaram e o apoiaram na hora do voto.