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O cheiro do ralo

 


********Dante Filho*******


André e Riedel resistem em conduzir suas respectivas campanhas para o esgoto. Marquinhos e Capitão Contar insistem na direção contrária. Rose faz cara de paisagem (na semana que vem falo dela). Quem vencerá essa queda de braço?

 Se existem propostas efetivas sendo colocadas em discussão por parte de Trad e Contar, elas seguem em duas dimensões: ou são fantasias mirabolantes – que nunca serão colocadas em prática- ou mentiras repetidas para se transformar numa “verdade” tipo engana-eleitor.

Trad e Contar apostam tudo nessa coisa disforme, no baixo nível, no jogo rasteiro, nas confusões populistas de aeroporto – tão ao gosto desses novos tempos multidimensionais, que fazem muita fumaça, mas não geram energia. 

No plano nacional, ocorre a mesma coisa. Lula e Bolsonaro apostam no irracionalismo, nos fatos alternativos, nos dilemas afetivos, no uso da máquina (o STF já mostrou que está no bolso de Lula), no ódio explícito – enquanto candidaturas como a de Ciro Gomes, que tentam discutir programas de governo lógico e aplicáveis, não conseguem romper as bolhas de eleitores que ainda vivem na esfera ilusória de que existe um salvador da Pátria. Triste Brasil. 

Assisto nas redes a agressividade de Marquinhos. Ele insiste que é um homem de “mãos limpas”, que é “bom gestor” e que continua sendo bom pai de família. Quem, de sã consciência, acredita nisso? 

Os fatos desmentem, mas ele segue em frente, de peito estufado, repetindo, prometendo maluquices, denunciando contradições do governo Azambuja, que, como toda administração disfuncional como é a brasileira (inclusive a sua, quando foi prefeito de Campo Grande) tem grande margem de descontrole e roubalheira, tudo isso sem sentir qualquer constrangimento pelo fato de ter estado de mãos dadas com o tucanato nos últimos 5 anos. 

O problema é que Marquinhos fala como se estivesse num pedestal imaculado, puro e limpo como água benta na pia. O cinismo não tem limites. Uma pena.

Trad esquece que deve explicações sobre os casos de assédio e aliciamento sexual (definitivamente, não é armação...), suas relações nada ortodoxas com os Patrolas e Fenelons da vida, a bagunça no Proinc, do descontrole das contas publicas que promoveu, sem contar como se explica o padrão de vida altíssimo que leva apenas com os baixos salários de servidor da Assembléia Legislativa e agora como candidato a governador. 

Marquinhos só poderá levantar as mãos limpas quando, afinal, der transparência de como é a sua vida de andarilho solitário, um dos mistérios mais instigantes da vida política de Mato Grosso do Sul. 

Contar segue na mesma toada, com a mesma agressividade, numa outra linha de postura, mas igualmente errática, como a de mostrar que ele é o verdadeiro escolhido de Bolsonaro e os outros são oportunistas da velha política, fruto de um sistema carcomido, que flerta com o comunismo, não por apreço ideológico, mas por sanha para ganhar dinheiro e poder. 

Dizem que Contar é aquele dronão teleguiado por uma publicitária maluca. A referência maldosa se faz em relação à sua esposa, Iara Diniz, candidata a deputada estadual pelo PRTB, uma socialite que acumula fortuna declarada de quase R$ 15 milhões, e que tem mais de 50 capivaras na justiça.  

Contar terceiriza suas pancadas pela esgotosfera e é chegado a uma teoria conspiratória. Tem uma equipe de fanáticos que deve fazer inveja aos fascistas mais famosos da história.

Se fosse um sujeito normal, devia estar no mesmo palanque de Eduardo Riedel, mas informações correntes, com grandes chances de serem verdadeiras, sussurradas pela assessoria da deputada Tereza Cristina, dão conta de que o próprio presidente Jair Bolsonaro, lá atrás, teria recusado a proposta de Contar quando indicou Iara Diniz para ser suplente de Tereca, e impôs o Tenente Portela em seu lugar. 

Hoje o cenário político em Mato Grosso do Sul sinaliza que teremos André e Riedel no segundo turno. Ambos mantêm a orientação de fazer campanhas propositivas, sem ataques, mantendo os nervos de aço, desviando-se da artilharia pesada de Marquinhos e Contar, que parecem ter estabelecido estranha aliança em torno de teorias da conspiração, combatendo inimigos imaginários, colocando (no caso de Trad) advogadas amadoras para criar factóides.

Disso tudo soçobra o cheiro de ralo. Emanam miasmas de ressentimento e desespero. Trata-se de um capítulo tenebroso de nossa história política. O povo segue acompanhando, confuso e desinformado como sempre, mas talvez sentindo, parafraseando Shaskspeare, de que há algo de podre no Reino da Dinamarca.